Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada
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Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 05.01.2022 17:31 comentários
Brasil

Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada

Embora seja assinado por Guido Mantega, o artigo sobre economia publicado nesta quarta-feira (5), pela "Folha de S. Paulo", é obra de um comitê. Uma nota no fim do texto explica que ele resulta “das discussões de um grupo de economistas que assessoram o ex-presidente Lula”. Assim, mais do que ideias pessoais, o texto expressa a visão do PT sobre a economia, e aquilo que o partido gostaria de implementar caso chegue à presidência. É um desvario coletivo...   

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Carlos Graieb
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Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

Embora seja assinado por Guido Mantega (foto), o artigo sobre economia publicado nesta quarta-feira (5) pela “Folha de S. Paulo” é obra de um comitê. Uma nota no fim do texto explica que ele resulta “das discussões de um grupo de economistas que assessoram o ex-presidente Lula”. Assim, mais do que ideias pessoais, o texto expressa a visão do PT sobre a economia, e aquilo que o partido gostaria de implementar caso chegue à presidência. É um desvario coletivo. 

O que primeiro salta à vista é a desonestidade intelectual. Como observou logo cedo O Antagonista, o artigo faz de conta que a pior recessão na história brasileira não aconteceu nos dois últimos anos de governo de Dilma Rousseff, por causa, em grande medida, de políticas implementadas por Mantega como Ministro da Fazenda.

“Entre 2019 e 2022, o PIB brasileiro terá um crescimento médio de 0,5% ao ano”, escreve o comitê petista. Até aí, tudo certo. Paulo Guedes, aquele gênio, já não pode mesmo escapar da sina de ter uma economia capenga, com crescimento miserável, associada à sua passagem pelo Planalto. 

Mas aí os economistas resolvem ser irônicos, e observam que esse resultado é apenas “um pouco melhor do que o decréscimo médio de -0,13% ao ano do governo Temer, entre 2016 e 2018.” O tom de empáfia é descabido, porque essa fase tenebrosa da economia brasileira começou em 2014, quando o PT governava. 

Segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Cedace), o Brasil entrou em recessão no segundo trimestre de 2014 e só foi sair dela no quarto trimestre de 2016. Lembremos que Dilma foi afastada da presidência com a abertura do processo de impeachment, em 12 de maio de 2016, e perdeu o cargo definitivamente em 31 de agosto do mesmo ano. 

Em 2014, o PIB real do país teve um pequeno crescimento, de 0,5%. Mas 2015 e 2016 foram calamitosos, com retração de 3,8% no primeiro e 3,5% no segundo ano. Antes disso, só em 1930 e 1931 o PIB nacional havia sofrido contração em dois anos consecutivos, da ordem de 2,1% e 3,3%, respectivamente.  

Existe uma maneira honesta de discutir a recessão do segundo mandato de Dilma? Existe. Ainda hoje os economistas debatem qual a contribuição das causas externas e qual a da “nova matriz econômica” de Mantega & Cia. no drama daquela época. 

O que não dá é para fingir que o PT não tem nada a ver com nossa penúria atual. A certa altura do artigo, o coletivo petista afirma que o PIB de 2022 vai retroceder aos valores de 2013, atribuindo esse feito a uma “herança maldita” de Guedes e Bolsonaro. Está errado. A herança maldita vem de 2014.  O bolsonarismo contribuiu com sua incompetência para impedir que as coisas melhorassem. 

A boa história econômica que o PT pode contar é aquela do primeiro mandato de Lula. Mas, surpreendentemente, todas as soluções que o artigo dos petistas oferece para os próximos anos vêm da famigerada nova matriz econômica. Ou seja, não são soluções.

O artigo critica o aumento dos juros pelo qual o Banco Central, neste momento, procura levar a inflação, de mais de 10% ao ano, para cerca de 6% ao ano no segundo semestre de 2022. Segundo o texto, “a política monetária deve manter a inflação sob controle, sem exagerar na dose de juros”. 

Isso é mistificação. Ou o BC controla a inflação ou não controla, e a sua ferramenta para fazer isso é a taxa de juros. O que o comitê de destruição econômica do PT está dizendo, na verdade, é que pretende tolerar “um pouco mais de inflação”, ou conter artificialmente alguns preços, exatamente como fez na época da nova matriz econômica. Também está subentendida a ideia de que o governo deve poder controlar as decisões do BC – o que implica comprar uma briga e tanto para revogar a autonomia recém-conquistada pela instituição.

O texto fala ainda em “coordenar um ambicioso plano de investimentos públicos e privados” e em “retomar as políticas industriais”. Mais uma vez, isso tudo remete ao passo recente, aos tempos de Dilma, quando o PT distorceu mercados para favorecer alguns “campeões nacionais” e tentou criar indústrias na marra com uma estratégia de conteúdo doméstico para produtos industrializados. É dirigismo estatal, que não deu certo da primeira vez, nem dará num futuro hipotético.  

No final, a leitura do artigo produzido pelo comitê de destruição econômica do PT traz duas razões por que Lula e seu partido não devem voltar ao poder. A primeira é que eles despenderão uma energia enorme tentando reescrever a história. O Brasil precisa de um governo comprometido com o futuro, e não de um governo obcecado com a reinvenção do passado. 

A segunda razão é que os economistas do PT não aprenderam nada, e também não esqueceram nada nos últimos anos.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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