Leonardo Barreto na Crusoé: A perturbada política brasileira
"Fora os Bolsonaros, Lulas, Liras, Pachecos, Dinos e Barrosos da vida, o que é possível dizer sobre o espírito do sistema político brasileiro? Embora o noticiário foque nos personagens, em política, a forma como...
“Fora os Bolsonaros, Lulas, Liras, Pachecos, Dinos e Barrosos da vida, o que é possível dizer sobre o espírito do sistema político brasileiro? Embora o noticiário foque nos personagens, em política, a forma como o palco está organizado é tão ou mais importante do que as interpretações individuais”, escreve Leonardo Barreto da edição especial de fim de ano de Crusoé.
O ensaio, intitulado “O perturbado e dividido sistema político brasileiro”, segue:
“Há forças que delimitam o papel de cada um e a elas se dá o nome de instituições, ou regras do jogo, que são formadas a partir da interação de muitos eventos, tantos que, muitas vezes, é impossível isolar uma causa. É por isso que se diz que nenhuma ocorrência política é resultado de apenas um fator.
Nesse sentido, os Lulas e Barrosos não são comandantes da história, mas seu produto. Isso não significa que os líderes não possuem valor. Como Maquiavel ensinou, o príncipe virtuoso é exatamente aquele que melhor sabe lidar com suas circunstâncias, isto é, com aquela (grande) parte da vida que não se controla. Se estão ali é porque trabalharam duro e souberam dançar conforme a música.
Dito isso, é possível ver três grandes correntezas institucionais direcionando o sistema político: democratização, parlamentarismo e judicialismo. Elas não correm paralelamente, mas se cruzam, se alimentam e se esvaziam, criando ondas que, se bem interpretadas, ora levam a uma conjuntura, ora a outra.
A primeira é a democracia, não como regime político, de um sistema que prevê eleições regulares e mecanismos de proteção da liberdade individual, mas como disputa de visão de mundo. Apesar de o debate ideológico e radicalização não serem fenômenos novos, a capilaridade do debate e o acesso à arena pública têm sido brutalmente impulsionados pelas redes sociais.
O resultado tem sido a introdução de novos personagens no sistema político, como Nikolas Ferreira (PL/MG), youtuber e deputado federal mais votado da história de Minas Gerais, e o estímulo para que parlamentares eleitos nas franjas mais radicais permaneçam assim no exercício do mandato. Por se encontrarem sob intensa vigilância das redes, qualquer transação para o outro lado ou mesmo para o centro é imediatamente punida, com consequência posterior nas urnas, como experimentou a ex-deputada Joice Hasselmann, que caiu de mais de 1 milhão de votos em 2018 para pouco mais de 13 mil em 2022 após ser vista como traidora do bolsonarismo.”
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