Em BH, Kalil rebaixa Novo em nota humilhante
A aliança entre Novo e Kalil em torno da candidatura de Mauro Tramonte tinha tudo para dar errado; e deu
Um dia após a convenção partidária que selou a chapa Mauro Tramonte (Republicanos) e Luísa Barreto (Novo) para a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, em outubro próximo, Alexandre Kalil, ex-prefeito de BH e ex-PSD, recém-chegado ao Republicanos, abriu fogo contra a legenda de que foi rival em 2022 na luta pelo governo de Minas, colocando em risco o acordo selado entre os bispos da Igreja Universal e os dois maiores caciques do Novo no estado, Romeu Zema e Mateus Simões, respectivamente, governador e vice.
O candidato do Republicanos é Mauro Tramonte, deputado estadual e apresentador da TV Record Minas. A vice é Luísa Barreto, do Novo, ex-secretária de Planejamento e Gestão do governo Zema. Após o acordo entre os partidos, foi anunciada a chegada de Kalil ao Republicanos para ser o coordenador de campanha. A repercussão foi a pior possível, já que, historicamente, Kalil e Novo são ferrenhos adversários e professam ideologias opostas. Em 2022, por exemplo, Kalil fez aliança com Lula, e Zema, com Jair Bolsonaro.
Muito bem. Após o “leite derramado” – à esquerda e à direita, passando pelo centro, todos os agentes políticos do estado criticaram a incoerência da aliança -, a direção nacional do Novo emitiu uma dura nota em desfavor de Alexandre Kalil: “O acordo político em torno da candidatura de Mauro Tramonte para prefeito de Belo Horizonte, tendo Luísa Barreto, do Novo, como candidata a vice-prefeita, foi estabelecido entre o Novo e o Republicanos, partido de Tramonte e também do governador Tarcísio de Freitas”.
Bateu, levou
E continuou o partido: “Somente após o acordo firmado, todos foram surpreendidos com a filiação de Alexandre Kalil, nosso adversário político, ao Republicanos. Esperamos que a escolha de Kalil em mudar de lado não seja fruto de oportunismo político, mas de uma reflexão genuína a respeito dos péssimos resultados apresentados por sua gestão na Prefeitura de BH”. Bem, há uma questão importante aqui: não é verdade que foram surpreendidos (o Novo), pois todos sabiam das negociações entre Kalil e Tramonte.
De temperamento nada cordial, Kalil respondeu prontamente, bem a seu modo: “O Novo soltou uma nota hoje me citando. Minha resposta: oportunista é quem vem depois, querendo pegar carona na minha popularidade em Belo Horizonte. O Novo só está na chapa porque eu não vetei”. Se alguém ainda não entendeu, o ex-prefeito está dizendo – em alto e bom som – que é eleitoralmente maior que o Novo e quem de fato manda na campanha. Isso porque perdeu – e feio! – para Zema (no primeiro turno) em 2022. Imaginem se fosse o contrário.
Esta aliança vem sendo apelidada, em Minas, de “Caracu” – nome de uma antiga cerveja. É uma brincadeira que, imagino, todos conheçam: um lado entra com a cara e o outro, com o…! Kalil encontrava-se em confesso ostracismo e perda de relevância, conforme mostrou a recente pesquisa O Fator/Ver. Sua chegada ao Republicanos causou desconforto a quadros importantes do partido, como o senador Cleitinho Azevedo, campeão de votos em 2022 (mais de 4 milhões) e aspirante ao governo de Minas em 2026.
Próximos capítulos
Kalil é bastante rejeitado por grande parte do empresariado local, que exerce forte influência sobre o Novo. Os vereadores do partido também são adversários do ex-prefeito, sobretudo Fernanda Altoé, relatora de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), que o investigou por suposto abuso de Poder em 2023. Durante as oitivas, uma ex-prestadora de serviços da Prefeitura confessou que bancava despesas pessoais de Kalil e depois era reembolsada em dinheiro vivo.
O eleitorado conservador também não o aceita muito bem por causa de sua posição a favor do movimento LGBTQIA+. Agora, o de esquerda, pode passar a enxergá-lo como “um oportunista”, sem falar no PSD, partido de Gilberto Kassab, Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira – e do atual prefeito, Fuad Noman -, que gastava, segundo matérias veiculadas na imprensa, cerca de 60 mil reais mensais com funcionários particulares de Alexandre Kalil, e agora, mais do que traído ou abandonado, sente ter jogado dinheiro fora.
A semana promete ser agitada nos bastidores dos dois partidos. Ontem, domingo, 4 de agosto, “bombeiros” já corriam em desespero, enquanto incendiários – candidatos e partidos rivais – tratavam de atirar mais lenha na fogueira. Uma coisa, nisso tudo, é mais do que certa: a aliança entre Novo e Kalil tinha tudo para dar errado; e deu. Se irá prosperar e até mesmo vencer as eleições, apenas o tempo e os eleitores dirão. Mas não há nada nesse mundão de meu Deus que concilie personalidades e propósitos tão distantes assim.
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