Está na hora de Nísia ir para casa
Ministra não consegue criar políticas efetivas para a Saúde e só mostra aprendizado nas artes da política rasteira
O Ministério da Saúde confirmou nesta segunda-feira, 21, que o Brasil ultrapassou a marca de 5 milhões de casos de dengue diagnosticados. No começo do ano, previam-se mais de 4,2 milhões de casos, o que já constituiria um recorde. A situação foi muito além das piores projeções. Diante desse resultado, não há nenhum bom motivo para que a ministra Nísia Trindade seja mantida no cargo.
Sugiro a demissão apenas por causa da dengue? É claro que não. O recorde negativo em relação à doença é a gota que faltava.
Ao longo do quase ano e meio em que esteve no cargo, o maior aprendizado de Nísia Trindade foi na arte de aparelhar a máquina pública e fazer do seu ministério um balcão de negócios.
Contra a impessoalidade
Uma reportagem da Folha de S. Paulo mostrou no último sábado, 18, que ela revogou uma portaria que vetava o nepotismo e exigia processo seletivo impessoal para as contratações na pasta.
Outra regra derrubada impedia a concessão de bolsas para quem já tivesse um emprego na Saúde. Tornou-se possível, desse modo, aumentar os vencimentos de gente oriunda de instituições como a Fiotec, ligada à Fiocruz, fundação presidida por Nísia antes de mudar-se para Brasília.
Dias antes, o jornal já havia revelado que a pasta mantém contratados, sem concurso, milhares de bolsistas e consultores para atuar em áreas essenciais do ministério. Se é verdade que Nísia não inventou a prática, ela certamente a favoreceu ao revogar a portaria que estava em vigor.
Balcão de negócios
Além disso, instada pela Controladoria Geral da União (CGU) a fornecer a lista de todos os contratados nesse regime que tão bem se presta ao compadrio e aos favorecimentos, a equipe de Nísia afirmou que simplesmente não dispõe dos nomes. Ou seja, há transparência zero no preenchimento dessas vagas.
No começo de abril, eu já havia apontado os esforços da ministra para dominar as feitiçarias da política rasteira. Na época, acabava de ser revelada liberação de 8 bilhões de reais do Ministério da Saúde, no finzinho de 2023, como meio de arregimentar apoio para o governo no Congresso Nacional.
Embora Nísia vivesse reclamando da pressão dos parlamentares para obter recursos que seriam gastos sem nenhum critério técnico, foi exatamente assim que o seu ministério fez o Natal de deputados e senadores. Houve liberação de verbas acima dos limites previstos para municípios que sequer são equipados para realizar os procedimentos médicos indicados no repasse.
Estagiária de politicagem
Não há qualificação técnica que desculpe esse comportamento. Mas a situação se torna ultrajante quando nem mesmo a tal qualificação é demonstrada. É o que ocorre no caso da dengue.
A disseminação da doença no Brasil está ligada a fatores que ninguém pode controlar, como o aumento de temperaturas no país e a circulação de diferentes variantes do vírus.
Aquilo que está nas mãos do governo, no entanto, foi mal-feito.
Há anos os especialistas vêm alertando para o fato de que as campanhas de prevenção contra a doença deixaram de fazer efeito. É preciso buscar novos caminhos para convencer as pessoas a ajudar no controle do mosquito transmissor, eliminando os possíveis criadouros.
Nísia Trindade, no entanto, foi incapaz de prevenir a tragédia anunciada. Não é que tenha deixado de agir, mas fez tudo do modo que não vinha dando certo. O resultado foi o esperado, explosão nos casos.
A ministra chegou ao Planalto com ótimo histórico profissional e trabalho importante à frente da Fiocruz, durante a pandemia de Covid-19. Sentada na cadeira, contudo, ficou muito aquém das expectativas numa área em que o Brasil precisa desesperadamente de resultados.
Em vez de desempenhar o papel de ministra inspiradora, Nísia Trindade atuou até agora, principalmente, como estagiária de politicagem. Um grande desapontamento.
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