
Pochmann faz exatamente o que se temia e assombra IBGE
Presidente do IBGE menciona China em discurso e fala em mudança na relação com os "meios de comunicação tradicional"
O Papo Antagonista apontou em 26 de julho os riscos da indicação de Marcio Pochmann (foto, ao centro) para a presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita por Lula. Eles também foram apontados neste portal.
O ideólogo desenvolvimentista que, entre 2007 e 2012, transformou o IPEA em órgão de propaganda governamental ataca o que chama de “deformas” trabalhista e previdenciária, o “receituário neoliberal” do Banco Central e a “privatização neoliberal” da Eletrobras — quatro fatores de melhora da nota de crédito do Brasil.
Como explicamos, a escolha de um defensor do aumento de gastos públicos, com esse histórico, turbinou a preocupação não só em relação à responsabilidade fiscal, mas também à manipulação de dados da inflação, a exemplo do que fizeram os Kirchner, aliados de Lula, na Argentina, ao instrumentalizar o Indec, equivalente do IBGE no país vizinho.
A confirmação dos piores temores sobre o futuro do IBGE veio em artigo publicado em 12 de novembro. Martha Mayer, ex-diretora de pesquisas do instituto, no qual atuou de 1999 a 2004, chamou atenção no Globo para uma palestra de Pochmann.
A decisão de Lula de indicar Marcio Pochmann para a presidência do IBGE e a entrevista da Folha com Todd Martinez, diretor sênior da Fitch, confirmam que a nota de crédito do Brasil melhorou apesar do PT: https://t.co/f31Mcqk6tg.
Leia o artigo completo no link. pic.twitter.com/yGKhJvLNtF
— Felipe Moura Brasil (@FMouraBrasil) July 27, 2023
“A palestra de Marcio Pochmann em 24 de outubro revelou não se tratar de um plano técnico para melhorar as estatísticas, e sim de ideias para mudar a relação do IBGE com a população e com a imprensa: mudar tudo isso que está aí, porque o mundo é outro”, relatou Mayer, que integra a Comissão Consultiva do Censo Demográfico, no artigo intitulado “IBGE 90 Anos: é preciso abrir os olhos”. O título alude ao nome que Pochmann deu a sei projeto de gestão, “IBGE 90 anos”.
A ex-diretora afirmou que Pochmann mostrou desconhecer a estrutura e o estatuto do instituto, ao dizer que “a estrutura verticalizada, hierárquica e autoritária do IBGE ficou para trás”. “Ignorou que o trabalho do IBGE, pela diversidade de temas, exige participação intensa dos técnicos no processo decisório. É, por natureza, democrático. Em todo grupo de especialistas há divergências, e não se pode fazer pesquisa com duas metodologias. A escolha de uma delas não significa autoritarismo”, analisou Martha.
Ela apontou ainda que Pochmann usou a China como exemplo ao citar “o deslocamento do centro dinâmico do mundo para o Oriente”. Martha rebateu o presidente do IBGE, na sequência: “Em agosto, a China suspendeu a divulgação das estatísticas do desemprego juvenil, na linha ‘dado ruim não se divulga’. Não é exemplo a seguir.”
Nesta quarta-feira, 15, O Globo revelou mais trechos do discurso de Pochmann, que foi transmitido ao vivo pelo YouTube, mas agora está no modo “não-listado”, o que significa que o conteúdo não está exposto para o público geral e só pode ser acessado por quem tiver acesso direto ao link do vídeo.
“A comunicação do passado era aquela que (sic) o IBGE produzia as informações e os dados, fazia uma coletiva e transferia a responsabilidade para o grande público através dos meios de comunicação tradicional (sic). Isso ficou para trás”, disse Pochmann, em declaração reproduzida por O Globo. Ele não entrou em detalhes sobre a estratégia que será adotada.
Segundo O Globo, o discurso de Pochmann provocou desconforto entre técnicos pelo que eles próprios classificaram como “politização” da gestão do IBGE.
Não foi por falta de aviso.
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