Lula prendeu o PT e jogou a chave da cadeia fora
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tentou relativizar a derrota acachapante do partido nas eleições municipais. Ela disse: "O PT venceu em 4 de 15 cidades no 2º turno (Contagem, Juiz de Fora, Diadema e Mauá) e teve mais de 40% dos votos em 9. Vencemos com o PSOL em Belém, lutamos ao lado de Boulos e Manuela. E o Brasil viu o que fizeram para barrar Marília em Recife. O PT segue junto com o povo"...
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tentou relativizar a derrota acachapante do partido nas eleições municipais. Ela disse: “O PT venceu em 4 de 15 cidades no 2º turno (Contagem, Juiz de Fora, Diadema e Mauá) e teve mais de 40% dos votos em 9. Vencemos com o PSOL em Belém, lutamos ao lado de Boulos e Manuela. E o Brasil viu o que fizeram para barrar Marília em Recife. O PT segue junto com o povo”. E continuou: “O 2º turno mostrou que a esquerda sabe lutar. Nosso desempenho nas grandes cidades e a unidade q construímos em tantas delas confirma q temos uma alternativa para o Brasil. Parabéns à militância pela garra, num cenário tão difícil”.
A decadência do PT, que pela primeira vez não elegeu um prefeito de capital desde a redemocratização, deve-se a uma escolha: entre defender princípios e defender Lula, optou pelo segundo. Aliás, é de se duvidar até mesmo da possibilidade de escolha, uma vez que o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro se comporta como dono do partido. E proprietários costumam colocar gente de confiança para administrar o que é seu, caso de Gleisi Hoffmann.
Lula e os seus seguidores acreditam que, se o Supremo Tribunal Federal declarar Sergio Moro suspeito e livrar o chefão petista das condenações que lhe foram impostas no âmbito da Lava Jato, o PT voltará a ser do mesmo tamanho da época em que venceu as eleições presidenciais. É muito mais fantasia do que realidade. Se vier a ser absolvido pelo STF, isso não significa que Lula deixará de ser culpado aos olhos da nação. A maior parte dos brasileiros poderá vê-lo apenas como mais um integrante da elite política que contou com o beneplácito de ministros de um tribunal superior.
Há ainda o escândalo do mensalão. Lula escapou de ser punido nas urnas quando a maracutaia gigante veio à tona, mas a roubança na Petrobras ressuscitou a memória do escândalo anterior. É preciso levar em conta também que Dilma Rousseff foi alvo de impeachment, por maquiar as contas do governo federal com as pedaladas fiscais e, assim, conseguir reeleger-se. Pedaladas fiscais são de difícil entendimento; recessão e baixo crescimento são facílimos de entender. Ninguém jamais perdeu dinheiro subestimando a capacidade de esquecimento dos brasileiros, mas como a crise iniciada por Dilma Rousseff continua pesada nas costas dos cidadãos, e infelizmente os seus reflexos deverão durar por longo tempo, fica impossível contar com a amnésia coletiva.
A idade também pesa. Lula terá 77 anos em 2022, e num país como o Brasil será milagre se ele for capaz de mobilizar o eleitorado jovem de esquerda, para o qual o PT é apenas sinônimo de corrupção e que se entusiasma mesmo é com figuras como a do serelepe Guilherme Boulos, um socialista mais raiz — e que talvez tivesse obtido melhor votação em São Paulo se não tivesse participado daquela palhaçada em São Bernardo, no dia da prisão de Lula. Sem novos nomes, com um Fernando Haddad se prestando ao triste papel de poste em 2018, os petistas perderam a hegemonia no seu campo político.
Para fugir da Justiça, Lula fechou os petistas naquele quarto da Superintendência Federal de Curitiba. A esta altura, um improvável mea culpa dos companheiros pelos crimes cometidos por seu líder soará como desespero — e desespero inconvincente como o de presidiários que juram inocência. Lula prendeu o PT e jogou fora a chave da prisão. Com Gleisi Hoffmann na presidência do partido, a chance de alguém conseguir abrir a porta da cadeia é ainda mais remota. Na verdade, é nula.
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