Bíblia e bandeira: a vida dos "patriotas" foragidos na Argentina Bíblia e bandeira: a vida dos "patriotas" foragidos na Argentina
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Bíblia e bandeira: a vida dos “patriotas” foragidos na Argentina

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Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 23.09.2024 11:43 comentários
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Bíblia e bandeira: a vida dos “patriotas” foragidos na Argentina

“Dizem que somos terroristas, mas nossas únicas armas são a bandeira do Brasil e a Bíblia”, diz uma das brasileiras foragidas, na sala de jantar da casa onde mora em Buenos Aires.

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Bíblia e bandeira: a vida dos “patriotas” foragidos na Argentina
Reprodução/Instagram

A Argentina sob Javier Milei se tornou refúgio para dezenas de bolsonaristas fugitivos da Justiça brasileira. Eles são condenados – ou processados, em alguns casos – pelo ataque às sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023. O jornal El País, conversou com alguns dos brasileiros foragidos que lá estão.

Alguns cruzaram a fronteira de ônibus, outros de carro e até de bicicleta; há os que fugiram primeiro para o Uruguai e os que chegaram diretamente na Argentina. Como qualquer visitante brasileiro na Argentina, para entrar bastava apresentar o documento de identidade na Imigração. Mas, ao contrário dos turistas, o primeiro passo dos recém-chegados foi dirigir-se à Comissão Nacional para os Refugiados e solicitar asilo político.

A solicitação implica receber automaticamente permissão para trabalhar. 126 brasileiros concluíram esse procedimento no primeiro semestre deste ano, segundo dados do ACNUR (agência da ONU para refugiados). Eles são apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro e muitos foram condenados pelo Supremo Tribunal do Brasil a penas de pelo menos 14 anos de prisão por suposta participação na tentativa de golpe.

Eles, no entanto, declaram-se inocentes e sustentam que são vítimas de perseguição política contra a oposição liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Um corretor de imóveis

Prestes a completar 62 anos, o brasileiro Carlos Antonio Silva aprendeu a fazer pão caseiro, donuts de coco e pão de queijo que vende para sobreviver na cidade de La Plata, 60 quilômetros ao sul de Buenos Aires. Ele é casado e tem dois filhos, mas não vê a família desde que fugiu do país, há seis meses. Em fevereiro, o mais alto tribunal o condenou a 16 anos de prisão em julgamento virtual pelo assalto ao Palácio do Planalto, sede presidencial.

Este corretor de imóveis ouviu a sentença em sua casa, onde cumpria prisão domiciliar após ter passado sete meses preso. Foi considerado culpado de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, danos qualificados, deterioração do patrimônio protegido e associação criminosa armada.

Dona Jupira: avó e cuidadora

Jupira Silvana da Cruz Rodrigues, de 58 anos, foi condenada a 14 anos pelos mesmos crimes de Silva. Ela tem a tutela de duas netas e de uma pessoa incapacitada por doença mental. Ela foi detida no Planalto e a prova contra ela são as suas impressões digitais em uma garrafa de água abandonada no estabelecimento.

Durante o julgamento de Jupira, a defesa pediu a sua absolvição por falta de provas de que tenha cometido atos de vandalismo. Alexandre de Moraes, porém, argumentou que “é irrelevante discriminar que bens os arguidos danificaram ou como confrontaram as forças de segurança, dado que, segundo as provas, os crimes foram cometidos por uma multidão e só poderiam ser consumados (…) por essa comunhão”.

Dona Jupira agora vive em La Plata, num modesto apartamento que divide com outros dois fugitivos unidos pela política e pela fé evangélica. Os poucos móveis que possui foram feitos por outro “patriota” (como os bolsonaristas se chamam) que passou alguns dias lá antes de ir para outro lugar.

Raquel Lopes: bandeira e bíblia

“Dizem que somos terroristas, mas nossas únicas armas são a bandeira do Brasil e a Bíblia”, diz Raquel Lopes de Sousa, 52 anos, na sala de jantar da casa onde mora em Buenos Aires. Ela divide o aluguel com duas mulheres que conheceu na prisão: Rosana Maciel Gomes e Alethea Verusca Soares.

A bandeira do Brasil decora uma das poltronas e uma cruz pende do pescoço de Sousa, na qual ele coloca as mãos de vez em quando enquanto conta como os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 deram uma guinada de 180 graus em sua vida.

O Supremo Tribunal condenou Raquel a 17 anos de prisão em outubro passado. Em sua sentença consta que ela gritou “Fora Lula”: “participou ativamente em conjunto com os demais na destruição dos móveis do Planalto. Todos gritaram palavras que demonstram a intenção de depor o Governo legitimamente constituído como ‘Fora Lula’ e ‘Presidente ladrão’”

“Fiquei com medo e entrei à procura da minha irmã, que tinha perdido no meio do povo”. Ela conta que quando chegou o palácio já estava vandalizado e exige que lhe mostrem provas nas quais ela é vista confrontando a polícia ou quebrando alguma coisa. Ela garante que a única coisa que têm contra ela é um vídeo que obtiveram de seu próprio telefone, no qual ela gravou palavras de ordem contra Lula e o comunismo. “É isso que significa ser um terrorista?”, pergunta.

Lula quer informações

O Governo Lula solicitou formalmente às autoridades argentinas informações sobre o paradeiro de 143 brasileiros foragidos. Quem solicitou asilo sabe que, enquanto o processo estiver aberto, a sua extradição não será possível.

Leia também: Ex-primeira dama da Paraíba se torna ré por atos do 8 de janeiro

Leia mais: Os candidatos do 8 de janeiro

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