Crusoé: as digitais do governo no processo de enfraquecimento de Lira
Os quatro ingredientes que apontam uma ação de Lula para fincar bandeiras nas trincheiras do Congresso
Embora o Planalto não queira deixar digitais em uma estratégia de enfraquecimento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), logo não será possível deixar de reconhecer que há uma ação de Lula para fincar bandeiras nas trincheiras do Congresso.
Esse objetivo não está – e nunca será – declarado abertamente. Faz parte da política esperar sempre que o outro lado declare guerra primeiro para que o defensor tenha a vantagem moral do conflito. Mas é inegável que o governo aumentou fortemente a pressão sobre o alagoano, separando os ingredientes para seu enfraquecimento, em uma atitude muito mais desafiadora do que se viu em qualquer momento de 2023.
Primeiro ingrediente: tensão programada
Ninguém conseguiria imaginar o tamanho da tensão que o governo criaria ao adotar as medidas que tomou durante o recesso: reoneração da folha, fim do Perse e vetos ao cronograma de execução do Orçamento e a parte de emendas de comissão. Simbolicamente, a mensagem é que o Planalto não abrirá mão de ser o principal polo de poder da Esplanada e que não aceita sequer ser colocado no mesmo plano do Congresso Nacional.
Foi uma medida de força contra a ideia de um semipresidencialismo de fato, mas que já traz no seu bojo um alvo em especial. Tanto o Perse quanto o veto às emendas de comissão, que são definidas em grande parte pelos presidentes da Câmara e do Senado, têm relação direta com o poder de Lira.
Além disso, a falta de execução de emendas destinadas por parlamentares no âmbito do Ministério da Saúde fez com que muitos deputados cobrassem o presidente da Câmara o que havia sido acordado em votações em 2023. Embora o devedor seja o governo, Lira claramente assumiu o papel de fiador.
Segundo ingrediente: flerte com aliados de Lira
O anúncio da saída do PSB do blocão comandado por Lira, se quantitativamente pouco importante para votações, teve o efeito de anunciar que a estrutura de poder do presidente da Câmara pode estar começando a se desfazer. E essa narrativa interessa ao governo.
No dia 6, a apuração junto a assessores do PSB levantou que o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, esteve duas vezes com o novo líder, deputado Gervásio Maia (PSB-PE). Em uma delas, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o estava acompanhando.
Como me disse esse mesmo assessor, “aqui estão os ingredientes, agora faça o bolo”.
Fotos de Lula com candidatos à sucessão de Lira, como o deputado Antônio Brito (PSD-BA) e acenos a Marcos Pereira (Republicanos-SP) em eventos públicos – mas nenhuma menção ao favorito de Lira, deputado Elmar Nascimento (União-BA) –, também é uma forma de criar divisões no núcleo duro do Centrão.
Terceiro ingrediente:…
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