Crusoé: O chanceler-que-é e o chanceler-que-está
Fica feio chamar de ladrão a vítima de um assalto, e ainda ser elogiado em público justamente pelo assaltante
![Crusoé: O chanceler-que-é e o chanceler-que-está](https://cdn.oantagonista.com/uploads/2024/02/WhatsApp-Image-2024-02-21-at-09.22.50-e1708519147739.jpeg)
País tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, o Brasil conta com a bênção extra de ter dois chanceleres: o “chanceler-que-é” e o “chanceler-que-está”. Cabe ao “chanceler-que-está” o serviço importante de pilotar, já não digo a nau, mas o caminhão da diplomacia; e cabe ao “chanceler-que-é” o serviço fundamental, metafísico, de filosofar acerca dos rumos do caminhão, de fornecer as justificativas teóricas para as estradas que o caminhão – a Lusitana diplomática – percorre e os comboios em que toma parte. Também cabe a ele acionar o extintor de incêndio toda vez que o caminhão, acidentado nesses caminhos filosóficos, acaba pegando fogo.
Assim foi no caso da fala recente e incandescente do mais sacrossanto de todos os homens a respeito de Israel. Fala que, vamos admitir: pegou meio mal. Fala que não foi, como diria a própria turma do caminhão diplomático, das mais felizes, das mais inspiradas, das mais oportunas. Fica feio, convenhamos, você chamar de ladrão a vítima de um assalto, ou chamar de espancador um camarada que apanhou. E ainda ser elogiado em público justamente pelo assaltante, pelo espancador daquele camarada. Não, não pegou nada bem.
Criado pois o incêndio, coube ao chanceler-que-é aparecer com o extintor filosófico e vir a público tentar consertar a situação (que, verdade seja dita, parece que o mais sacrossanto dos homens não queria ver consertada; para ele, pelo visto, tá tudo certo, não tem problema nenhum para consertar). E lá se foi o chanceler-que-é enfrentar o auditório cheio dos que queriam explicação. Foi quando surgiu outro problema.
Acontece que, por mais colossal que seja do ponto de vista intelectual, por maior Golias ou Gog do espírito que seja, o chanceler-que-é não é, como direi, um campeão da verticalidade. Sua estatura física não ombreia com seu gigantismo intelectual. Ele é, pardon my french, baixinho. O rei Pepino o chamaria de Semibreve. Ou de Brevíssimo. Brevíssimo Colosso. Enfim, ele é um tampinha. E, por ser assim, não alcançava o microfone.
Ele pediu…
Leia mais em Crusoé
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)