Mas é óbvio que Marta traiu Nunes
Tão logo foi confirmada a migração de Marta Suplicy da Secretaria de Assuntos Internacionais da cidade de São Paulo para a chapa de oposição encabeçada por Guilherme Boulos, começou o trabalho na imprensa e nas redes sociais para...
Tão logo foi confirmada a migração de Marta Suplicy (foto, ao centro) da Secretaria de Assuntos Internacionais da cidade de São Paulo para a chapa de oposição encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL-SP), começou o trabalho na imprensa e nas redes sociais para negar que ela tenha traído o prefeito Ricardo Nunes. Mas é óbvio que traiu, ora pois!
Há quem diga que Nunes não pode reclamar de ter sido pego de surpresa, porque a mudança já vinha sendo ensaiada há cerca de um mês. Chega-se ao ponto de acusar o prefeito de ser “mau perdedor”, por insistir em exonerar a secretária, em portaria publicada no Diário Oficial do município nesta quarta-feira, 10, em vez de permitir que ela saísse airosamente com uma carta de demissão.
Tudo isso é tergiversação e passa longe da raiz do problema: Marta não deixou a prefeitura para pensar na vida, mas para fortalecer a candidatura do principal adversário do seu antigo chefe. Se isso não for traição, a palavra não tem mais sentido.
Não é só isso. Embora a secretaria ocupada por Marta fosse um tanto periférica, Nunes a prestigiou com um posto em seu conselho político e fazia questão de ouvi-la nas principais decisões da gestão. É claro que ele se beneficiava da experiência da futura ex-petista e do seu conhecimento da cidade, mas, novamente, isso também significa que o titular do cargo depositou confiança em Marta – que agora vai trabalhar para chutá-lo da cadeira.
Saiu de férias
Por fim, vejamos o que aconteceu entre o momento em que os boatos sobre a chapa Boulos-Marta começaram a circular com mais força, no começo de dezembro, e esta terça-feira, 9, quando ela e o prefeito se reuniram para resolver a parada. Primeiro, ela saiu de férias. Depois, deixou o prefeito no escuro a respeito de tratativas que estivessem acontecendo entre ela e Lula.
Coube a um assessor da ex-secretária avisar que um encontro entre Marta e o presidente da República (que acabou não acontecendo) estava marcado em meados de dezembro. Informações de que só faltava registrar a certidão de casamento passaram a chover sobre o entorno de Nunes, sem que uma palavra sequer fosse endereçada a ele por Marta. Nesta segunda-feira, 8, ela foi tomar café com Lula em Brasília –mais uma vez, sem qualquer alerta prévio. Operar na sombra, sem dar à outra parte interessada a chance de se manifestar, é sinal clássico de traição.
O melhor argumento de Marta vem do fato de Nunes ter pedido o apoio de Jair Bolsonaro no final de 2023. Dado o seu histórico político, é legítimo que ela não queira participar de um projeto eleitoral que terá o capitão de extrema direita como um dos principais fiadores. Ainda assim, há uma diferença entre deixar o barco e saltar diretamente para o navio do inimigo. Com ou sem apoio de Bolsonaro (e muita coisa ainda pode acontecer), quem vai perder ou ganhar as eleições em outubro é Nunes, com quem Marta havia desenvolvido – ou parecia ter desenvolvido – uma relação de confiança.
Essa história diz algo a respeito do estilo de Nunes. Assim que os rumores sobre Marta começaram, bolsonaristas ao redor do prefeito pediram uma ação fulminante. Nunes preferiu pagar para ver. Nesta terça, o seu encontro com Marta transcorreu sem agressões e o relato que saiu do gabinete foi de uma demissão “em comum acordo”. Tudo isso denota uma serenidade raramente encontrada na política de hoje em dia. A dúvida é se esse é um traço desejado pelos eleitores que podem dar a reeleição ao atual prefeito.
Este artigo se preocupa com o que aconteceu. Marta teve um comportamento leal? Sob qualquer parâmetro válido para a política ou outro tipo de interação social, ela traiu Ricardo Nunes. A partir disso, virão discursos e lorotas. Aliados e marqueteiros de Nunes podem trabalhar para vitimizá-lo. A esquerda dirá que Marta não fez nadinha de errado. Bolsonaristas empenhados em puxar o tapete do prefeito o descreverão como um banana. E assim por diante. Mas os fatos, esses, não mudam.
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