Jerônimo Teixeira na Crusoé: ofensa à religião não justifica censura
Você pode reprovar a peça com Jesus trans ou a canção que associa o islã ao terrorismo, mas nem por isso pode proibi-las
Para a edição de número 311 da Crusoé, Jerônimo Teixeira destaca em sua coluna semanal a censura que a religião impõe a algumas artes, tanto na música, em pinturas e em outras. em sua texto ele cita André Marsiglia que fez ótimas considerações sobre a incapacidade contemporânea de “enxergar a arte como uma abstração criativa, não como algo literal”.
O leitor de certa idade deve se lembrar de Sérgio Von Helder, se não pelo nome, pelo que ele fez.
Outro dia, me lembrei dessa infeliz figura lendo os comentários a um tuíte de André Marsiglia, advogado especialista em liberdade de expressão.
Marsiglia criticou uma sentença da Justiça de São Paulo que mandou o pagodeiro Xande de Pilares “editar” a letra de Me Abraça, canção que compôs em parceria com Ferrugem e que foi acusada de associar o Islã ao terrorismo. Marsiglia fez ótimas considerações sobre a incapacidade contemporânea de “enxergar a arte como uma abstração criativa, não como algo literal”. Poucos comentaristas entenderam. Vários cristãos ficaram indignados porque a Justiça atendia a um pedido de uma tal Associação Nacional de Juristas Islâmicos mas permitia manifestações artísticas que “cospem na cruz”.“Essa arte [i.e., a canção ‘islamofóbica’] não pode, arte contra cristãos pode”, dizia um comentário.
X pode, mas Y não pode: esse tipo de raciocínio tornou-se um cacoete da conversa política atual. É uma tentação compreensível. Não está errado observar, por exemplo, que os elogios de X a ditadores como Putin e Fidel em geral são tratados com mais leniência pela imprensa do que os elogios de Y a ditadores como Putin e Pinochet. Mas será mais honesto criticar a postura antidemocrática tanto de X quanto de Y (não preciso dizer quem eles são…). No comentário ao tuíte de Marsiglia, há ainda uma ambiguidade capciosa: parece até que a intenção é criticar a censura à canção de Xande, mas, por comentários posteriores, tenho a impressão de que na verdade o que se deseja é censurar a tal “arte contra os cristãos”.
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