O futuro de Jair Bolsonaro
Em artigo para O Antagonista, o cientista político Leonardo Barreto, diretor da Vector Research, avalia o discurso de ontem de Jair Bolsonaro. Para ele, o presidente sinalizou que tem intenção de liderar a oposição, "mobilizando as bases conservadoras para as eleições municipais de 2024 e, depois, para a disputa nacional de 2026"...
Em artigo para O Antagonista, o cientista político Leonardo Barreto, diretor da Vector Research, avalia o discurso de ontem de Jair Bolsonaro. Para ele, o presidente sinalizou que tem intenção de liderar a oposição, “mobilizando as bases conservadoras para as eleições municipais de 2024 e, depois, para a disputa nacional de 2026”.
Nesse sentido, segue o exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos. Mas a chance de sucesso é pequena. “Lá, Trump enfrenta processos judiciais que podem inviabilizar uma nova candidatura à presidência e o mesmo deve ocorrer com Bolsonaro.”
Leia a íntegra:
“Ao contrário do entendimento majoritário, de que o pronunciamento de Jair Bolsonaro foi curto e evasivo, é possível achar muitos recados importantes do ponto de vista da organização do sistema político brasileiro nos próximos quatro anos.
Para isso é fundamental contextualizar a fala com a notícia que foi publicada horas antes dizendo que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, teria oferecido a Bolsonaro um cargo na legenda a partir do qual ele continuaria liderando a oposição e mobilizando as bases conservadoras para as eleições municipais de 2024 e, depois, para a disputa nacional de 2026.
No discurso, Bolsonaro afirma que a direita saiu mais forte do que nunca e que é uma honra “liderar” os eleitores conservadores. O tempo presente do verbo que ele utilizou pode indicar que o presidente não se aposentará e permanecerá ativo após 1º de janeiro.
Do ponto de vista estratégico pessoal, isso faz sentido na medida em que, mantendo sua popularidade, ele permanece um alvo mais difícil para ações jurídicas. Ele já citou diversas vezes que teme o que ocorreu com a ex-presidente da Bolívia, Janine Añes, condenada a 10 anos de prisão após o retorno da esquerda no país. Assim, mantendo seus apoiadores mobilizados, pode aumentar o custo político de eventuais condenações que podem vir nos processos que irá responder com a perda do foro privilegiado.
No campo político, se ele se manter ativo e no PL, garante que o partido fará uma oposição sistemática e, acima de tudo, popular, tornando a vida do PT mais difícil nos próximos anos. Além disso, tem a probabilidade de manter o Republicanos e o PP fora do governo Lula também. Juntos, esses partidos somam 187 deputados e 24 senadores.
Fazendo uma comparação precária, Bolsonaro abriu uma porta para emular, no Brasil, o que o ex-presidente Donald Trump está realizando nos Estados Unidos, que continuou ativo para tentar retornar quatro anos depois. Lá, Trump enfrenta processos judiciais que podem inviabilizar uma nova candidatura à presidência e o mesmo deve ocorrer com Bolsonaro.
É importante entender a dimensão do que Bolsonaro pode estar prestes a fazer se decidir continuar na vida política: consolidar o espectro conservador e de direita da política brasileira, dificultar a política de atração de aliados no Congresso Nacional por parte do governo Lula e, assim, organizar uma oposição com forte base popular, se proteger de ações judiciais no nível individual e manter viva a polarização entre ele e o PT até 2026.”
*Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política (UnB) e diretor da Vector Research
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