O que restou de Bolsonaro?
Ex-presidente pediu desculpas a Moraes, disse que os desafios ao STF eram retóricos e não conseguiu esconder suas motivações ao depor sobre a trama golpista
É preciso estar cego pela paixão política para não constatar que foi desastroso para Jair Bolsonaro (à direita na foto) o encontro cara a cara com Alexandre de Moraes (ao centro na foto) no julgamento da trama golpista pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Assim como grande parte de seus colegas de processo, o ex-presidente não conseguiu esconder as reais motivações das reuniões que manteve com a cúpula das Forças Armadas ao longo de seu governo, e em especial após perder a eleição de 2022 para Lula.
Pior: pediu desculpas pelas acusações que fez aos ministros do STF, atribuindo tudo a rompantes retóricos, e desdenhou dos apoiadores que clamavam por intervenção militar — cuja ideia ele alimentou durante praticamente todo o mandato — como “malucos”.
O que significa virar a mesa?
Apesar de o ex-comandante da Marinha Almir Garnier dos Santos dizer que os bolsonaristas estavam preocupados com uma possível convulsão social (da qual eles seriam os principais beneficiários após a eleição de Lula), nenhum dos depoentes conseguiu dar uma boa explicação para as ameaças — públicos ou a portas fechadas — que fizeram às instituições brasileiras.
O general da reserva Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência de Bolsonaro, chegou a dizer, em seu depoimento, que “virar a mesa” significa uma “ação imediata”, e que nada teria a ver com ações contrárias à Constituição.
O problema é que todo mundo sabe que virar a mesa significa parar de seguir as regras do jogo.
Heleno foi o único dos depoentes do chamado “núcleo crucial” da trama golpista que manteve alguma pose diante de Moraes, ao se recusar a responder às perguntas do relator do caso, mas acabou caindo em casas de banana jogadas pelo próprio advogado.
Não pintou um clima
“Não havia clima”, disse Heleno ao ser questionado por Matheus Milanez, seu defensor, sobre a acusação de ter orientado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para investigar as campanhas durante a eleição de 2022.
O advogado se incomodou com a resposta do cliente e pediu para o general responder apenas “sim” ou “não”, mas era tarde demais. A Abin não foi direcionada só porque não havia clima?
Bolsonaro usou a mesma palavra ao refutar que Garnier teria colocado as tropas da Marinha a sua disposição, e acrescentou outra: “oportunidade”.
“Em hipótese alguma. Não existe isso. Se nós fossemos prosseguir em um estado de sítio e de defesa, as medidas seriam outras. Não tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida para fazer qualquer coisa”, alegou o ex-presidente.
Assine Crusoé e leia mais: Os homens que barraram o golpe
O que resta?
Tudo isso faria parte de uma estratégia jurídica para configurar vontade dos réus, mas afastar a execução de um golpe. O problema é que o STF já configurou a execução do golpe nas pesadas condenações pelos atos de 8 de janeiro, e não parece haver nenhum espaço para recuos na Corte.
Sendo assim, Bolsonaro deve ser condenado pelos cinco crimes de que é acusado, mesmo abrindo mão, no depoimento da terça-feira, de boa parte da empáfia com que desafiou os ministros do STF nos últimos anos, e, ao mesmo tempo, desprezando os apoiadores que confiaram nas ilusões que ele projetou sobre protagonismo dos militares na política brasileira.
Não restou muita coisa.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (5)
Clayton De Souza pontes
11.06.2025 20:37É melhor um fim horror que um horror sem fim. Bom que temos a possibilidade de votar em alguém fora dessa polarização
ale
11.06.2025 16:43Quando o sujeito vai fazer a análise de alguma coisa mas já está com ideias preconcebidas sai o que está escrito isso ai pelo Rodolfo Borges.
Angelo Sanchez
11.06.2025 12:21Aqueles corruptos dos governos petistas que foram anistiados são os que pedem a prisão de membros do governo do ex-presidente Bolsonaro. Mas, ontem ficou esclarecido que nunca houve documento de golpe e sim um Decreto que previa estado de sítio em caso de fraude eleitoral, como ficou comprovado a lisura das urnas, tudo segue a vida normal e ninguém será condenado.
Um_velho_na_janela
11.06.2025 11:19O que restou? Restou a imensa dúvida de como uma população de milhões exaltou, elegeu e apoiou um político com trinta anos de inutilidade total , uma capivara criminal extensa, com registros de terrorismo, peculato, apoio á milícia e ao Escritório do Crime, e ataques subversivos às instituições e á democracia, pregando guerra civil e fazendo apologia da tortura.
alonso tarcílio barbosa
11.06.2025 10:48Ao menos explica porque eles gostam da cor "amarela" da camiseta da seleção brasileira!