Jair Bolsonaro: da “gripezinha” ao casamento com o Centrão
O ano de 2020 será lembrado, em todo o mundo, como o da pandemia de Covid-19 que causou uma crise sanitária até então sem precedentes. No Brasil, haverá um capítulo especial sobre a incompetência e absoluta irresponsabilidade de Jair Bolsonaro no enfrentamento do tema...
O ano de 2020 será lembrado, em todo o mundo, como o da pandemia de Covid-19 que causou uma crise sanitária até então sem precedentes. No Brasil, haverá um capítulo especial sobre a incompetência e absoluta irresponsabilidade de Jair Bolsonaro no enfrentamento do tema.
Ao longo do ano, o presidente se empenhou como nenhum outro líder mundial em desdenhar da Covid-19, que paralisou as maiores economias do planeta (e as menores também), e matou mais de 1,7 milhão de pessoas – segundo dados de até o fim de dezembro.
No começo do ano, Bolsonaro viajou para a Flórida, onde se encontrou com Donald Trump. Durante a viagem, o presidente da República afirmou que a pandemia “não era tudo isso” e que não passava de uma “fantasia“ propagada pela imprensa. Mais de 20 pessoas que estiveram na comitiva presidencial foram infectadas pelo coronavírus, entre elas o ministro Augusto Heleno. O primeiro caso confirmado foi o do secretário de Comunicação do Planalto, Fábio Wajngarten.
Em 24 de março, o presidente da República fez um pronunciamento transmitido em rede nacional criticando as medidas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos e comparou a Covid-19 a uma “gripezinha” ou “resfriadinho”.
No dia seguinte, Bolsonaro e o governador João Doria trocaram farpas durante videoconferência sobre o combate ao coronavírus. Na reunião, o presidente disse que o tucano não era “exemplo para ninguém”.
O governo aprovou no fim do mesmo mês os R$ 600 de auxílio emergencial para atender a trabalhadores informais afetados pela crise. O valor foi três vezes maior do que o inicialmente proposto pela equipe econômica. A “gripezinha” ajudou, assim, a segurar a queda na popularidade de Bolsonaro.
Desde o começo da pandemia, o presidente contrariou as orientações das autoridades de saúde e incentivou e participou de aglomerações, sem máscara, e indicou remédios sem nenhuma eficácia contra a Covid-19.
Após inúmeras divergências públicas sobre a forma de conter a pandemia, e com medo da sombra que estava sendo projetada sobre ele, Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e escolheu o oncologista Nelson Teich para assumir o seu cargo.
Teich pediu demissão antes de completar um mês no ministério — a saída dele esteve diretamente relacionada à insistência do presidente da República no uso da cloroquina.
Em abril, questionado sobre o fato de o Brasil ter passado a China em número de mortes por Covid-19, Bolsonaro respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?“.
No mesmo mês, o STF decidiu, por unanimidade, que estados e municípios tinham autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia. O presidente, então, passou a afirmar que o Supremo havia retirado dele toda e qualquer responsabilidade sobre o combate à Covid-19, uma evidente mentira.
Acompanhado de Paulo Guedes e empresários, Bolsonaro atravessou a pé a Praça dos Três Poderes para ir até o STF fazer um apelo ao então presidente da corte, Dias Toffoli, pelo fim do isolamento social e a retomada integral das atividades econômicas
Polêmicas relacionadas a outros temas também marcaram o segundo ano de mandato do governo Bolsonaro.
Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça e da Segurança Pública depois que o presidente tirou Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal. No pronunciamento histórico em que anunciou a sua saída, Moro afirmou que o presidente queria interferir politicamente na PF, para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência do órgão.
A acusação caiu como uma bomba no colo de Bolsonaro. A saída de Moro resultou ainda na abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal.
Na reunião ministerial do dia 22 de abril, cujo vídeo o então ministro do STF Celso de Mello mandou divulgar, como relator do inquérito que a apura a interferência na polícia federal, o presidente deixou evidente sua intenção de mudar o comando da Superintendência do Rio e do diretor-geral da PF.
No vídeo divulgado em maio, é possível ver Bolsonaro afirmando: “Eu não vou esperar foder minha família e amigo meu.” E olhando para Moro: “Vou interferir!“
Bolsonaro escolheu André Mendonça para o lugar de Moro no Ministério da Justiça e Alexandre Ramagem para o comando da PF. O ministro Alexandre de Moraes, porém, suspendeu a nomeação de Ramagem, que virou homem de confiança da família Bolsonaro.
No caso da suspensão, determinada sob alegação de falta de impessoalidade na escolha, o presidente afirmou que não havia engolido a medida do magistrado e provocou:
“Não justifica a questão da impessoalidade. Como é que o senhor Alexandre de Moraes foi para o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer. Ou não foi?”
Em meio aos atritos com o STF, Bolsonaro participou de diversas manifestações em que bolsonaristas defendiam, entre outras coisas, o fechamento do Supremo e do Congresso. Num desses atos, ergueu uma caixa de cloroquina para os apoiadores como se fosse um troféu.
Em 18 de junho, Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro acusado de operar o suposto esquema de rachadinha do filho do presidente n Alerj, foi preso em Atibaia, num desdobramento da investigação sobre as rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O ex-PM estava em um imóvel de Frederick Wassef, então advogado da família. O presidente classificou a prisão como “espetaculosa”.
No mesmo dia, Abraham Weintraub anunciou sua saída do Ministério da Educação. O anúncio foi feito por meio de vídeo ao lado de Bolsonaro, que estava claramente constrangido.
Em julho, o presidente anunciou que estava com Covid-19, mas que se sentia “perfeitamente bem”. Afirmou ainda que havia tomado hidroxicloroquina para o início do tratamento.
Questionado sobre o depósito de R$ 89 mil em cheques de Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro, como revelado pela Crusoé, o presidente ameaçou um repórter: “Minha vontade é encher tua boca na porrada.”
O ano de 2020 também foi marcado pelo casamento de Bolsonaro com o Centrão, a tábua de salvação do presidente em relação às dezenas de pedidos de impeachment que se acumulam na Câmara.
Com a aproximação política com os partidos do grupo, o deputado Major Vitor Hugo foi ejetado do cargo de líder do governo na Câmara. Viu-se substituído pelo ínclito deputado Ricardo Barros, do Progressistas.
Bolsonaro trocou ainda os vice-líderes do governo na Câmara. A nova formação dispensou aliados próximos para abrir espaço ao Centrão. Na lista dos chutados, estavam Carla Zambelli, Bia Kicis e Carlos Jordy, entre outros.
Também nomeou indicado do senador Ciro Nogueira e do deputado Arthur Lira para o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Lira é atualmente o candidato de Bolsonaro para a sucessão de Rodrigo Maia na presidência da Câmara.
Em outubro, Bolsonaro indicou o desembargador Kassio Nunes Marques para vaga de Celso de Mello no STF. O nome de Kassio foi colocado na mesa do presidente por Wassef. Além disso, o desembargador foi apadrinhado também por Flávio Bolsonaro e líderes do Centrão — os petistas igualmente ficaram satisfeitos.
Foi preciso afastar dois ministros da Saúde em meio à maior crise sanitária para que finalmente Bolsonaro encontrasse um nome que aceitasse compactuar com suas teorias conspiratórias na política do governo: o general Eduardo Pazuello.
Em outubro, o general mostrou que tinha vocação para ser soldado.
Bolsonaro desautorizou o ministro que havia anunciado acordo com o estado de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e que será produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.
Depois, Pazuello afirmou em uma transmissão ao vivo ao lado de Bolsonaro que no governo “é simples assim: um manda e o outro obedece“.
O presidente também comemorou a suspensão temporária pela Anvisa dos estudos clínicos da Coronavac no Brasil e afirmou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. A suspensão do estudo clínico do imunizante ocorreu após a morte de um voluntário brasileiro. Como o óbito não estava relacionado à vacina, a agência liberou os testes logo em seguida.
Nas eleições municipais de 2020, o presidente foi um fiasco como cabo eleitoral.
Nos Estados Unidos, Donald Trump, espelho do presidente brasileiro, não conseguiu a reeleição. Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória de Joe Biden.
Neste final de ano, enquanto países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e até a Arábia Saudita iniciaram a vacinação em massa contra a Covid-19, os brasileiros ainda se veem em meio a uma disputa política protagonizada por Jair Bolsonaro, que faz de tudo para desacreditar a eficácia das vacinas.
Em 12 de dezembro, o Ministério da Saúde apresentou ao STF um plano nacional de vacinação. O texto, porém, não trouxe um cronograma para a imunização.
No meio de tudo isso, o país volta a bater recorde diário de novos casos da doença e se aproxima das 200 mil mortes pela “gripezinha” da Covid-19. Mas Bolsonaro não faz caso da hecatombe, como um sociopata, Em conversa com Eduardo, seu filho, ele disse que a pressa para o país ter uma vacina “não se justifica” e que “a pandemia está chegado ao fim”.
Bolsonaro é o fim.
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