Em nota, PT endossa golpe de Maduro. É o que querem para o Brasil?
A nota representa uma escolha consciente do partido, e nos permite imaginar que seja este o modelo que pretende para o próprio país
Há momentos históricos em que escolher o “lado correto” pode ser difícil, ou ao menos duvidoso diante do contexto dos fatos. Sempre me perguntei como o povo alemão permitiu – e se permitiu – o holocausto, até compreender a extensão da máquina de propaganda nazista e seus métodos de opressão. A capacidade de resistência termina quando um fuzil lhe é colocado entre os olhos, ou de seus filhos.
Atenção: não estou justificando ou mesmo aceitando a escolha dos alemães à época, muito menos relativizando a adesão popular ao assassinato em massa dos judeus, apenas tentando pensar como quem que não podia, como indivíduo, fazer muita coisa contra Hitler, favorecendo, assim, coletivamente, a partir das consequentes submissões individuais, a formação de uma nação assassina.
Igualmente, tendo a contextualizar a escravidão – ao lado do Holocausto, sob minha ótica, o maior dos crimes contra a humanidade -, lembrando, inclusive, que a prática era ainda mais antiga que a escravidão dos negros africanos. Os impérios guerreiros, desde a.C., formaram-se todos a partir de opressores e escravos. Entender as sociedades primitivas e suas práticas, nos exige sempre o devido distanciamento temporal.
Para não variar, do lado errado
A mais nova farsa eleitoral de Maduro vem sendo rechaçada – com maior ou menor grau de veemência – pela maioria dos líderes e nações democráticas do planeta. No mínimo, colocada sob severa suspeição. Não vi, salvo algum grande descuido, nenhum país democrático, ou seu chefe de Estado, reconhecer e cumprimentar efusivamente o ditador Nicolás Maduro e a pobre ditadura venezuelana.
Nunca foi tão fácil – ao contrário de outras ocasiões – escolher o lado certo da história. A tecnologia, hoje, nos permite a informação imediata e real, e até vídeos e fotos podem ser transmitidos instantaneamente e checadas suas autenticidades. Como é mesmo? “O golpe está aí, cai quem quer”. Assim, reconhecer, cumprimentar e se posicionar pelo golpe de Estado – mais um! – de Nicolás Maduro é uma escolha consciente.
Nesse sentido, a nota oficial do Partido dos Trabalhadores (PT), publicada na noite desta segunda-feira (29), representa uma escolha consciente e a manifestação clara do que a legenda entende como democracia. Pior. Permite-nos imaginar que seja este o modelo que pretende para o próprio Brasil, já que “Uma jornada pacífica, democrática e soberana”. E já vivi o bastante para saber que o PT não faz nada que Lula não aceite.
8 de janeiro de 2023
Creio não restarem mais dúvidas de que os atos de vandalismo ocorridos em Brasília, na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, foram uma consequência direta da pregação antidemocrática de Jair Bolsonaro e sua turma. Ainda que mambembe – em consonância com os próprios articuladores -, houve, sim, a “tentativa, com emprego de violência ou grave ameaça, de abolição do Estado Democrático de Direito”.
Naquele momento, diante de todo o contexto – olha a necessidade de observação e avaliação temporal, aí, novamente – pode-se admitir que boa parte, ou mesmo a maior, dos incautos que lá estavam, agiam em protesto, e não em uma real tentativa de golpe de Estado. Isso, observe-se, não os torna inocentes, mas atenua, ou deveria atenuar, substancialmente suas penas, certo, Xandão?
Porém, desconsiderar a gravidade do “conjunto da obra”, chamando de manifestação o que tentativa de golpe foi, equivale a não reconhecer os pilares mínimos da democracia, do processo eleitoral e da alternância de Poder. O PT, com razão, levantou-se contra os atos de 8 de janeiro. A constatação, porém, é de que foi meramente em causa própria, e não por convicção. Do contrário, não emitiria uma nota dessas. E repito: o Partido dos Trabalhadores não faz nada que Lula não aceite.
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