Por que ninguém compra a Braskem? Pergunte à Petrobras
Segundo o presidente da estatal, Jean Paul Prates, a estatal poderia "eventualmente" comprar a participação da Novonor, ex-Odebrecht, na petroquímica
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta terça-feira, 7, que “não havendo um comprador”, a estatal pode adquirir a participação da Novonor, ex-Odebrecht, na petroquímica Braskem.
A declaração veio um dia depois de a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) desistir de uma negociação iniciada em novembro do ano passado. Antes disso, o grupo J&F e a Unipar já haviam feito ofertas pela fatia da Novonor na companhia, que corresponde a 50,1% das ações. Essas propostas também foram abandonadas.
Se ao menos três empresas chegaram fazer ofertas de até 10,5 bilhões de reais, a ideia de “não haver compradores” não procede. É por algum outro motivo que o negócio não se concretiza.
A Petrobras é o obstáculo
O problema estaria no passivo da Braskem em Maceió, onde seus trabalhos de mineração causaram o afundamento do solo de cinco bairros? As indenizações devidas pela empresa chegaram ao montante de 14,4 bilhões de reais.
É improvável, porque esses fatos já eram conhecidos quando as propostas de compra foram apresentadas.
Há uma outra possibilidade: o obstáculo seria a própria Petrobras, que detém 36,1% do capital da Braskem. Ela ganha força diante das outras declarações de Prates na entrevista concedida à agência epbr.
Sócio “adequado”
Segundo o petista, a estatal poderia ampliar sua participação na Braskem até pelo menos 50% do capital, para estar em “igualdade de condições” com qualquer futuro sócio:
“Essa é a nossa chance de colocar no mínimo o co-controle da empresa, que é muito importante para nós, e na nossa visão de gestão atual, liderada inclusive pelo presidente Lula.”
A outra saída aceitável para a Petrobras seria encontrar um sócio “adequado”:
“Podemos obviamente assistir todo esse processo (de venda), participar dele, e não exercer a opção ao final em função do sócio ser adequado e das proporções e dos acordos serem satisfatórios para nós.”
Os bons companheiros
Deu para entender? Procura-se um sócio alinhado aos objetivos da própria Petrobras e do governo Lula. Um parceiro disposto a fazer da Braskem não apenas uma companhia rentável, mas também uma ferramenta no projeto político do PT e um playground para a companheirada sindicalista que exerce enorme influência na petrolífera.
A Novonor foi esse sócio por muito tempo. Aliás, só tenta se desfazer de sua participação na Braskem porque isso é indispensável para revitalizar o coração do grupo, que é a construtora.
A Petrobras salva a pele da Novonor se comprar o seu pedaço na Braskem. Ao mesmo tempo, garante o controle estatal sobre o setor petroquímico. Se vender mais tarde uma parte das ações, não se contentará em assegurar “no mínimo o co-controle da empresa”, como disse Prates.
Capitalismo deformado
Essa história desperta uma desagradável sensação déjà vu. A Petrobras parece querer de volta um mundo de empresas-comparsas. Como se o petrolão jamais tivesse acontecido.
Há muito que admirar na Petrobras. Sob o controle do petismo e da elite sindical aliada do partido, no entanto, ela ganha feições perversas, usando o seu peso para deformar o capitalismo brasileiro.
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