Dennys Xavier na Crusoé: Janja, Janjo e a visão dos ungidos
A primeira-dama não compôs sinfonias, mas rege a orquestra ideológica; não escreveu romances, mas edita a pauta dos afetos estatais
A concessão de um prêmio cultural de destaque à primeira-dama Janja da Silva não se restringe a um gesto inodoro de protocolo nem a uma celebração estética neutra: é, na realidade, expressão emblemática de um fenômeno que Thomas Sowell diagnosticou com precisão cirúrgica em sua obra Os Ungidos.
Tal fenômeno, que o autor denomina “visão dos ungidos”, consiste na elevação moral e intelectual de certos indivíduos – ungidos pela elite político-cultural – a uma condição simbólica superior, imune à crítica empírica, blindada ao escrutínio público, e legitimada por uma pretensa missão redentora sobre a sociedade.
Segundo Sowell, “aqueles que aceitam essa visão são considerados não apenas factualmente corretos, mas moralmente em um patamar superior. Em outras palavras, aqueles que discordam da visão predominante são vistos não apenas como equivocados, e sim como pecadores”.
Este é o cerne da crítica de Sowell: não há propriamente um debate de ideias, mas uma liturgia na qual os “ungidos” ocupam o lugar de sacerdotes laicos, dispensando graças estatais conforme os imperativos de sua visão ideológica.
A premiação cultural de Janja, viabilizada (naturalmente) pelo primeiro-marido, Janjo Lula da Silva, inscreve-se nesse rito.
Sua escolha não decorre de uma contribuição artística comprovada, nem tampouco de um processo de mérito cultural aferível segundo critérios técnicos (a bem da verdade, falamos de alguém que mal opera a língua portuguesa com razoável competência).
Antes, sua figura funciona como mascote político – na linguagem de Sowell, mascots of the anointed –, cujo valor simbólico supera qualquer realização objetiva.
Assim como o autor destaca a maneira como certos grupos são elevados à condição de totem moral intocável (“os sem-teto”, “os excluídos”, “os ambientalistas”) também figuras que encarnam tais causas tornam-se irrepreensíveis, pois representam a causa, não o indivíduo.
Sowell identifica com clareza esse padrão: o discurso da elite ungida “rejeita desdenhosamente os argumentos contrários, tidos como desinformados, irresponsáveis ou motivados por propósitos desmerecedores”.
E, como tal…
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