Governo Lula amplia recursos para importação de arroz
Para representantes do setor produtivo, no entanto, a importação de arroz é desnecessária já que foi colhida mais de 80% da safra
O governo brasileiro anunciou medidas provisórias que visam aumentar os recursos destinados à importação de até 1 milhão de toneladas de arroz, com o objetivo de oferecer o produto a preços subsidiados ao varejo nacional. Essas medidas incluem hipermercados e atacarejos, com o intuito de limitar o aumento dos preços do arroz em meio às enchentes no estado do Rio Grande do Sul.
Inicialmente, o governo havia separado cerca de R$ 416 milhões para a primeira operação de compra de 104,03 mil toneladas de arroz importado, como uma tentativa de evitar a escalada dos preços do produto. No entanto, o leilão para adquirir essas toneladas foi suspenso enquanto o governo buscava aperfeiçoar o programa.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, com a publicação da medida provisória no Diário Oficial da União, na última sexta-feira, 24, que define um valor adicional de aproximadamente R$ 6,7 bilhões, espera-se que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgue em breve as regras do novo leilão, cujo volume inicial ainda não foi definido.
A ideia é que a Conab compre o arroz importado por terceiros, desde que estes comprovem que a importação tenha sido feita após a definição do leilão, garantindo assim o ingresso de oferta nova ao país.
Alta no preço do arroz
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do arroz em casca posto na indústria do Rio Grande do Sul, maior produtor brasileiro do cereal, subiu quase 13% no acumulado do mês até a última sexta-feira, alcançando R$ 120,95 a saca de 50 kg.
Com os estoques formados a partir das aquisições, a Conab venderá o arroz diretamente para supermercados, hipermercados, atacarejos e outros estabelecimentos comerciais que disponham de ampla rede de pontos de venda nas regiões metropolitanas.
O presidente Lula reiterou, no final de semana, a intenção do governo de estimular a importação de arroz para manter a oferta interna e segurar os preços, citando que o preço do arroz no supermercado está “muito caro”.
Importação de arroz do governo é “demagogia barata”
Para representantes do setor produtivo, no entanto, a importação de arroz é desnecessária. Eles argumentam que o Rio Grande do Sul já havia colhido mais de 80% da safra quando as enchentes devastaram o estado. Apesar dos danos causados pelas inundações em alguns silos e lavouras, os representantes dos produtores afirmam que o estado tem condições de atender à demanda brasileira.
Crusoé conversou com o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, e para ele não existe a necessidade dessa medida, pois o país já tem arroz colhido para suprir o mercado interno. Além disso, a importação pode prejudicar os produtores nacionais.
“Temos arroz para suprir o mercado interno. A dificuldade neste momento é uma questão de logística. A infraestrutura foi danificada. Outra dificuldade é com relação à emissão de notas fiscais eletrônicas, porque o centro de processamento das notas do governo do estado ficou debaixo d’água. Apesar desses problemas, o mercado está sendo abastecido. Não vemos o porquê dessa medida governamental, a não ser para fazer demagogia barata“, disse Pereira.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá produzir 10,5 milhões de toneladas de arroz nesta temporada, um aumento de 4,6% em relação à temporada passada. A safra do Rio Grande do Sul, que é responsável por 7,2 milhões de toneladas desse total, terá um crescimento de 4,9%.
Apesar das enchentes, a Conab afirma que o consumo interno está estimado em 11 milhões de toneladas e que as importações e estoques serão suficientes para compensar a diferença em relação à safra. A estimativa é que os estoques iniciais sejam de 1,8 milhão de toneladas e as importações cheguem a 2,2 milhões de toneladas. Já as exportações devem atingir 1,2 milhão de toneladas, 300 mil a menos do que a previsão anterior.
“Eles acham que vai faltar arroz, mas não vai. Isso é uma determinação do Lula. Olha o que o Lula falou na imprensa há umas duas semanas. Ele disse que ia importar arroz da Venezuela. Mas nesse país não há mais produtor rural. Destruíram tudo. A Venezuela importa arroz do Brasil. Como um presidente da República fala que vai importar arroz de um país que não tem nada para oferecer? É um ato demagógico. Só falta ele pegar os pacotes de arroz e posar para uma foto“, ressaltou o presidente da Farsul.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)