Manifestação bolsonarista e maioria dos brasileiros têm prioridades distintas
Entenda o contraste entre as pautas, em meio a disputas eleitorais e judiciais

O bolsonarismo saiu às ruas neste domingo, 6 de abril, em São Paulo, em absoluta desconexão com as demandas da maioria da população brasileira, segmento que abrange, inclusive, uma parcela significativa do eleitorado que votou em Jair Bolsonaro contra Lula em 2022.
O ato tem como pauta prioritária a anistia dos envolvidos no 8/1, explorada pelo réu Bolsonaro em sua tentativa de não ser preso por eventual decisão do Supremo Tribunal Federal de condená-lo no caso da trama de golpe.
Os dados da pesquisa Quaest mostram que a insatisfação com o lulismo não significa, necessariamente, adesão ao bolsonarismo.
A maioria dos brasileiros:
– desaprova o governo Lula (56%).
E avalia que:
– Lula não é bem intencionado (47%)
– não cumpre promessas de campanha (71%)
– o Brasil está indo na direção errada (56%)
– a economia do Brasil piorou (56%)
– o preço dos alimentos subiu (88%)
– o preço dos combustíveis subiu (70%)
– o poder de compra é menor (81%).
Além disso, a maior preocupação do povo é com a violência (29%), seguida de questões sociais (23%) e da própria economia (19%).
No entanto, a maioria dos brasileiros:
– tem mais medo de Bolsonaro voltar (44%) que de Lula continuar (41%)
– avalia que o STF foi justo ao tornar Bolsonaro réu (52%)
– e defende que os envolvidos no 8/1 continuem presos (56% contra a anistia).
Os eleitores não bolsonaristas do antilulismo
Embora no segmento que votou em Jair Bolsonaro contra Lula em 2022 a maioria (61%) seja a favor da libertação dos envolvidos no 8/1, apenas 36% defendem que eles sejam soltos “porque nem deveriam ter sido presos”.
Os outros 25% (da soma que resulta nos 61% a favor da libertação) acham apenas que eles “já estão presos por tempo demais” (mais de 2 anos), ou seja: não foram contra as prisões.
Já 32% dos eleitores que votaram em Bolsonaro são contra a anistia, ou seja, defendem que os envolvidos no 8/1 continuem presos.
Esses números indicam que uma parte significativa dos eleitores que votaram contra Lula não é bolsonarista, ou, pelo menos, não segue a agenda do bolsonarismo em tudo.
Ainda que 74% dos eleitores que votaram em Bolsonaro considerem injusta a decisão do STF de torná-lo réu, 16% deles consideram justa, assim como a maioria (51%) dos que votaram branco e nulo ou que não foram votar em 2022.
O poder dos “isentões”
A distinção entre o bolsonarismo e outros segmentos não lulistas da sociedade brasileira fica ainda mais clara pelas respostas à pergunta: “Na escala das posições políticas, em qual grupo você se encaixa?”
– 12% bolsonarista
– 21% não é bolsonarista, mas mais à direita
– 33% não tem posicionamento
– 12% não é lulista/petista, mas mais à esquerda
– 19% lulista
A direita não bolsonarista (21%), portanto, é maior que o bolsonarismo (12%), enquanto a esquerda não lulista (12%) é menor que o lulismo (19%).
Em outras palavras, o bolsonarismo é mais dependente do direitismo não bolsonarista (“isentões” de direita) que o lulismo é da esquerda não lulista (“isentões” de esquerda), sobretudo no primeiro turno das eleições.
Em disputas polarizadas de segundo turno, a tendência, claro, é que cada populista ganhe a adesão do restante do campo ideológico que diz representar (ainda que Bolsonaro, em 2021, tenha confessado: “Eu sou do Centrão”).
Como existe empate técnico entre as somas de cada lado (lulistas + esquerda não lulista = 31%; bolsonaristas + direita não bolsonarista = 33%), quem costuma decidir o segundo turno é o mais numeroso (33%) de todos os segmentos, ou seja, aquele que “não tem posicionamento” (os “isentões” ideologicamente neutros).
Em 2018, Jair Bolsonaro chegou ao poder porque, no segundo turno, absorveu quase a totalidade da direita não bolsonarista e a maior parte do segmento sem posicionamento, ambos insatisfeitos com os escândalos de corrupção e a crise econômica dos governos do PT.
Bolsonaro perdeu para Lula em 2022 porque governou para a bolha bolsonarista, deixando escapar votos decisivos fora dela, como antecipei, por exemplo, em maio de 2020 no vídeo: “A breve marcha de volta para o gueto”.
Quanto mais o bolsonarismo se volta para a defesa da própria família Bolsonaro, enrolada com a Justiça, mais se desconecta das demandas prioritárias da maioria da população brasileira e, com efeito, mais perde tração no eleitorado neutro e na direita não bolsonarista.
Mas ninguém larga a mão de ninguém.
O pedágio moral
Na falta de um(a) candidato(a) carismático(a), com sensatez empolgante e fibra moral, capaz de absorver votos em três dos segmentos de “isentões” (de direita + de esquerda + neutros = 66% da população), ou pelo menos em dois deles (de direita + neutros = 54%; de esquerda + neutros = 45%), o que se vê de cada lado é o pedágio moral ao respectivo populista.
Os governadores Ronaldo Caiado, que já lançou pré-candidatura para 2026, e Tarcísio de Freitas, que se mantém no páreo, publicaram fotos com o inelegível Bolsonaro nas redes, enquanto se dirigiam à Av. Paulista para defender a anistia dos envolvidos no 8/1.
O maior perigo, para eles ou qualquer potencial candidato à direita, é mirar demais nos 12% bolsonaristas e, por excesso de complacência, acabar perdendo o restante do eleitorado, que só quer uma vida melhor, com menos gritaria.
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Comentários (1)
Flavio Da Costa Ferreira
10.04.2025 23:45Perfeito!!