Lava Jato desfez invisibilidade de corruptos
Neste sábado, Dia Internacional Contra a Corrupção, o procurador de Justiça Rodrigo Régnier Chemim Guimarães, autor do livro "Mãos Limpas e Lava Jato – A corrupção se olha no espelho", publicou um artigo sobre o tema no site do Ministério Público do Paraná. Ele cita o mito do “anel de Giges”...
Neste sábado, Dia Internacional Contra a Corrupção, o procurador de Justiça Rodrigo Régnier Chemim Guimarães, autor do livro “Mãos Limpas e Lava Jato – A corrupção se olha no espelho”, publicou um artigo sobre o tema no site do Ministério Público do Paraná.
Ele cita o mito do “anel de Giges” (nome de uma operação que mirou parentes de Romero Jucá), apresentado por Platão na obra “A república”, no diálogo entre Sócrates e Glauco a respeito do justo e do injusto.
“Certo dia, um terremoto abriu uma fenda no chão e o pastor Giges nela encontrou um cavalo de bronze, oco e com um homem morto em seu interior. O homem trazia num dos dedos um anel de ouro e dele Giges se apossou. Dali seguiu para uma reunião dos pastores com o rei onde girou o anel para um lado e se tornou invisível. Testou novamente o anel, girando-o para o outro lado e voltou a ser visível. Surpreso com o poder do anel, usou-o para se tornar mensageiro do rei. Em seguida, aproximou-se da rainha, seduziu-a, tramou contra o rei, matou-o e assumiu o poder. No debate com Sócrates, Glauco concluiu que qualquer pessoa com o poder de ficar invisível, protegido pelo anonimato e pela certeza da impunidade, faria tudo o que lhe aprouvesse.
O mito de Giges nos coloca frente a questões morais relevantes: o que você faria se pudesse ficar invisível? Tomaria para si tudo de que pudesse se apoderar? Mataria quem quisesse matar? Estupraria quem quisesse estuprar? Desviaria o dinheiro público que quisesse desviar? As respostas permitem identificar o quanto de moralidade cada um traz dentro de si.”
Após analisar as mudanças culturais nos últimos séculos, o procurador conclui:
“Os donos do poder, tal qual Giges, encontraram as condições ideais nesse ambiente ‘pós-moderno’ para agir na invisibilidade dos bastidores, potencializando práticas corruptas em níveis que Platão nunca imaginou. Afinal, não é fácil se conter num mundo de valores fluídos, quando se casa a ganância com a carência de fiscalização e efetiva punição.
Mesmo assim, é possível apostar num melhor destino. Após quase quatro anos de Lava Jato ninguém pode seguir dizendo não ter visto Giges roubando. Foi possível sacar o anel de uma parcela dos corruptos de plantão, desvelando-se a organização de um mundo paralelo capaz de desviar bilhões de reais do sofrido povo brasileiro sem ruborescer. Resta saber se o país conseguirá impedir que a invisibilidade e a impunidade voltem a ser regras. Com a palavra o povo e os parlamentares a serem eleitos em 2018.”
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