Brasileiros são conservadores
Os brasileiros têm uma posição mais conservadora em relação a várias questões de costumes, conforme revelou a pesquisa "A Cara da Democracia"
Os brasileiros têm uma posição mais conservadora em relação a várias questões de costumes, conforme revelou a pesquisa “A Cara da Democracia”, realizada pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) entre 26 de junho e 3 de julho e publicada pelo jornal O Globo. O resultado é consistente com levantamentos de outros institutos.
A alienação das elites progressistas e a “classe falante” em relação à moralidade da população ajuda a explicar a crise de representatividade e credibilidade de muitas instituições democráticas tradicionais.
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Essa desconexão é frequentemente explorada por populistas de esquerda e de direita, que utilizam o sentimento de alienação da população em relação às elites para angariar apoio. Eles se posicionam como defensores do “homem comum” contra uma elite distante e desinteressada das preocupações reais da maioria. Ao fazer isso, eles buscam mobilizar o eleitorado em torno de uma narrativa de resgate dos valores do povo, contrastando com as pautas radicais progressistas promovidas pela mídia e pelas elites.
Legalização do Aborto
A legalização do aborto enfrenta forte resistência no Brasil. A pesquisa mostrou que 72% dos brasileiros são contra a mudança na legislação, uma redução em relação aos 79% registrados no ano passado. Já os favoráveis à legalização passaram de 14% para 17%, e 9% afirmam que “depende” das circunstâncias.
Essa discussão ganhou destaque devido ao debate em torno do PL Antiaborto, que propõe equiparar o aborto ao crime de homicídio simples após 22 semanas de gestação, mesmo em casos permitidos por lei, como os decorrentes de estupro.
Adoção por Casais Gays
Em relação à adoção de crianças por casais do mesmo sexo, a maioria dos brasileiros se mostra favorável. O percentual dos que apoiam a adoção é de 53%, o mesmo registrado no ano passado, enquanto 38% se dizem contra. Esse índice de apoio era de apenas 37% em 2018, indicando uma mudança significativa na percepção pública sobre o tema ao longo dos anos.
Descriminalização das Drogas
A descriminalização das drogas continua a enfrentar forte rejeição. A pesquisa apontou que 69% dos brasileiros são contra a descriminalização, enquanto apenas uma pequena parcela é favorável a mudanças nessa legislação.
A desconexão entre a população e as elites
Para enteder a desconexão entre as ideias da população e das elites atualmente, é necessário o conceito da Janela de Overton, ou “janela do discurso”, e como ela descreve o espectro de ideias politicamente aceitáveis pela população em um determinado momento.
Políticos costumam se limitar a apoiar políticas dentro dessa “janela” para evitar alienar o eleitorado. No entanto, muitos veículos de mídia insistem em pautas progressistas, “woke” e radicais, mesmo quando essas não refletem a opinião da maioria. Isso ocorre por vários motivos:
- Ativismo Jornalístico: Alguns profissionais da mídia veem seu papel como agentes de mudança social, promovendo ideias progressistas.
- Bolha Ideológica: Jornalistas tendem a ser mais esquerdistas que a população geral, criando uma bolha ideológica nas redações.
- Expansão da Janela de Overton: A mídia pode tentar mover a janela do discurso público para posições mais progressistas, apresentando constantemente essas ideias.
- Foco em Públicos Específicos: Muitos veículos priorizam audiências urbanas e jovens, mais receptivas a pautas progressistas.
- Pressão de Redes Sociais: Opiniões progressistas muitas vezes ganham mais engajamento nas redes sociais, já que costumam ser divisivas e polêmicas.
Charles Murray, no livro “Coming Apart”, e Christopher Lasch, em “A Revolta das Elites”, oferecem análises que ajudam a entender a desconexão moral entre as elites e a população:
- Formação de uma Nova Classe Superior: Murray argumenta que surgiu uma nova classe superior altamente educada e isolada, composta pelos 5% mais ricos. Lasch descreve essa elite como formada por “analistas simbólicos” – advogados, acadêmicos, jornalistas, entre outros. Ambos apontam que essa elite vive em áreas protegidas.
- Desconexão Cultural: As elites vivem em CEPs de alta renda, afastadas da realidade da maioria da população. Enviam seus filhos para escolas particulares e contratam segurança privada, criando uma bolha cultural.
- Valores Divergentes: Lasch critica as elites por estarem mais preocupadas com o sistema global do que com comunidades locais.
- Meritocracia e Mobilidade Social: Ambos criticam a ênfase excessiva na meritocracia. Lasch argumenta que o foco na mobilidade social trai o verdadeiro sonho americano de participação cívica comunitária.
- Declínio do Discurso Democrático: Lasch destaca que o debate inteligente foi substituído por querelas ideológicas, ampliando a lacuna entre elites e sociedade.
- Arrogância das Elites: Murray critica a arrogância das elites, que contrastam com o antigo senso de dever aristocrático. Lasch argumenta que as elites se sentem distantes de suas comunidades e concidadãos.
- Consequências Sociais: Essas tendências ameaçam a coesão social e a democracia. Murray alerta para a erosão da participação cívica, enquanto Lasch vê a ascensão desta nova elite como uma ameaça maior à democracia.
A insistência da mídia em pautas progressistas, que muitas vezes contrastam com a moralidade popular, contribui para a desconexão entre a população e a mídia tradicional. As elites culturais e midiáticas, isoladas em suas bolhas, promovem valores que não ressoam com a maioria, criando uma sensação de alienação e desconfiança.
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