O que há de incorreto no politicamente correto?

16.05.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

O que há de incorreto no politicamente correto?

avatar
Gustavo Nogy
3 minutos de leitura 17.04.2025 15:33 comentários
Análise

O que há de incorreto no politicamente correto?

Filósofo esloveno Slavoj Žižek critica a cultura do politicamente correto e suas derivações

avatar
Gustavo Nogy
3 minutos de leitura 17.04.2025 15:33 comentários 2
O que há de incorreto no politicamente correto?
Foto: Mariana R. Costa

Será que alguém gosta, mas gosta meeesmo, no duro, a sério, de ordens, reprimendas, exigências, demandas, gritos, ameaças, xingamentos ou proibições? Salvo em ocasiões muito específicas, que não vêm ao caso, pouca gente gosta.

O fato é que a gente se acostuma, porque faz parte do jogo de encaixe social. Não podemos ser o que somos o tempo todo, nem fazer o que queremos todas as vezes. Mas de um chefe mandão, um pai autoritário, um cônjuge irritante… Deus nos livre e guarde.

Ainda assim, defende o filósofo esloveno Slavoj Žižek, a frontalidade nas relações humanas, inclusive no que têm de pior, continua a ser a melhor opção de que dispomos para lidar com nossos semelhantes (e nem tão semelhantes…).

O bom-mocismo totalitário

Para o filósofo, o politicamente correto – tentativa pós-moderna de diluir as relações de coerção em uma papinha que mistura bom-mocismo, etiqueta, hipersensibilidade e oportunismo – joga a sujeira do autoritarismo para debaixo do tapete do superego.

Ele dá um exemplo curioso, entre tantos:

Imaginem só… Eu sou um moleque pequeno. É domingo à tarde. Meu pai quer que eu visite minha avó. Digamos que meu pai exerça sua autoridade daquele jeito mais tradicional. O que ele faria? Provavelmente diria algo como: ‘Não me importa se você quer ou não; é seu dever visitar sua avó.’”

De acordo com Žižek, no melhor espírito de outro “filósofo”, Arnaldo Cezar Coelho, “a regra é clara”: você tem obrigação moral de visitar sua avó. Ponto final.

Mas o que costuma fazer o pai pós-moderno, preocupado em não parecer autoritário? Ele vai dizer o seguinte:“Você sabe o quanto sua avó ama você, mas não quer dizer que você tem obrigação de visitá-la. Não vou forçar. Mas ela ficaria feliz…”

Pronto: o pai trocou uma ordem direta por um sentimento de culpa. Ele, para si mesmo e para a “sociedade”, se sai bem. Você, por sua vez, terá de lidar com a dúvida sobre suas ações e, o que é pior, suas intenções.

Ele fingiu dar a você a liberdade de ir ou não ir, mas fez isso introjetando na sua cabeça um grilo moral pegajoso. Sua relação com a sua avó aos poucos se transformará em chantagem emocional. Além disso, você, quando imaturo, aprende que representar sentimentos é mais útil que senti-los de verdade.

Eufemismos não vão mudar a vida de ninguém

Esse foi apenas um entre tantos exemplos – racismo, cuidados com a saúde, piadas – que Slavoj Žižek deu para ilustrar sua hipótese: nossos preconceitos, nossas rejeições, nossas preferências, nossos riscos, nossas mesquinhezes representam o que somos e indicam o quanto podemos melhorar.

Redefinições, eufemismos, terminologias, disputas semânticas ou invenções etimológicas não resolvem problema nenhum. Criam outros. O politicamente correto não é apenas autoritário. É uma manifestação cultural de totalitarismo.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Crusoé: AGU não é advogada da Janja

Visualizar notícia
2

“Eu não tinha que fazer nada, não”, diz ministro sobre denúncias de fraudes

Visualizar notícia
3

IA chinesa que aprende sozinha surpreende cientistas

Visualizar notícia
4

Senador do PT assina CPMI do roubo das aposentadorias

Visualizar notícia
5

“Distopia generalizada”: deputado propõe multa a quem levar bebê reborn ao SUS

Visualizar notícia
6

Jaguar desiste de rebranding woke

Visualizar notícia
7

Deputados abrem frente contra “bebê reborn”

Visualizar notícia
8

Governo Lula: do “eu não sabia” ao “a culpa é sua”, passando pelo pombo jogando xadrez

Visualizar notícia
9

Deputado quer ampliar interpretação da “legítima defesa”

Visualizar notícia
10

TikTok envia carta ao Itamaraty após crítica de Janja na China

Visualizar notícia
1

“Eu não tinha que fazer nada, não”, diz ministro sobre denúncias de fraudes

Visualizar notícia
2

"Não me vejo capaz de ser cuidada como devo ser", diz Zambelli sobre prisão

Visualizar notícia
3

Ministro defendeu constitucionalizar atuação de sindicatos para atuar em aposentadorias

Visualizar notícia
4

Governo Lula: do “eu não sabia” ao “a culpa é sua”, passando pelo pombo jogando xadrez

Visualizar notícia
5

Deputado quer ampliar interpretação da “legítima defesa”

Visualizar notícia
6

“Distopia generalizada”: deputado propõe multa a quem levar bebê reborn ao SUS

Visualizar notícia
7

O que podemos aprender com a vida e a obra de Carla Zambelli

Visualizar notícia
8

Justiça destitui Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF

Visualizar notícia
9

Deputados abrem frente contra “bebê reborn”

Visualizar notícia
10

Caiado promete anistia a Bolsonaro se eleito presidente

Visualizar notícia
1

O suco de bolsopetismo no Senado

Visualizar notícia
2

Governo Lula, EBC e o vale-tudo eleitoral

Visualizar notícia
3

A instrumentalização da AGU por Janja

Visualizar notícia
4

Ministro de Lula leva invertida de Moro

Visualizar notícia
5

CBF vai ao STF contra afastamento de Ednaldo

Visualizar notícia
6

O que podemos aprender com a vida e a obra de Carla Zambelli

Visualizar notícia
7

Zema ironiza Lula com meme de bebê reborn: “Apertou, faz caquinha”

Visualizar notícia
8

Deputada pede informações a ministra sobre indicação de Waguinho na PortosRio

Visualizar notícia
9

Substituto de Ednaldo garante Ancelotti: “O povo gostou”

Visualizar notícia
10

INSS registra mais de 1 milhão de pedidos de reembolso em 48h

Visualizar notícia

logo-oa
Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

politicamente correto
< Notícia Anterior

O que o novo Renault Kardian entrega vai te surpreender

17.04.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

EUA: Tiroteio em universidade na Flórida deixa feridos

17.04.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Gustavo Nogy

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (2)

ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO

21.04.2025 18:28

Uma área muito atingida aqui é a resignificação de palavras principalmente quando querem fazer crer que são racistas. O maior exemplo é a palavra "denegrir", cujo significado é no sentido de manchar, já tinha seu equivalente no latim mais de 2 séculos antes de Cristo nesse sentido, e quando praticamente nenhum romano, ou europeu em geral jamais vira uma pessoa de preta. A própria atual ministra do meio ambiente já passou recibo no Congresso de seu desconhecimento em cima do termo "caixa preta", dizendo que era termo racista. Cruz Credo! Desconhece ela que as atuais "caixas pretas" dos aviões, hoje de um laranja bem chamativo" eram realmente pretas e mudaram de cor para facilitar a localização, mas a expressão continuou. Duvido muito que alguém tenha imaginado a imagem de um africano ou afro-descendente quando forjou o termo para tal equipamento.


Fabio B

17.04.2025 18:57

Se "politicamente" correto fosse mesmo correto, não precisaria do "politicamente" junto, o correto por si já bastaria.


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

“A nossa Polícia” e a dos outros

“A nossa Polícia” e a dos outros

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
Crusoé: O que a febre &quot;bebê reborn&quot; diz sobre o brasileiro

Crusoé: O que a febre "bebê reborn" diz sobre o brasileiro

Duda Teixeira Visualizar notícia
Senadores disputam preliminar da CPMI do roubo dos aposentados

Senadores disputam preliminar da CPMI do roubo dos aposentados

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Governo Lula: do “eu não sabia” ao “a culpa é sua”, passando pelo pombo jogando xadrez

Governo Lula: do “eu não sabia” ao “a culpa é sua”, passando pelo pombo jogando xadrez

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.