Otto Alencar: ‘Não tenho dúvida de que houve crime na Prevent Senior’
Decano da CPI da Covid, o senador Otto Alencar (PSD-BA) afirma, em entrevista a O Antagonista, que a direção da Prevent Senior cometeu vários crimes ao defender para seus pacientes a prescrição do “tratamento precoce”...
Decano da CPI da Covid, o senador Otto Alencar (PSD-BA) afirma, em entrevista a O Antagonista, que a direção da Prevent Senior cometeu vários crimes ao defender para seus pacientes a prescrição do “tratamento precoce”, formado por medicamentos sem comprovação científica contra Covid, como a cloroquina.
“Tirar doente de UTI para ir para tomar medicamentos paliativos, ‘paliar o paciente’, mesmo em casos que ainda é possível se recuperar o doente, isso não é crime?”, afirmou o parlamentar.
Em depoimento à CPI na quarta-feira última (22), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou que o plano de saúde tenha fraudado estudos e ensaios clínicos relacionados à prescrição da cloroquina, mas admitiu que o principal hospital da rede alterava o código de identificação dos pacientes que eram internados com Covid após 14 dias de hospitalização.
Além disso, Alencar também defendeu a O Antagonista o encerramento das investigações da CPI. Para ele, o colegiado já cumpriu o seu papel.
“Eu estou convicto de que foi feito o melhor trabalho de uma Comissão Parlamentar de Inquérito de toda a história do Brasil”, disse o parlamentar.
Leia os principais trechos da entrevista:
Senador, depois do depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, o senhor avalia que houve crime?
Claro, sem dúvida nenhuma. Tanto é que o senhor Pedro saiu como investigado [da sessão da CPI]. Ele omitiu, mentiu, não soube explicar o que aconteceu [na Prevent Senior]. Mudar código de doença para ocultar que o paciente não teve Covid-19, isso é inacreditável.
Ele [Pedro] ria quando o [virologista] Paulo Zanotto falava sobre a administração de zinco, dizendo que ia administrar 220ml de zinco. Uma pessoa adulta tem que tomar no máximo 40ml. Se isso não é uma coisa que fere os princípios da medicina, paciência.
Mas houve outros episódios que podem ser configurados como criminosos?
Eles enviaram saquinhos com medicamentos para a casa das pessoas, sem receita. Aquilo devia ter a receita assinada pelo médico. Tirar doente de UTI para tomar medicamentos paliativos, ‘paliar o paciente’, mesmo em casos que ainda é possível se recuperar o doente, isso não é crime? Será que alguém que perdeu o pai ou a mãe não acha que é crime? Claro que é crime. Não tenho dúvida disso. Tanto que ele saiu [da CPI] como investigado.
No episódio da Prevent Senior, não faltou uma ação efetiva do Conselho Federal de Medicina? Não caberia uma intervenção do CFM no caso?
O problema é que o conselho é bolsonarista. O presidente do Conselho Federal de Medicina [Mauro Luiz de Britto Ribeiro] é aliado de [Jair] Bolsonaro e ele não toma providência contra quem está ao lado do negacionismo. Quando aconteceu o caso do médico que foi acusado de abuso [em junho, o médico gaúcho Victor Sorrentino foi detido em Cairo, suspeito de ter assediado uma vendedora de uma loja de papiros], eu denunciei e ele não tomou providência nenhuma. Ele não fez nada porque era aliado dele. O Conselho Federal de Medicina está entregue nas mãos de alguém que faz política favorável ao negacionismo.
Mas aí o caso fica sem uma resposta para a sociedade?
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo deve tomar alguma providência, o Ministério Público deve tomar providências e apurar. Essas coisas não acontecem por acaso. A única pessoa que estava mentindo ali na CPI foi o Pedro Batista Júnior. Ele era o único que estava mentindo. Nenhum senador deixou de falar a verdade, inclusive eu. Ele já está como investigado pela CPI e deve ser denunciado. Mas aí, outras providências, cabem à Justiça.
O senhor tem afirmado que a CPI já cumpriu o seu papel. Já é hora de encerrar os trabalhos?
Na minha opinião, a CPI contribui muito com o povo brasileiro ao mostrar o negacionismo, o crime sanitário previsto no Código Penal e já fechou, praticamente, todas as pontas. Falta fechar agora a investigação da Prevent Senior e, talvez, ouvir o Elcio Franco [ex-secretário executivo do Ministério da Saúde]. A comissão obrigou Bolsonaro a comprar vacinas, que ele não queria comprar. Ele ia comprar a vacina errada, ia pagar R$ 1,6 bilhão [no lote de 20 milhões de doses da Covaxin] e não pagou porque nós fomos para cima. Então, a CPI mostrou ao povo brasileiro a face oculta de um governo que não se preocupa com a saúde do povo, que não se comove com 600 mil óbitos no Brasil, que tem um presidente da República que faz motociata, mas não vai a um hospital.
Mostramos um governo que passou o tempo todo negando vacina, fazendo imagens totalmente desconexadas com a realidade, dizendo que se o cara fosse tomar a vacina, ele iria virar jacaré.
O senhor defende que a CPI seja encerrada na semana que vem, ou não?
Nós tomamos posição por maioria. Eu penso assim, o Tasso [Jereissati] pensa assim também, que ela deve ser encerrada na primeira semana de outubro. Se fosse por mim, Renan [Calheiros – relator do colegiado] leria o relatório, que é um relatório muito bem feito, eu conheço parte dele, com provas materiais contra esses negacionistas, contra os charlatões como [o empresário] Carlos Wizard, [o deputado federal] Osmar Terra, [a médica] Nise Yamaguchi, esse Pedro [da Prevent Senior], esse [virologista] Paolo Zanoto, contra toda essa corporação de mentirosos e charlatões que participaram de atos criminosos que vitimaram o povo brasileiro. Para mim, Renan poderia ler o parecer na outra quinta-feira, e, na primeira terça-feira de outubro, ele seria votado.
Na sua opinião, a CPI fez um bom trabalho, senador?
Eu estou convicto de que foi feito o melhor trabalho de uma Comissão Parlamentar de Inquérito de toda a história do Brasil. O trabalho foi feito para que se evitassem mais mortes. Se o presidente da República tomasse providência de, no ano passado ainda, comprar a vacina do Butantan em dezembro, comprar a Pfizer, teria se reduzido, no mínimo, trinta por cento de todas as mortes. Seriam menos órfãos, menos viúvas, viúvos, netos que perderam os avós… Em resumo, menos vítimas.
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