Apoio à Lava Jato, privatizações, fim do toma lá, dá cá: o que Bolsonaro não poderá prometer Apoio à Lava Jato, privatizações, fim do toma lá, dá cá: o que Bolsonaro não poderá prometer
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Apoio à Lava Jato, privatizações, fim do toma lá, dá cá: o que Bolsonaro não poderá prometer

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Diego Amorim
8 minutos de leitura 04.04.2022 12:36 comentários
Brasil

Apoio à Lava Jato, privatizações, fim do toma lá, dá cá: o que Bolsonaro não poderá prometer

Só de se colocar para a disputa presidencial deste ano, Jair Bolsonaro (foto) já quebra, na largada, uma de suas principais promessas de campanha em 2018: a de que "não tinha obsessão pelo poder" (17 de abril de 2018, em jantar do Poder360) e, portanto, não tentaria a reeleição...

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Diego Amorim
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Apoio à Lava Jato, privatizações, fim do toma lá, dá cá: o que Bolsonaro não poderá prometer
Reprodução/TV Brasil Gov/YouTube

Só de se colocar para a disputa presidencial deste ano, Jair Bolsonaro (foto) já quebra, na largada, uma de suas principais promessas de campanha em 2018: a de que “não tinha obsessão pelo poder” (17 de abril de 2018, em jantar do Poder360) e, portanto, não tentaria a reeleição.

“Acabar com o instituto da reeleição. No caso, começa comigo, se eu for eleito”, disse Bolsonaro em entrevista, por exemplo, ao Jornal Nacional, em 20 de outubro de 2018. Ele ainda dizia que, se o mandato presidencial passasse a ser de 5 anos (ele trabalharia para isso), a eventual mudança não o alcançaria. “Não começaria comigo. Não posso, no meu entender, fazer qualquer proposta na qual eu seria beneficiado”, afirmou à Band, em entrevista divulgada no Twitter em 23 de outubro daquele ano.

Neste ano, a família Bolsonaro também não terá autoridade alguma para falar em fim de foro privilegiado. Em um vídeo que circulou bastante na campanha de 2018, Flávio Bolsonaro, filho do presidente, dizia que “criminoso tem que cumprir o que a lei estabelece como pena para ele”. “Então, não é passar a mão na cabeça de marginal, não é uma lei diferente para um cidadão e diferente para outro não. A lei é igual para todos. Ou pelo menos deveria para ser”, acrescentou o hoje senador pelo Rio de Janeiro. Com a eleição do pai e a eclosão do escândalo das rachadinhas, Flávio recorreu ao foro privilegiado para se proteger.

“Eu não quero essa porcaria de foro privilegiado”, disse o então deputado Bolsonaro, em vídeo gravado em 2017. No Planalto, Bolsonaro não se moveu para ajudar a avançar na Câmara a PEC que acaba com o foro privilegiado, já aprovada no Senado. Também pudera: o presidente apoiou a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a Presidência da Câmara e colocou Ricardo Barros (PP-PR) como líder do seu governo na Câmara — ambos não concordam com o fim do foro privilegiado.

E as privatizações e o enxugamento da máquina estatal, com “extinção” de uma série de empresas públicas, incluindo a TV Brasil? Bolsonaro também fez essas promessas em 2018. “Assumi compromisso de extinguir e privatizar grande parte das estatais que hoje existem”, escreveu Bolsonaro no Twitter em 23 de setembro daquele ano. No dia seguinte, em entrevista à Jovem Pan, ele afirmou: “As estatais ociosas, com toda a certeza, serão privatizadas”. Em 7 de outubro, no Facebook, disse: “De aproximadamente 150 estatais, no primeiro ano, no mínimo 50 ou nós privatizamos ou extinguimos”.

Era tudo balela. A TV Brasil, por exemplo, inchada com apadrinhados do governo, virou a ‘TV do Bolsonaro’ e hoje, seguindo idêntico padrão petista, transmite até cultos religiosos com cara de pré-campanha. As promessas de privatização não se concretizaram, com exceção da Eletrobras. Logo no primeiro ano do governo, Tarcísio de Freitas, o ministro da Infraestrutura que em outubro tentará chegar ao governo de São Paulo, recorreu ao artifício do “veja bem, não é bem assim” e deixou claro que as privatizações não avançariam.

Em 2018, Bolsonaro também batia muito na tecla de redução do número de ministérios. Ele dizia que teria, no máximo, 15 ministros. “Ministério enxuto, com no máximo 15 ministros que possam representar os interesses da população, não de partidos”, escreveu o então candidato no Facebook, em 5 de outubro. Ele repetiria isso em pelo menos outras quatro ocasiões.

Hoje, são 23 ministérios e dia sim, outro também surge notícia de bastidor de que esse número pode aumentar, justamente para que Bolsonaro, rasgando outra promessa de campanha, possa abrigar mais aliados políticos. “Eu vou nomear o meu time de ministros por critérios técnicos”, disse o então candidato à Band, em 28 de setembro. “Tem que ser alguém que entenda daquele assunto. A gente está escolhendo por critérios técnicos, né? Competência, autoridade, patriotismo e iniciativa”, disse Bolsonaro, já eleito, em 20 de novembro.

Na campanha, Bolsonaro prometia um “ministro técnico” principalmente para a Saúde. Segundo ele, seria uma forma de “conter os ralos da corrupção” em uma “uma área tão necessitada que é a questão na saúde”. “Ele [o futuro ministro] receberia um ministério, que a gente chama de porteira fechada. Ele que vai nomear os superintendentes”, disse ao Jornal Nacional, em 19 de outubro de 2018.

Vamos, então, usar o exemplo da Saúde: no momento mais duro da pandemia, Bolsonaro colocou no comando da pasta Eduardo Pazuello, que não tinha qualquer conhecimento técnico na área. Tentou-se vender o general do Exército como ‘um ás da logística’, o que logo acabou virando motivo de chacota. Foi também na Saúde que, ainda em meio à pandemia, surgiram denúncias de irregularidades, sobretudo nas tratativas para a compra da vacina indiana contra a Covid, a Covaxin, não concretizada depois que o caso entrou na mira da CPI no Senado.

À Jovem Pan, em 24 de setembro de 2018, Bolsonaro disse: “Não vai ter mais indicação para BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste com esse critério, a indicação de um amigo para que use essas instituições em causas próprias”. Hoje, o Banco do Nordeste, para citar só um exemplo, está tomado de apadrinhados políticos, assim como as principais autarquias nos estados, como o DNIT e a Codevasf, que foram loteadas para partidos do Centrão bolsonarista.

O candidato Bolsonaro prometia, na esteira dessa história de acabar com indicações políticas e o toma lá, dá cá, combater a corrupção e apoiar a Lava Jato“Apoiar a Lava Jato é fundamental no combate à corrupção no Brasil. O fim da impunidade é uma das frentes que estanca o problema, outra é atacar a corrupção na sua raiz, pondo fim nas indicações políticas do governo em troca de apoio“, escreveu ele no Twitter em 22 de setembro de 2018.

Para proteger a família (não a ‘família brasileira’, mas a dele), principalmente após as investigações sobre rachadinhas, Bolsonaro foi determinante para aniquilar a Lava Jato. Se no governo Lula a corrupção se institucionalizou, no governo Bolsonaro a impunidade ganhou ares de normalidade. Em 2019, a base do presidente no Congresso tirou o Coaf das mãos de Sergio Moro, o então ministro da Justiça e Segurança Pública que viria a ser encarado como ‘inimigo número 1’ do governo. Ciro Nogueira, um ex-lulista que responde a processos criminais, emplacou Kassio Nunes Marques no STF. Augusto Aras, anti-lava jatista assumido, foi escolhido pelo presidente — e reconduzido — para comandar a PGR.

Bolsonaro também prometia “resgatar as 10 medidas contra a corrupção, proposta pelo Ministério Público Federal e apoiadas por milhões de brasileiros”. Estava lá no plano de governo dele. “Não podemos ter um retrocesso na Lava Jato”, afirmou o então candidato à Jovem Pan, em 2018. É para rir.

Antes de chegar ao Planalto, Bolsonaro também falava em “reduzir e remanejar gastos desnecessários, destinando recursos para áreas essenciais, combatendo fraudes e possibilitando a melhora de programas sociais, tudo sem custo”, como escreveu no Twitter em 11 de outubro. No poder, ele virou marionete do Centrão, que, claro, não quer reduzir gastos coisa alguma. Sobre “combater fraudes” em programas sociais, a farra durante a distribuição do auxílio emergencial, em meio à pandemia, fala por si só.

Na linha do jargão “Menos Brasília, mais Brasil”, tão propagado na campanha de 2018, Bolsonaro prometia, ainda, extinguir “acordos espúrios” com o Congresso. “Queremos descentralizar os recursos e mandar para os estados, para os governadores ou para os prefeitos”, disse à Rádio Jornal do Commercio, em 5 de outubro daquele ano. Bolsonaro jurava que, em seu governo, não haveria mais “dinheiro carimbado” para pessoa, grupo político ou entidade com interesses especiais.

Foi no governo Bolsonaro, porém, com um presidente acuado pelo maior número de pedidos de impeachment já apresentados ao Congresso desde a redemocratização, que surgiu o chamado “orçamento secreto”, por meio do qual parlamentares, como nunca antes, colocaram a mão no orçamento público e passaram a conduzi-lo sem critérios claros nem transparência alguma.

Não bastasse, o estelionato eleitoral de Bolsonaro inclui as promessas que ela havia feito para garantir os chamados “voto ideológicos”, de evangélicos e conservadores, sobretudo. A lista é grande: ele não criou colégios militares em todas as capitais, não acabou com os ‘saidões’ nem com a progressão de penas, não trabalhou para reduzir a maioridade penal, não transferiu a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém.

O Bolsonaro de 2022, portanto, não poderá repetir praticamente nada da campanha de 2018. E ainda terá de sorrir ao lado de gente como Valdemar Costa Neto.

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Diego Amorim

Se formou em jornalismo pela UnB. Trabalhou no Blog do Noblat e no Correio Braziliense. Gosta da notícia e dos bastidores dela em qualquer área. Entre outros prêmios, ganhou duas vezes o Esso de Informação Econômica e duas vezes o Embratel. Está em O Antagonista desde abril de 2016, quando se juntou à equipe para a cobertura do impeachment de Dilma Rousseff. Desde então, não tem dado sossego a políticos de todos os partidos em Brasília. É chefe de redação de O Antagonista em Brasília.

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