Leonardo Barreto na Crusoé: “Lira tem dois senhores”
Há um comportamento dúbio do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está se refletindo na forma como as agendas econômicas de interesse do governo caminham em Brasília, diz Leonardo Barreto na Crusoé...
Há um comportamento dúbio do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está se refletindo na forma como as agendas econômicas de interesse do governo caminham em Brasília, diz Leonardo Barreto na Crusoé.
“O caso da Medida Provisória (MP) 1185, que o governo escolheu como vital para sua sobrevivência fiscal em 2024, ilustra exemplarmente como não é possível julgar nem livros e nem políticos pela capa e como a governabilidade no Brasil caminha no fio da navalha.”
“A medida é complexa e envolve a cobrança de tributos sobre isenções fiscais estatuais. Mas essa questão é apenas o pano de fundo para entender o equilíbrio – precário – das relações entre Executivo e Legislativo nos dias de hoje. Considerando que a MP é impopular, pois aumenta impostos, e entendendo que o governo não tem base consolidada, sabe-se que sua aprovação só é possível a partir da ação da cúpula do Congresso.”
“A partir daí começa um fluxo de sinais trocados que confunde quem observa de fora. No início da semana, Lira ‘fala informalmente’ com jornalistas listando uma sério de problemas na MP e no status da relação entre o governo e o Congresso, da falta de cumprimento de acordos, dificuldades do texto e coloca em dúvida o cronograma. Nos bastidores, no entanto, técnicos da Câmara afirmam que a negociação, feita diretamente entre o gabinete de Lira e o de Fernando Haddad, caminha muito bem, obrigado, e que um consenso está próximo.”
“Analistas mais apressados podem dizer, num contexto puramente venal, que Lira está valorizando seu passe e formando preço político. É isso também, mas há algo mais sutil e sofisticado que indica um trabalho de equilibrista.”
“O fato é que Lira tem dois senhores. Um é o deputado mediano da Câmara, que é um sujeito que, embora seu partido esteja formalmente no governo, tem dificuldade de se comportar como governista porque seu eleitor é originalmente mais conservador. O outro é o governo, que controla os recursos que são combustível político que Lira usa exercer influência sobre seus pares, como cargos, timing de liberação de emendas e capacidade de aprovar interesses em políticas públicas.”
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