Suspensão do X: profissionais reclamam da perda da comunidade científica da rede
Decisão de Moraes impede acesso de médicos, economistas e outros especialistas a sua lista de homólogos e pesquisadores do mundo inteiro
A médica Luciana Haddad, cirurgiã do departamento de transplante de fígado do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), lamentou a perda de acesso à comunidade científica que levou anos para desenvolver no X, antigo Twitter, suspenso no Brasil desde sábado, 31 de agosto, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, tomada na sexta-feira, 30, e chancelada pela Primeira Turma do STF na segunda-feira, 2 de setembro.
“Como reconstruir aqui a comunidade científica que levei anos para desenvolver no X? Lá, eu acompanhava os maiores pesquisadores do mundo… Será que eles também estão por aqui?”, questionou Luciana no Threads, o genérico do X embutido no Instagram, que nem de longe atrai a quantidade de especialistas e acadêmicos conectados mundialmente na rede social de Elon Musk, desafeto de Moraes.
“Não estão, infelizmente! 🙁 Estou sentindo muita falta também. Todo meu networking acadêmico era lá in English [em inglês]”, respondeu a também médica Carolina Batista, cirurgiã do aparelho digestivo pela USP.
“Estou passando pelo mesmo sofrimento e muito pessimista. Os perfis internacionais não estão aqui”, comentou o neurologista Christian Marques Couto.
“Eu só criei uma conta aqui baseado nessa expectativa, dra., era pra isso que eu tinha X. O pior é que não lembro de muitos que eu seguia lá”, acrescentou o médico Pablo Goulart.
“Eu sinto tanta falta do engajamento do X. Antes as discussões trazidas pelo algoritmo eram super encaixadas no que eu acompanho. A minha bolha do @econtwitter. Aqui posto e me sinto florido, porque parece que ninguém veio”, atestou o economista Italo Faviano.
Isolados do mundo
Outros usuários, novatos no Threads, reforçaram os lamentos.
“Eu também tive este prejuízo na minha atividade! Perdi 10 anos de seleção de fontes preciosas!”, escreveu Paulo Lomando.
“É tão chato, usava a plataforma para trabalhos sérios junto à comunidade acadêmica de IA internacional”, lamentou o perfil Gayatri Valley.
“Os [pesquisadores] lá de fora, não [estão por aqui], fomos isolados do mundo”, concluiu o perfil Quem Sabe Mentoria.
Em outra publicação, Matheus Granjeiro, sócio de uma assessoria de imprensa de atletas de futebol, questionou, usando um emoji de angústia: “Alguém mais na abstinência do X?”
“Melhor local de infos de todo lugar do mundo, não tem jeito”, sentenciou a jornalista esportiva Raisa Simplic.
O Antagonista vem apontando o prejuízo de 20 milhões de brasileiros impedidos de acessar suas próprias listas de contatos, construídas em até 16 anos e usadas para fins pessoais e profissionais, com o monitoramento ágil de informações que o X possibilita em tempo real.
É um fato objetivo que Moraes e os três indicados de Lula na Primeira Turma do STF (Cristiano Zanin, Flávio Dino e Cármen Lúcia) tiraram de todos esses cidadãos o radar instantâneo que eles próprios customizaram ao longo do tempo para as comunidades científicas, corporativas, jornalísticas, intelectuais, artísticas e esportivas do mundo inteiro, isolando o Brasil do debate público internacional em diversas áreas, ou, no mínimo, retardando no país seu acompanhamento, e obrigando os prejudicados a reconstruir do zero os laços com suas fontes de conhecimento.
Resta saber se Kassio Nunes Marques, que ficou responsável pelas contestações apresentadas pelo Partido Novo e pela Ordem dos Advogados do Brasil, e o Senado Federal, que tem o dever constitucional de fiscalizar o STF, vão atuar para devolver o patrimônio social de 20 milhões de brasileiros e reinseri-los no maior universo virtual de suas respectivas especialidades e das discussões contemporâneas.
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