Lula e Bolsonaro se equivalem no discurso da “perseguição”   Lula e Bolsonaro se equivalem no discurso da “perseguição”  
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Lula e Bolsonaro se equivalem no discurso da “perseguição”  

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 29.01.2024 18:43 comentários
Análise

Lula e Bolsonaro se equivalem no discurso da “perseguição”  

É patético sugerir que o Brasil está no rumo de uma ditadura — assim como não para de pé a tentativa de vitimizar Lula e o PT por tudo que a Lava Jato trouxe à luz

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Carlos Graieb
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Lula e Bolsonaro se equivalem no discurso da “perseguição”  
Foto: Reprodução/YouTube

A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) reagiu à investigação sobre Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) deflagrada nesta segunda-feira, 29, dizendo que o país assiste a um “avanço ditatorial sem precedentes”.  

O bolsonarismo adotou essa cantilena desde que a Polícia Federal fez busca e apreensão no gabinete de Carlos Jordy (PL-RJ), líder oposição na Câmara dos Deputados, há cerca de dez dias. Ela também apareceu na quinta-feira, 25, quando o alvo das diligências foi o ex-diretor da Abin e também deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). 

Embora Jair Bolsonaro (foto) não tenha usado a palavra “ditadura”, ele também soou o alarme para aqueles que o seguem, sugerindo, em sua live de domingo, que a inabilitação eleitoral de Maria Corina Machado, principal opositora da Nicolás Maduro na Venezuela, é comparável à sua situação no Brasil.

Abuso de palavras

Esse é mais um dos abusos a que as palavras vêm sendo submetidas pela esquerda e pela direita no Brasil – e muitas vezes também pelo Judiciário, que entrou com gosto no jogo da discurseira política, atulhando com ela até mesmo suas sentenças e acórdãos. 

Os bolsonaristas querem fazer crer que todas as operações policiais desencadeadas nos últimos dias têm apenas o intuito de atingi-los, sem fatos graves para averiguar. Eles seriam alvos de uma ditadura em construção.  

Isso é balela, assim como o discurso de perseguição política adotado pelo PT em relação à Lava Jato. 

O financiamento do 8 de janeiro e o aparelho clandestino de espionagem aparentemente montado pelo bolsonarismo são tão graves quanto o petrolão, embora de natureza diversa. Todos foram métodos de subversão da democracia e por isso exigem apuração rigorosa.  

Se um trabalho policial bem executado leva às portas de parlamentares, paciência: mandatos políticos não podem servir de escudo para quem comete crimes. Ou, ao menos, essa deveria ser a regra. 

O trabalho da PF

A questão primordial é se as bases do trabalho da PF são sólidas. Refiro-me aos fatos inconvenientes que uma investigação competente é capaz de revelar. Coisas como a lista de propinas da Odebrecht. 

A investigação da PF sobre Jordy foi no mínimo descuidada. No mínimo. 

Uma das imagens utilizadas para fundamentar os pedidos de diligência nos endereços do deputado foi manipulada por um dos investigados. Ela o mostra em Brasília no dia 8 de janeiro, mas foi fácil demonstrar que ele não havia deixado sua casa no Rio. O sujeito quis parecer mais engajado do que era.  

Talvez ainda fique demonstrado que ele organizou caravanas de aloprados para invadir a Praça dos Três Poderes em parceria com Jordy. Neste momento, contudo, há uma sombra gigantesca sobre o trabalho da PF. 

É gravíssimo que ela tenha requerido a devassa no gabinete de um deputado federal, ainda mais líder da oposição, com base em uma foto falsa. É grave que um STF que hoje se diz tão atento aos procedimentos policiais não tenha puxado o freio assim que essa falha um tanto ridícula veio à tona.

‘Abin paralela’

A coisa é muito diferente em relação a Ramagem. A informação de que um sistema paralelo de inteligência estava sendo estruturado no governo Bolsonaro foi exposta há muito tempo pelo falecido Gustavo Bebianno, pouco depois de deixar um cargo central no Planalto, em 2020. Seria inconcebível deixá-la sem apuração.  

Nos últimos meses, a Polícia Federal levantou indícios sólidos de que um software de espionagem foi realmente utilizado de maneira ilegal por um time comandado por Alexandre Ramagem e coletou informações sobre uma lista extensa de desafetos da família Bolsonaro. 

Carluxo

Há menos sobre Carluxo. Tanto a manifestação da PGR quanto a decisão de Alexandre de Moraes justificando as diligências são breves. Dizem que a PF identificou indícios de que o filho do presidente chefiava o “núcleo político” do esquema de arapongagem, mas revelam apenas uma mensagem enviada por uma assessora de Carluxo a uma assessora de Ramagem, pedindo “ajuda” em relação a um inquérito. Os sistemas internos da PF, no entanto, demonstrariam que os dados sigilosos foram obtidos, conforme a encomenda.  

O balanço indica um inquérito mal feito, e possivelmente abusivo, e outro que parece estar no rastro de um desvio gravíssimo no uso do poder.  

Isso é motivo para indagar se a PF cumpre sua missão a contento e se está sendo manipulada politicamente.

Mas, com base apenas nessas evidências, é patético sugerir que o Brasil está no rumo de uma ditadura — assim como não para de pé a tentativa de vitimizar Lula e o PT por tudo que a Lava Jato trouxe à luz do dia.  

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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