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Lula faz do Brasil um aliado do mal  

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 07.03.2024 15:28 comentários
Análise

Lula faz do Brasil um aliado do mal  

Lula precisa agir de maneira explícita e imediata em favor de eleições limpas na Venezuela. Condenações posteriores não terão valor nenhum

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Carlos Graieb
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Lula faz do Brasil um aliado do mal  
Foto Antônio Cruz/EBC

Comecemos com uma listagem de fatos assustadores:  

A Venezuela é palco da maior crise humanitária da história da América Latina: quase 8 milhões de cidadãos já deixaram o país em busca de refúgio. Eis as causas para isso: fome, desrespeito aos direitos humanos básicos, repressão política, medo da criminalidade organizada (que penetrou os mais altos escalões do governo).  

A Venezuela é o único país da América Latina alvo de uma investigação no Tribunal Penal Internacional (TPI), pelo provável cometimento de crimes contra a humanidade. A corte localizada em Haia, na Holanda, decidiu retomar um inquérito sobre a violação de direitos humanos pelo regime venezuelano na última segunda-feira (4), depois de rejeitar por unanimidade um recurso pelo arquivamento. 

A Venezuela é um país onde as prisões políticas ocorrem de maneira sistemática, como atestam entidades internacionais como Anistia Internacional e Human Rights Watch. Entre 2014 e 2023, estima-se que cerca de 15.700 prisões desse tipo tenham sido feitas. Neste momento, algo em torno de 300 pessoas estão detidas nessas condições. Dessas, ao menos 100 estão na cadeia há mais de três anos.  

Seria possível continuar, mencionando, por exemplo, o cerceamento da imprensa, mas isso basta para mostrar que a Venezuela de Nicolás Maduro deixou há muito de ser um país normal.

Suprema desonestidade

Se Lula tem posicionamentos sórdidos a respeito de Vladimir Putin e do Hamas, o suporte que ele dá a Maduro é ainda pior. A “diplomacia” (aspas obrigatórias) de Lula é insignificante nos palcos da guerra da Ucrânia e da guerra em Gaza. Na Venezuela, pelo contrário, ele tem condições verdadeiras de se fazer ouvir. Mas, em vez de deixar claro de uma vez por todas que a realização de eleições presidenciais viciadas no país vizinho é inaceitável, ele se mantém ambíguo.  

Lula disse nesta quarta-feira (6) que é preciso garantir ao governo da Venezuela “presunção de inocência” na votação marcada para 28 de julho. Em outras palavras, é preciso aguardar que elas ocorram, para então questionar se foram limpas ou não.  

Num ato de suprema desonestidade política e intelectual, o presidente brasileiro disse que a oposição ao regime de Nicolás Maduro “não deve agir como Bolsonaro”, ou seja, desqualificar o processo eleitoral.  

Isso é uma inversão calhorda do ônus da prova. Bolsonaro tentou lançar dúvidas sobre um sistema de votação que há 25 anos vem promovendo a alternância de poder e que permitiu, inclusive, a sua própria chegada ao Planalto. Cabia a ele demonstrar que suas suspeitas tinham algum fundamento. 

Os venezuelanos querem garantias de que as práticas de cerceamento da oposição implementadas há quase duas décadas, desde os tempos de Hugo Chávez, serão abandonadas desta vez. Cabe a Maduro demonstrar que está disposto a concorrer de peito aberto, renunciando aos artifícios que aleijam qualquer adversário competitivo.  

Ataque sistemático à democracia

O bloqueio a candidatos, como acontece neste momento com Maria Corina Machado, principal figura da oposição, tornou-se a regra e não a exceção nas eleições venezuelanas. Um primeiro banimento em massa aconteceu em 2008, ainda sob Hugo Chávez. Em 2011, Leopoldo Lopez foi declarado inelegível antes do pleito contra o mesmo “coronel”.  

Em 2013, depois da morte de Chávez, Henrique Capriles pôde concorrer e quase venceu Nicolás Maduro. Esse susto fez com que as medidas judiciais contra opositores endurecessem. Nos anos seguintes, Capriles e Lopez, além nomes como Freddy Guevara e Antonio Ledezma, foram inabilitados ou mandados para a cadeia.   

Às vésperas das eleições de 2018, todos os principais partidos de oposição e seus candidatos haviam sido retirados das cédulas pela Justiça Eleitoral. Todos. Sobrou gente de pouca expressão política, para dar um verniz de legitimidade ao pleito que representou, na verdade, a apoteose da repressão.  

Lula disse nesta quarta que a oposição venezuelana não pode “ficar chorando” porque alguém foi impedido de concorrer. Essa declaração só faria sentido se a inabilitação de candidatos não fosse tão corriqueira. A frase desonesta foi um tapa na cara de Maria Corina Machado, que respondeu à altura, dizendo que Lula “valida os abusos de um autocrata”.  

Agora ou nunca

A “diplomacia” lulista tem um argumento clássico para justificar sua maneira de lidar com ditadores: só é possível exercer influência quando as portas para o diálogo permanecem abertas. 

Mas, quando as evidências de descalabro político se acumulam vertiginosamente ao longo dos anos, como no caso da Venezuela, escamotear os fatos é mais do que manter as condições de diálogo entre dois países: é colaborar num jogo de acobertamento de perversidades. 

Depois de cometer tantos abusos e atirar seu país num buraco tão profundo, Maduro não promoverá um retorno à democracia de livre e espontânea vontade. Precisa ser forçado a fazê-lo. E isso tem de acontecer agora. Questionar a legitimidade das eleições depois de uma vitória fabricada de Maduro não terá valor nenhum.  

Se Lula não trabalhar de forma explícita e contundente para que o povo venezuelano tenha a chance, ao menos, de votar num pleito limpo, vai aliar aliar o Brasil de forma definitiva ao que existe de mais vil na política contemporânea. Será uma vergonha eterna. Ele não tem o direito de fazer isso.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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