Gilmar conquista o carinho da torcida
Em 2019, Gilmar Mendes conquistou definitivamente o carinho da torcida brasileira. Além de continuar soltando gente suspeitíssima, sob o argumento de que preserva o Estado de Direito, o ministro do STF mais amado do país foi o maior patrocinador da mudança (outra vez) do entendimento do Supremo sobre a constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância -- mudando, ele próprio, da opinião que firmemente defendeu em 2016, quando ela voltou a valer...
Em 2019, Gilmar Mendes conquistou definitivamente o carinho da torcida brasileira.
Além de continuar soltando gente suspeitíssima, sob o argumento de que preserva o Estado de Direito, o ministro do STF mais amado do país foi o maior patrocinador da mudança (outra vez) do entendimento do Supremo sobre a constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância — mudando, ele próprio, da opinião que firmemente defendeu em 2016, quando ela voltou a valer.
Há tempos o ministro arquitetava o julgamento do tema na Corte. Neste ano, ele conseguiu — e a decisão do STF resultou na saída de Lula e José Dirceu da cadeia, entre outros inocentes do fascinante mundo paralelo do PT. Os argumentos do ministro para impor sua vontade ao Supremo foram destrinchados em reportagem de capa da Crusoé.
Outros recursos em andamento no STF com o objetivo de melar a Lava Jato, como o que pediu a suspeição de Sergio Moro no julgamento de Lula, também foram defendidos por Gilmar neste ano.
Foi nessa trilha aberta pelo ministro indômito, por exemplo, que o STF ordenou a primeira anulação de uma sentença de Moro, ao inventar a regra de que o réu delatado deve fazer alegações finais depois do réu delator.
Em julgamento no plenário, Gilmar atacou violentamente Deltan Dallagnol e Moro, e chegou a dizer que a Lava Jato “usou a prisão provisória como elemento de tortura”. Dallagnol foi chamado, entre outras delicadezas, de “gente muito baixa, muito desqualificada” pelo ministro.
Em seu voto, o ministro lançou mão das mensagens hackeadas de integrantes da Lava Jato para reclamar dos epítetos dirigidos a integrantes do STF: “Chamam a nós de vagabundos”.
Ele também defendeu o uso das mensagens roubadas para soltar os criminosos presos pela Lava Jato.
No STF, o “garantista convicto” desempenhou papel essencial para manter os suspeitos de sempre longe da cadeia: mandou soltar o casal Anthony e Rosinha Garotinho e salvou Guido Mantega.
Equânime, atendeu a um pedido de Flávio Bolsonaro para paralisar as investigações de que o senador é alvo no Ministério Público do Rio de Janeiro, por causa das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz.
Gilmar, aliás, recebeu Flávio em sua própria casa neste ano. O ministro também encontrou-se com Jair Bolsonaro. Segundo eles, para conversar sobre generalidades.
Em março, a Lava Jato encaminhou à PGR pedido de suspeição de Gilmar nas investigações envolvendo Paulo Preto e o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira.
No ofício encaminhado a Raquel Dodge, a força-tarefa anexou extratos de ligações e mensagens que indicam intensa articulação entre o advogado José Roberto Santoro, o ex-senador Aloysio Nunes, o ex-ministro Raul Jungmann e Gilmar.
Segundo a Lava Jato, há indícios de que Aloysio procurou Gilmar em favor de Paulo Preto.
Com as decisões e posturas do ministro, vieram as reações.
Durante o ano, a mobilização pelo impeachment de Gilmar recrudesceu. Hoje, há pelo menos 19 pedidos para tirar o ministro do cargo, por crime de responsabilidade. Deltan, por sua vez, resolveu processá-lo por danos morais.
Na esfera da insanidade, o ministro despertou os instintos mais primitivos de Rodrigo Janot, ex-PGR. Ao divulgar um livro em que prometeu contar tudo mas não contou nada, Janot contou que, em 11 de mais de 2017, entrou no STF com um revólver, disposto a matar Gilmar e a suicidar-se em seguida. Motivo direto: Gilmar, que ama Janot tanto quanto é amado por ele, inventou que a filha do ex-PGR advogava em ação penal de uma empresa envolvida na Lava Jato. Gilmar respondeu à informação dizendo que Janot passara por uma crise de abstinência. Janot teve a arma e computadores apreendidos a mando de Alexandre de Moraes e também foi proibido de aproximar-se de membros do Supremo. Como se descobriu que, em 11 de maio de 2017, Janot estava em Minas Gerais, a conversa foi parar no lugar certo: o boteco.
Em 2020, Gilmar seguirá como o homem mais amado da torcida brasileira.
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