Maduro apela a diabos e diabas e Lula, a Lúcifer. Chamem um exorcista
Quando políticos não têm como descer mais fundo, os caras se superam e encontram um alçapão. Religião e Estado nunca terminam em boa mistura
Dos muitos traumas – conscientes e inconscientes – que tenho, certamente algum se deve ao filme O Exorcista, de 1974. Eu era moleque, e a despeito das advertências dos meus pais, banquei o valente e me deparei com a adolescente Regan (Linda Blair), descendo escada como uma aranha de cabeça para baixo, girando a cabeça como um pião e espalhando uma gosma verde por todos os cantos do quarto. Sem falar, é claro, na cena em que blasfema Jesus com um crucifixo nas mãos, berrando aquela palavra com F.
Não me considero ateu. Talvez agnóstico. Porém, sempre deixo uma greta para “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Assim, mesmo sem acreditar em anjos e demônios, mantenho prudente distância do que me causa arrepios – ok, confesso, medo. Mas quando divindades do mal são invocadas por bufões burlescos como Lula e Maduro, sou capaz de “chutar a macumba” e ainda beber da “marvada”. Uma coisa é ter fé, acreditar e professar uma religião, seja qual for. Outra, bem diferente, é usá-la, inclusive para ganhar dinheiro.
Em meio a mais um de seus golpes, o ditador venezuelano, em outro de seus intermináveis discursos em que desafia Elon Musk para a porrada, inventa conspirações interplanetárias e outras estultices, chamou seus opositores de “diabos e diabas” (o feminino, no caso, em referência à Maria Corina, líder da oposição à sua ditadura), e lembrou do meu filme-trauma: “…E quando digo isso, os demônios tratam como se fossem o exorcista e começa a girar a cabeça das pessoas. E isso é bastante simbólico para a Venezuela…”.
Enquanto isso, no Brasil
E não é que a moda pegou? Além das afinidades históricas entre Lula e Maduro – e antes, Chávez -, e além, também, do apoio sempre incondicional do Partido dos Trabalhadores (PT) a ditaduras e ditadores amigos, agora caminhamos para outro tipo de alinhamento: o religioso. Ontem, sexta-feira, 2 de agosto, em Fortaleza (CE), durante um evento para anunciar a expansão de um programa para alunos do ensino médio, o Pé de Meia, o presidente Lula incorporou o companheiro golpista e mandou ver:
“Tem internet do bem e a internet do mal. Tem a internet que quer construir e a internet que quer destruir. Tem a internet que quer nos ensinar o caminho de Jesus e a que quer nos ensinar o caminho de Lúcifer”. E emendou: “Tem internet que trata de educação e a internet que trata de destruir. Tem internet que fala verdade e internet que fala mentira”. Rapaz, se dissesse “amém, pessoal”, ao final do culto, digo discurso, eu diria que era o próprio Edir Macedo, em pessoa, segundos antes de pedir um Pix (doações).
Quando penso que políticos não têm como descer mais fundo, os caras se superam e encontram um alçapão no fundo do poço. Religião e Estado nunca acabaram em boa mistura. Fundamentalismo religioso, seja qual for, idem. O diabo – neste caso, não o cramunhão, mas figura de linguagem – é que populistas, mundo afora, fidelizam e mobilizam suas massas a partir de discursos místicos e pregações fantasiosas, pois pela própria natureza, impossíveis de combater. O truque, como o Diabo (agora sim o Coisa Ruim), é velho. Mas funciona.
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