Crusoé: Como fica a Lava Jato no exterior
Investigações nos Estados Unidos e na Suíça seguem de pé, mas fim da operação brasileira teve efeito negativo na América Latina
Ao se esparrar por dezenas de países, a operação Lava Jato tornou-se a mais abrangente da história. Depois que os desvios foram revelados e informações foram compartilhadas internacionalmente, empresas brasileiras assinaram acordos com o Departamento de Justiça americano, o DOJ. Na Suíça, contas bancárias foram congeladas. No Peru e na Colômbia, forças-tarefas inspiradas na Lava Jato foram deflagradas. Dez anos depois, com a operação minguando no Brasil, seu legado no exterior é duplo. Nos países ricos, os acordos assinados continuam valendo. Nos países em que o combate à corrupção nunca foi digno de mérito, forças políticas enterraram os avanços, usando o ocaso da operação brasileira como exemplo. “Depois de exportar corrupção, o Brasil passou a exportar impunidade”, diz Bruno Brandão, diretor-executivo da ONG Transparência Internacional.
Nos Estados Unidos, o país com a legislação anticorrupção mais avançada do mundo, nada mudou. Os acordos assinados entre as empresas Petrobras, Odebrecht (atualmente, Novonor), Braskem e J&F com o Departamento de Justiça continuam de pé. Em todos eles, o Departamento de Justiça, o FBI e a receita americana atuaram com autonomia e chegaram às suas próprias conclusões. “O FBI, agência que pertence ao Departamento de Justiça, continua investigando e não vai abandonar seu trabalho por causa das notícias que chegam do Brasil”, diz Maristela Basso professora de direito na USP. “Como se trata de uma jurisdição independente, as conclusões dos americanos podem ser totalmente diferentes das dos brasileiros. Mesmo que no Brasil pessoas e empresas que foram condenadas possam sair livres, nos EUA elas poderão ter um destino diferente.”
A Suíça congelou mais de 3 bilhões de reais em seus bancos. O dinheiro se refere a contas de doleiros, políticos e de empresas, que foram bloqueadas a pedido de pessoas e companhias que se sentiram lesadas pela corrupção. Assim como nos Estados Unidos, trata-se de uma atuação independente do Judiciário suíço, que confia nas próprias investigações. “Os suíços não fizeram isso para cumprir um pedido de uma autoridade brasileira. Eles fizeram isso por decisões próprias, após seguir procedimentos próprios”, diz o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que atuou na Lava Jato (leia entrevista com ele nesta edição da Crusoé).
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