A saída de Dallagnol no ano mais difícil da Lava Jato
A Lava Jato perdeu em 2020 um dos seus símbolos. Em setembro, o procurador Deltan Dallagnol deixou o cargo de coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba. O que o levou à decisão de deixar a Lava Jato...
A Lava Jato perdeu em 2020 um de seus principais símbolos. Em setembro, o procurador Deltan Dallagnol deixou o cargo de coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba.
O que o levou à decisão de deixar a Lava Jato, segundo disse, foi a necessidade de cuidar da saúde da filha pequena, que apresentou atrasos no desenvolvimento e precisou passar por uma série de exames e terapias.
“É uma decisão difícil, mas o certo a fazer por minha família”, afirmou, ao anunciar o desligamento.
Ao longo do ano, contudo, Dallagnol sofreu uma perseguição implacável, de diversas autoridades, em especial do procurador-geral da República, Augusto Aras. Também virou alvo de várias representações no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), dominado por indicados políticos.
A saída do procurador sintetizou o drama da Lava Jato em 2020, ano em que os movimentos contra a força-tarefa atingiram o ápice.
Em junho, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo — braço-direito de Aras na PGR — desembarcou em Curitiba para requisitar todo o arquivo da força-tarefa e rastrear os equipamentos da força-tarefa.
A iniciativa gerou uma crise entre a Lava Jato do Paraná e a PGR e foi vista dentro do órgão como uma tentativa de “busca e apreensão” informal do material de trabalho dos procuradores da operação.
Em setembro, o CNMP puniu Deltan com a pena de censura. Os conselheiros entenderam, por 9 votos a 1, que o procurador “extrapolou limites da simples crítica” e “atacou não somente um senador, mas o Poder Legislativo, constituindo violação à imagem do Parlamento”.
A punição foi resultado de uma representação em que o senador Renan Calheiros, investigado na Lava Jato, acusou Deltan de quebra de decoro. Segundo o parlamentar, o procurador usou as redes sociais para atacá-lo e interferir no pleito para a presidência do Senado em 2019.
A decisão do CNMP ocorreu depois que o ministro Gilmar Mendes acolheu pedido da Advocacia-Geral da União para suspender a decisão de Celso de Mello que havia trancado o julgamento.
Em sua despedida da Lava Jato, Deltan agradeceu o apoio da sociedade: “Sonhamos junto o sonho de um país menos corrupto. Serei eternamente grato a vocês por isso”.
O procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira assumiu o comando da força-tarefa em Curitiba e prometeu buscar a continuidade do trabalho desenvolvido por Deltan desde 2014.
“Em time que está ganhando, não se mexe”, afirmou Oliveira.
Mas o time perdeu o capitão.
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