O mercado não chora
Que Lula se recupere bem da cirurgia na cabeça e melhore sem piorar ainda mais a saúde do Brasil — e de todos os brasileiros
O dólar fechou abaixo dos 6 reais na quarta-feira, 11, após uma sequência de altas recorde, horas depois de ser anunciado que o presidente Lula teria de passar por um novo procedimento cirúrgico na manhã de quinta-feira, 12.
Quem não gosta do mercado financeiro aproveitou, como era de se esperar, para atacar sua insensibilidade — mas o mercado não sente nada mesmo. É como atacar o termômetro que mede uma febre, na comparação que corre pelas redes sociais.
A alta do dólar registrada nas últimas semanas foi diretamente influenciada pela constatação de que o ambiente para investimento no Brasil piorou, como consequência da dificuldade — ou desinteresse — do governo Lula de cumprir as promessas de responsabilidade fiscal.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, disse o Banco Central (BC) ao anunciar a elevação da taxa básica de juros em um ponto percentual naquela quarta-feira.
Contexto
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, apressou-se, como de costume, em apontar o dedo para Roberto Campos Neto, que presidiu sua última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. E foi mais uma vez corrigida pela comunidade do X:
“A decisão unânime de aumentar a taxa básica de juros contou com influência do Governo Lula, que indicou quatro dos nove membros do Copom, incluindo Gabriel Galípolo, próximo presidente do Banco Central. Em janeiro, mais três indicados por Lula assumirão.”
Quem enxerga os movimentos do mercado como resultado de maquinações maquiavélicas precisa se olhar no espelho quando resolve gastar dinheiro na Black Friday, por causa do incentivo que o desconto lhe dá para comprar, ou na hora de projetar os gastos do mês ou fazer investimentos.
O mercado
Não é preciso combinar com ninguém para que as vendas aumentem no Natal, quando se eleva entre os familiares a expectativa de ganhar e dar presentes.
Pode ser que uma tia ou um cunhado resolvam gastar muito ou pouco no presente do amigo secreto, que um primo tente (e até consiga) influenciar no valor máximo ou mínimo da brincadeira, mas o poder dessa especulação é localizado, limitado e ocasional.
E por que você emprestaria dinheiro para um vizinho que nunca paga o que deve, que só sabe gastar em busca da aprovação da vizinhança inteira?
Dominância fiscal?
A dívida pública do governo subiu de 71,7% para 78,6% do PIB desde 2022. Enquanto os governistas celebram a bonança momentânea do período de aumento do gasto público, quem realmente lida com dinheiro com alguma responsabilidade tenta se proteger do cenário caótico que se avizinha.
“Eu acho que hoje o risco de uma dominância fiscal é real”, alertou o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos, no início da semana passada. Nesse cenário, o BC não teria mais condições de segurar a inflação com aumentos na taxa básica de juros.
É nesse contexto que a possibilidade de Lula, o grande responsável pelo descontrole dos gastos públicos, não concorrer à reeleição em 2026 devolve alguma esperança aos investidores no Brasil. Não se trata de Lula em si, nem de suas alegadas boas intenções em relação ao “pobre”, mas de sua política econômica.
Pode ser que haja algum banqueiro ou investidor malvado torcendo neste momento, em seu castelo de mármore, pela morte de Lula, mas o que os números dizem é que muita gente perdeu dinheiro apostando ingenuamente que o petista iria criar um ambiente econômico saudável.
Que Lula melhore sem piorar ainda mais a saúde do país.
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