Trégua com Gilmar aproximou Kassio de Lula
Desde que a Lava Jato atingiu Aécio Neves e o Poder Judiciário, e Gilmar se uniu a Lula contra a força-tarefa, o lulogilmarismo é o eixo central do atual regime de poder na República do Escambo brasileira
Apontada por mim desde dezembro de 2023 em O Antagonista (tanto no Papo Antagonista de 6/12 quanto em artigos de 15 e 20/12), a aliança entre Lula e o primeiro indicado por Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, Kassio Nunes Marques (foto) — que já havia emplacado seu aliado João Carlos Mayer Soares no TRF-1 quando pediu vista no julgamento da Lei das Estatais, como quis o governo —, foi esmiuçada em matéria do Globo de domingo, 10.
“A aproximação com o Palácio do Planalto já rendeu conversas ao pé do ouvido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aumento da influência em tribunais federais, onde emplacou aliados. As escolhas, ao final, são feitas pelo presidente da República”, registra o jornal, destacando os operadores políticos, com ou sem toga, por trás do acordão.
“Um dos facilitadores da aproximação foi o ex-governador do Piauí, estado natal de Nunes Marques, e hoje ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), de quem é amigo. Mas, nos bastidores do Supremo, a avaliação é a de que o estreitamento de laços entre Lula e Nunes Marques teve como ponto de partida a aproximação com Gilmar Mendes, hoje um dos integrantes do STF com maior trânsito no Planalto.”
Lulogilmarismo
Como tenho apontado desde que a Lava Jato atingiu Aécio Neves e o Poder Judiciário, e Gilmar se uniu a Lula contra a força-tarefa, o lulogilmarismo é o eixo central do atual regime de poder na República do Escambo brasileira.
“Nunes Marques e o decano da Corte tiveram momentos de atrito em julgamentos. Em 2021, Gilmar contestou um voto do colega afirmando que o argumento não era válido ‘nem aqui nem no Piauí’. No primeiro julgamento dos atos golpistas de 8 de janeiro, o decano retrucou outro posicionamento dizendo que a cadeira do ministro também estava na Praça dos Três Poderes, lembrando a violência dos ataques.
A trégua foi costurada pela advogada Guiomar Mendes, mulher de Gilmar, no final do ano passado. Um jantar na casa do decano, em Brasília, selou a paz, e Nunes Marques mostrou que, apesar das divergências em alguns temas, na maior parte dos julgamentos os dois têm o mesmo posicionamento”, diz a matéria.
Lei das Estatais
Além do pedido de vista no caso da Lei das Estatais, o que, na prática, prorrogou o tempo para indicações políticas do governo em empresas públicas e segurou o julgamento até a chegada de Flávio Dino ao STF para desempatar o placar no plenário a favor dos interesses de Lula, Kassio tem outros trunfos para conseguir agrados do lulogilmarismo.
“Para além dos acenos políticos, casos importantes para o Planalto estão no gabinete de Nunes Marques. Um deles é a ação em que o Executivo questiona a redução do poder de voto da União na Eletrobras. Em um primeiro movimento, considerado pró-governo, o ministro encaminhou o caso para ser solucionado pela Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, da Advocacia-Geral da União (AGU)”, lembra o jornal.
As instituições estão funcionando, como sempre, a serviço dos interesses pessoais de seus comandantes, devidamente negociados entre eles nos bastidores do poder.
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