O inquérito do fim do mundo é mesmo o fim do mundo
Na sua última edição, a Crusoé publicou uma reportagem de Rodrigo Rangel e Luiz Vassallo que mostra como o inquérito do fim do mundo foi usado para que o STF obtivesse informações sobre como ministro da corte apareciam nas investigações da Lava Jato: "Documentos sigilosos do inquérito mostram que, logo após vir a público o documento em que Marcelo Odebrecht dizia ser Dias Toffoli o 'amigo do amigo de meu pai', os encarregados do inquérito, por ordem de Alexandre, iniciaram uma corrida. Queriam descobrir o que mais tinha sobre Toffoli no material em poder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que havia tido acesso a e-mails até então inéditos trocados por executivos da Odebrecht. A medida, ao menos em tese, não guardava relação com o objetivo do inquérito, que nas palavras do próprio Toffoli, na portaria que o instaurou, deveria apurar fatos e infrações relacionadas a 'notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus calumniandi, diffamandi e injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares'...
Na sua última edição, a Crusoé publicou uma reportagem de Rodrigo Rangel e Luiz Vassallo que mostra como o inquérito do fim do mundo foi usado para que o STF obtivesse informações sobre como ministro da corte apareciam nas investigações da Lava Jato:
“Documentos sigilosos do inquérito mostram que, logo após vir a público o documento em que Marcelo Odebrecht dizia ser Dias Toffoli o ‘amigo do amigo de meu pai’, os encarregados do inquérito, por ordem de Alexandre, iniciaram uma corrida. Queriam descobrir o que mais tinha sobre Toffoli no material em poder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que havia tido acesso a e-mails até então inéditos trocados por executivos da Odebrecht. A medida, ao menos em tese, não guardava relação com o objetivo do inquérito, que nas palavras do próprio Toffoli, na portaria que o instaurou, deveria apurar fatos e infrações relacionadas a ‘notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus calumniandi, diffamandi e injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares’.
Exatamente em 12 de abril de 2019, o dia da publicação da reportagem de capa de Crusoéque viria a ser censurada, nos autos do inquérito do fim do mundo o desembargador Cesar Mecchi Morales, magistrado a serviço do gabinete de Alexandre, despachou para Curitiba um ofício em que pedia ao delegado Filipe Pace, da Lava Jato, que remetesse para o STF uma cópia do inquérito onde estaria a mensagem relacionada a Toffoli. No documento, o magistrado dava ao delegado o prazo de 48 horas para enviar o material relacionado à investigação, ‘com todos os anexos, inclusive os sigilosos e termos de delação’. ‘Para preservar o caráter sigiloso do inquérito, solicito que a resposta seja encaminhada diretamente a este gabinete’, emendava o texto do despacho, enviado ao QG da Polícia Federal na capital paranaense.
Era sexta-feira, e aquele era um primeiro movimento do gabinete de Alexandre de Moraes para saber, por meio do polêmico inquérito, até que ponto ia a investigação e se dela poderiam constar fatos comprometedores em relação a Toffoli. O ministro, por óbvio, não era investigado, nem poderia ser. O que havia era a menção a seu nome no material. Conforme está registrado no anexo 2 do procedimento secreto sob a batuta de Alexandre, o delegado Pace enviou todo o material para Brasília no início da semana seguinte, em um pen drive, depois de levar a requisição do Supremo ao conhecimento do juiz do caso, Luiz Antônio Bonat. Bonat, claro, chancelou a remessa do material para o Supremo, realçando que alguns documentos dos autos estavam protegidos por ‘sigilo em maior grau de restrição’.”
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