Revogação da reforma trabalhista é discurso oportunista, diz advogado Revogação da reforma trabalhista é discurso oportunista, diz advogado
O Antagonista

Revogação da reforma trabalhista é discurso oportunista, diz advogado

avatar
Gabriela Coelho
7 minutos de leitura 06.02.2022 10:00 comentários
Brasil

Revogação da reforma trabalhista é discurso oportunista, diz advogado

Na quarta-feira (9), o plenário do Supremo Tribunal Federal vai retomar o debate para saber se as empresas podem ou não demitir por justa causa o trabalhador que não se vacinar contra a Covid...

avatar
Gabriela Coelho
7 minutos de leitura 06.02.2022 10:00 comentários 0
Revogação da reforma trabalhista é discurso oportunista, diz advogado
Divulgação

Na quarta-feira (9), o plenário do Supremo Tribunal Federal vai retomar o debate para saber se as empresas podem ou não demitir por justa causa o trabalhador que não se vacinar contra a Covid. 

Ano passado, o caso foi levado para julgamento no plenário virtual, modalidade na qual os ministros depositam os votos eletronicamente, sem necessidade de reunião presencial. Após o relator e os ministros Alexandre de Morares, Edson Fachin e Cármen Lúcia votarem a favor da suspensão, o ministro Nunes Marques pediu destaque do processo, e o julgamento prosseguirá no plenário presencial.

Para o advogado trabalhista Maurício Corrêa da Veiga (foto), a tendência é a de que a Corte julgará de acordo com o princípio da legalidade, tendo em vista que a matéria em destaque não poderia ser objeto de Portaria, mas de lei ordinária.

“Portanto, existe um óbice legislativo inicial. Se avançarem para o mérito, a tendência será a de tornar inválido o teor da Portaria e autorizar a demissão do trabalhador que não tiver tomado vacina contra a Covid”, diz.

Veiga afirma também que o “teletrabalho precisar ser melhor regulamentado no Brasil, com direito à desconexão em períodos de folga e reembolso de custos operacionais”.

O advogado também diz não acreditar em revogação da reforma trabalhista. “Além disso, é oportunista este discurso que tem claro viés eleitoreiro. Poderiam falar em aprimoramentos, mas falar em revogação é retórica populista que nada ajuda na construção de um diálogo”, diz. 

Leia a íntegra da entrevista: 

Em uma jogada considerada por especialistas política, o ministro Nunes Marques, ao pedir destaque, conseguiu “zerar” a votação sobre a validade da demissão quando o funcionário se nega a tomar vacina contra a Covid. Na sua opinião, como a Corte vai agir? Seguirá o entendimento anterior, de que as empresas podem tomar essa decisão, ou vai formar maioria contra isso?

A tendência é a de que a Corte julgará de acordo com o princípio da legalidade, tendo em vista que a matéria em destaque não poderia ser objeto de Portaria, mas de lei ordinária. Portanto, existe um óbice legislativo inicial. Se avançarem para o mérito, a tendência será a de tornar inválido o teor da Portaria e autorizar a demissão do trabalhador que não tiver tomado vacina contra a covid-19. Importante lembrar que no final de 2021, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, atendeu ao pedido feito por partidos políticos e determinou a suspensão do dispositivo que proibia a exigência de comprovante de vacinação na contratação ou para continuidade do vínculo de emprego. Além disso, também ficou suspensa a parte da norma que considerou prática discriminatória a solicitação do cartão de vacinação e a demissão por justa causa pela falta do documento. Diante dos votos que já foram adiantados (apesar de ser necessária a reiteração desses), tudo indica que esta determinação deverá prevalecer.

Caso o plenário vote contra o direito das empresas de demitirem funcionários que optam por não se vacinar, o que acontecerá com as demissões que já aconteceram? O funcionário poderá tentar recuperar o trabalho, ou exigir os direitos caso tenha sido por justa causa?

Particularmente entendo serem remotas as chances de uma votação que convalide as disposições da Portaria, atém mesmo porque, os votos que foram computados no plenário virtual demonstravam a tendência de suspender os dispositivos da Portaria. Entendo que o funcionário deveria se vacinar antes de buscar quaisquer direitos. Na hipótese de uma eventual reclamação trabalhista a reintegração do funcionário será medida temerária e o máximo que poderá acontecer é a reversão da demissão por justa causa em dispensa simples, ocasião na qual o empregador deverá pagar as verbas rescisórias como se tivesse demitido o empregado sem justa causa. Porém, reitero, é pouco provável que isso ocorra.

Como tem sido o trabalho da advocacia/justiça trabalhista nesta pandemia?

Felizmente os Tribunais conseguiram se adaptar de forma muito célere e permitir os julgamentos telepresenciais que democratizaram o acesso à justiça. A advocacia em primeira instância foi a que mais sofreu, tendo em vista os contratempos naturais que envolvem a realização de uma audiência com oitiva de partes e testemunhas. Tive notícias de muitos escritórios de pequeno porte que não resistiram, o que é de se lamentar. Por outro lado, é de se destacar o esforço de magistrados e servidores que asseguraram a entrega da prestação jurisdicional neste período tão triste da história mundial no qual muitas vidas foram perdidas. Toda essa revolução da informática acabou por antecipar inúmeras medidas como, por exemplo, a possibilidade da realização de sustentações orais por videoconferência que provavelmente permanecerão nos Tribunais mesmo após o fim da pandemia. Trata-se de medida que deve ser comemorada, pois além de democratizar o acesso à justiça e aos tribunais superiores, evita que o cliente tenha gastos que poderiam ser evitados, como passagens e hospedagens que muitas das vezes eram repetidas em razão de adiamento de julgamentos ou até mesmo pedidos de vista. Por fim, evita o deslocamento dos advogados.

O avanço da Ômicron fez com que algumas empresas voltassem ao homeoffice e outras não. Como o senhor avalia a postura de empregadores e empregados?

Esta nova variante tem demonstrado ser muito contagiosa e em que pese ser menos agressiva, o número de óbitos ainda assusta. Portanto, é fundamental esta ponderação e havendo possibilidade, o trabalho remoto deve ser privilegiado. O teletrabalho precisar ser melhor regulamentado no Brasil, com direito à desconexão em períodos de folga e reembolso de custos operacionais, tal qual ocorreu em Portugal. A utilização da negociação coletiva pode ser um bom instrumento para assegurar direitos (e também deveres) e suprir as lacunas existentes na legislação brasileira.

Sobre as eleições de 2022, o PT tem falado em revogar a reforma trabalhista. O senhor acredita em revogação?
Não acredito em revogação da reforma trabalhista. Além disso, é oportunista este discurso que tem claro viés eleitoreiro. Poderiam falar em aprimoramentos, mas falar em revogação é retórica populista que nada ajuda na construção de um diálogo. Importante frisar que a reforma trabalhista não pode ser pensada como geradora de empregos, pois estes não surgem com a aprovação de leis. A reforma teve o objetivo de desburocratizar contratações e adotar condições para o aquecimento da economia e o consequente aumento dos empregos. Entretanto, ainda não teve tempo hábil de maturação, pois logo após a aprovação da reforma e os julgamentos do STF que a declararam constitucional, veio a pandemia. Contudo, tecnicamente a revogação da reforma trabalhista é possível, tendo em vista que foi introduzida no ordenamento jurídico por meio de lei ordinária. Logo, lei ordinária superveniente, apesar de indesejável, poderia revoga-la. A propósito, em 2017 o Senador Paulo Paim foi o responsável por um projeto de lei cujo artigo 1º revogava expressamente a reforma trabalhista.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Justiça eleitoral forma maioria para cassar mandato de Zambelli

Visualizar notícia
2

Mendonça vira voto vencido em recurso de Bolsonaro contra Moraes

Visualizar notícia
3

Esposa de Dino é secretária de deputado, cuja mulher foi assessora de Dino

Visualizar notícia
4

Crusoé: Os interesses conflitantes expostos pela internação de Lula

Visualizar notícia
5

Transparência Internacional reage a decisão de Toffoli baseada em fake news

Visualizar notícia
6

Crusoé: Deputado aciona PGR sobre “wokeduto da Petrobras”

Visualizar notícia
7

Governador do Maranhão desafia Moraes e nomeia irmão para secretaria

Visualizar notícia
8

Meta: “Nenhuma grande democracia” tem regime sugerido por STF

Visualizar notícia
9

STF condena Roberto Jefferson a 9 anos de prisão

Visualizar notícia
10

Crusoé: Maduro prende militar argentino acusado de espionagem

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Um "press release" do STF para a J&F

Visualizar notícia
2

Um Lugar Silencioso: Dia Um - Confira onde assistir o spin-off de terror

Visualizar notícia
3

É definitivo! Rodrigo Faro desmonta camarim e se despede da Record

Visualizar notícia
4

"Atropelo das normas", diz Mourão sobre prisão de Braga Netto

Visualizar notícia
5

Itália concede cidadania a Javier Milei

Visualizar notícia
6

Lula, empresários fraternos e bilhões sob conflito de interesses

Visualizar notícia
7

Golpes em pagamentos por aproximação: Saiba como evitar

Visualizar notícia
8

Assessor de Braga Netto também é alvo de operação da PF

Visualizar notícia
9

Confira agora os golpes mais comuns nas compras de Natal e saiba como evitar

Visualizar notícia
10

Moraes multa Marcos do Val por discurso repostado por terceiro

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

demissão Maurício Corrêa da Veiga não vacinados reforma trabalhista [stf trabalhista
< Notícia Anterior

Santos Cruz: “Não existe ‘continuação’ dos militares com Bolsonaro”

06.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Relatório da CPI da Covid completa 100 dias na gaveta de Aras

06.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Gabriela Coelho

É jornalista formada pelo UniCEUB, em Brasília. Tem especialização em gestão de crise e redes sociais. Passou pelas redações do Jornal de Brasília, Globo, Revista Consultor Jurídico e CNN Brasil. Conhece o mundo do Judiciário há alguns anos, desde quando ainda era estagiária do TSE. Gosta dessa adrenalina jurídica entre pedidos e decisões. Brasiliense, cobriu as eleições nacionais de 2010, 2014 e 2018 e municipais de 2012 e 2020.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

PF: Braga Netto usou sacola de vinho para repassar dinheiro a “kid preto”

PF: Braga Netto usou sacola de vinho para repassar dinheiro a “kid preto”

Visualizar notícia
FGTS 14/12: Conheça diversas formas de consultar seu saldo e suas vantagens

FGTS 14/12: Conheça diversas formas de consultar seu saldo e suas vantagens

Visualizar notícia
Braga Netto procurou pai de Cid para obter dados sigilosos, diz PF

Braga Netto procurou pai de Cid para obter dados sigilosos, diz PF

Visualizar notícia
Alerta do Inmet para tempestades no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil

Alerta do Inmet para tempestades no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.