O agente duplo Fux

31.03.2025

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O agente duplo Fux

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Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 27.03.2025 09:44 comentários
Análise

O agente duplo Fux

Ministro do STF divergiu de Moraes duas vezes e virou esperança para os advogados dos réus pela trama golpista, mas parece mais preocupado com a imagem do julgamento

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Rodolfo Borges
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O agente duplo Fux
Foto: Antonio Augusto/STF

Os defensores dos réus que serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado depositam suas esperanças no ministro Luiz Fux (foto), que divergiu levemente do relator do caso, Alexandre de Moraes, no julgamento em que a denúncia foi recebida.

Fux votou sozinho por aceitar o questionamento de que a deliberação deveria ocorrer no plenário do STF, e não na Primeira Turma, composta por cinco ministros. E também questionou o fato de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, ter feito “nove delações”, “cada hora acrescentando uma novidade“.

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Apesar das divergências, o ministro votou, junto com os outros quatro colegas de Turma, por aceitar integralmente a denúncia contra os oito acusados de comandar a trama golpista. Diante disso, o que significam as divergências de Fux?

A cabeleireira

Os advogados envolvidos no caso já sinalizam que vão explorar as discordâncias manifestadas por Fux, e eles não parecem ter mais para onde correr mesmo.

Mas o fato de o ministro ter se manifestado durante o julgamento sobre o caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, cujo julgamento foi interrompido por um pedido de vistas seu, sugere que Fux tem outra preocupação em mente: a imagem pública do julgamento.

O caso de Débora não é muito diferente dos de outros condenados pelo 8 de janeiro, como O Antagonista já destacou, mas é o que chamou mais atenção e causou mais comoção pública, causando mais dano à imagem do julgamento.

Debaixo da toga bate o coração de um homem“, disse o ministro ao comentar que vai fazer uma revisão da dosimetria da mulher que ficou famosa por pichar “perdeu, mané” na estátua da Justiça. Moraes votou por 14 anos de prisão e 30 milhões de reais em multa, e foi seguido por Flávio Dino antes de Fux interromper o julgamento, que ocorre no plenário virtual.

Pegou mal

A pena para Débora, cuja prisão já vinha sendo usada como símbolo do autoritarismo de Moraes pelos defensores de Bolsonaro, pegou muito mal. E tem sido usada para reforçar o discurso de que o ex-presidente é perseguido.

Não por acaso, Bolsonaro tem convocado manifestações em defesa da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, e não em sua própria defesa, apesar de obviamente contar com o perdão decorrente do benefício que seus aliados tentam aprovar no Congresso Nacional.

Caso a pena de Débora venha a ser reduzida como consequência da intervenção de Fux, o discurso bolsonarista se enfraquece. E o mesmo ocorrerá como decorrência de qualquer modulação no julgamento da trama golpista. Quanto mais criterioso o julgamento, mais forte virá a sentença.

Holofotes divididos

Ao se apresentar para o jogo, ainda que com divergências muito pontuais em relação a Moraes, Fux divide os holofotes com o relator do caso, já desgastado por tanto protagonismo nesse processo.

Agora, o caso não se trata apenas de um ministro em busca da condenação de um ex-presidente, mas de um tribunal com ministros que divergem, um colegiado, uma instituição que pondera.

O STF depende dessa perspectiva para que a esperada condenação de Bolsonaro soe justa. A ONG Transparência Internacional Brasil disse isso com todas as letras em manifestação sobre o caso:

“Defendemos que as instituições brasileiras atuem com independência, imparcialidade e estrito respeito aos princípios constitucionais. Os processos de responsabilização dos conspiradores devem também perseguir o objetivo de normalização do regime democrático brasileiro.

Ainda que venham a atenuar penas, as ponderações de Fux devem ter o condão de fortalecer o julgamento, e não enfraquecê-lo, como esperam as defesas e torcem os apoiadores de Bolsonaro.

Leia mais: Batom na cueca do STF

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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Comentários (4)

FRANCISCO JUNIOR

29.03.2025 18:00

Amaury Feitosa confundiu os processos. O que nasceu ilegal foi o das fake-news. Esse aí da tentativa de golpe tem competência originária no STF pela própria CF pois interessa à maioria dos ministros (um dos incisos do artigo 102); além disso o regulamento prevê essa competência pelo crime ter sido nas dependências do STF, tanto que foi em uma interpretação absurda que falaram que a competência do inquérito das fake news era lá - mas ninguém contestou esse item do regulamento na época.


Amaury G Feitosa

29.03.2025 10:43

Este processo que começou ilegal no nascedouro jamais deveria estar no STF já que nenhum dos acusados tem privilégio de foro mas a ditadura se lixa para estuprar as leis e o processo legal enquanto o Congresso Nacional omisso, submisso, rendido ou vendido por emendas paRAMENTARMOS comete o mais hediondo dos crimes a omissão e a pressão que já enfrentam descambará na fatal anistia inclsive aos graves crimes cometidos pelos ditadores de plantão que se imaginam donos do mundo e já desconfiam que não são ... o contra golpe se dará pela lei e quem viver verá.


saul simoes junior

27.03.2025 10:51

Lembram do " in Fux we trust", continua sendo o mesmo de sempre. José Dirceu garante!


Um_velho_na_janela

27.03.2025 10:37

O até agora, ínclito ministro Fux, seria uma decepção nacional se virasse o Lewandowski do Bolsonaro.


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