“No lugar errado e na hora errada”, disse empresário sobre gari morto em BH
Polícia Civil reúne mensagens, vídeos e cronograma que apontam uso de arma 9 mm, pesquisas no celular e fuga um minuto após os tiros
Renê da Silva Nogueira Júnior, indiciado por homicídio duplamente qualificado, disse à esposa que o gari Laudemir de Souza Fernandes estava “no lugar errado e na hora errada” após o crime de 11 de agosto em Belo Horizonte.
Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, mensagens e registros telefônicos recuperados no inquérito mostram que o empresário tentou orientar a entrega de uma arma diferente para as autoridades e sustentar uma versão de que não teria atingido ninguém.
De acordo com a investigação, Nogueira escreveu à esposa, delegada, logo depois dos disparos: “Entrega a nove milímetros. Não pega a outra. A nove milímetros não tem nada”.
A “outra” era a pistola .380 apontada como utilizada no homicídio. Em seguida, enviou “Estava no lugar errado na hora errada. Amor, eu não fiz nada”. A Polícia Civil afirma que a sequência indica tentativa de obstrução e de minimizar o ato.
O inquérito detalha a cronologia por câmeras e dados veiculares: às 9h07 de 11 de agosto, o carro do investigado acessa a rua onde a equipe de limpeza atuava; às 9h09, a vítima aparece baleada; às 9h10, o veículo deixa o local.
A corporação acrescenta que, após sair da cena, Nogueira manteve a rotina, foi ao trabalho, retornou para casa, guardou a arma e seguiu para a academia, onde foi preso em flagrante pela Polícia Militar.
Peritos e investigadores analisaram o celular do empresário e encontraram pesquisas com os termos “gari morto” e o nome da via do crime, feitas logo após os disparos.
Segundo a Polícia Civil, essas consultas enfraquecem a alegação de que ele não teria percebido o atingimento. Há também registros de mensagens apagadas, o que, conforme a autoridade policial, dificultou concluir se a esposa tinha ciência prévia da prática criminosa.
Testemunhas reconheceram o autor “pelo tipo físico”, e os investigadores afirmam que não houve conflito com os garis que justificasse reação descontrolada.
Em 18 de agosto, uma semana após negar a autoria em depoimento inicial e alegar “trânsito incomum”, Nogueira confessou ter atirado após discussão de trânsito, segundo a polícia. Ele disse que a esposa “não tinha conhecimento de que ele pegou a arma dela”.
A investigação também reuniu material audiovisual que aponta padrão de uso e exibição de armas. Conforme a Polícia Civil, foram achadas imagens em que o empresário dispara com armamento antigo, exibe pistolas e mostra o distintivo da esposa.
Mensagens de dias anteriores indicam o porte frequente: em 8 de agosto, três dias antes do homicídio, ele escreveu: “Precisamos andar armados, amor”.
A corporação indiciou Nogueira por homicídio duplamente qualificado, porte ilegal de arma e ameaça.
As penas previstas podem somar até 35 anos, conforme o inquérito.
A esposa, delegada, foi indiciada por porte ilegal de arma por “ceder” ou “emprestar” equipamento, com previsão de 2 a 4 anos e aumento de 50% por ser servidora pública, segundo a polícia.
O inquérito se baseou em provas testemunhais, interrogatórios, perícias, vídeos de câmeras, dados da montadora do veículo e extrações do celular do investigado.
A Polícia Civil diz que o conjunto confirma a autoria e a dinâmica descrita na cronologia.
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