Se quiserem preservar a Amazônia, os governos da Europa têm de assinar o acordo com o Mercosul
Os ingênuos estão comprando a balela de que os governos europeus, como os de Emmanuel Macron eAngela Merkel, poderão deixar de ratificar o acordo de livre-comércio da União Europeia com o Mercosul, negociado no ano passado, apenas por causa da destruição da Amazônia, que os ambientalistas denunciam ter sido acelerada desde que Jair Bolsonaro se tornou presidente do Brasil...
Os ingênuos estão comprando a balela de que os governos europeus, como os de Emmanuel Macron e Angela Merkel, poderão deixar de ratificar o acordo de livre-comércio da União Europeia com o Mercosul, negociado no ano passado, apenas por causa da destruição da Amazônia, que os ambientalistas denunciam ter sido acelerada desde que Jair Bolsonaro se tornou presidente do Brasil.
Não há dúvida de que a política brasileira em relação à Amazônia conta muito para criar grande desconforto da parte da União Europeia, mas o fator econômico pesa como nunca. O saldo comercial em favor do Brasil tem sido uma constante e o acordo de livre comércio tende a aumentar o déficit europeu. As pressões internas do setor agrícola, principalmente na França, são enormes para que o acordo não seja ratificado, por receio de que a concorrência brasileira piore ainda mais a situação de uma agricultura fertilizada com subsídios. As indústrias também temem que haja uma inversão em relação ao que ocorre tradicionalmente, e o Brasil passe a exportar mais bens industriais do que a importá-los da Europa.
Toda essa resistência ao acordo aumentou com a pandemia, que puxou para a casa dos dois dígitos as quedas do PIB de Alemanha, França e Itália, as maiores economias do bloco europeu. Num cenário de quebradeira geral, competidores estrangeiros sem obstáculos fiscais são ainda menos bem-vindos — já bastam os atritos criados pela união alfandegária no próprio continente.
Não se trata de subestimar a questão ecológica, importantíssima, mas a verdade é que a assinatura do acordo, que contém um capítulo ambiental duro, será mais benéfico para a Amazônia do que sua não assinatura. Exigiria cuidados extras da parte do Brasil, que estaria sob vigilância mais intensa e risco de retaliações pesadíssimas no caso de não cumprimento. Além disso, o livre-comércio com parceiros ricos tende a incrementar o desenvolvimento brasileiro como um todo e seria um ótimo caminho para proporcionar atividade sustentável a quem hoje só resta desmatar para sobreviver.
Se quiserem mesmo ajudar a preservar a Amazônia, os governos europeus têm de suportar as pressões internas e ratificar o acordo com o Mercosul. Bolsonaro passará, assim como as dificuldades advindas da pandemia; o Brasil e a floresta ficarão. Com que tamanho, cabe também à Europa decidir.
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