Efeito Trump: dólar futuro é negociado a menos de R$ 6 pela 1ª vez em 40 dias
Discurso de posse do presidente dos Estados Unidos contribuiu para o terceiro dia consecutivo de queda na cotação

No terceiro dia consecutivo de queda e pela primeira vez em 40 dias, o dólar futuro passou a ser negociado nesta quarta-feira, 22, abaixo da marca de 6 reais.
A última vez que a divisa norte-americana descera a esse patamar havia acontecido em dia 12 de dezembro de 2024, três dias antes da alta médica de Lula.
De lá para cá, foram dias de intensa volatilidade, com o dólar futuro superando a marca de R$ 6,35. Entre altas e baixas, vinha mantendo-se firme acima dos 6,08 reais.
O dólar futuro é um contrato no mercado financeiro de compra ou venda da moeda comercial, baseado na taxa de câmbio da data atual e com vencimento definido.
Ou seja, é um derivativo do dólar comercial à vista, podendo o investidor posicionar-se tanto na compra quanto na venda, bastando ter margem de garantia. É o ativo mais negociado da bolsa de valores, superando o volume de 50 bilhões de reais por dia.
O discurso de Trump ajudou
Empossado na segunda-feira, 20, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçou a aposta de muitos agentes do mercado, referentes às sobretaxas de importação para alguns países.
Como políticas protecionistas de importação podem elevar a inflação local, a desvalorização do dólar seria inevitável. E é justamente o que está ocorrendo pelo terceiro dia: um ajuste de posições cambiais, após o discurso de posse.
Os possíveis encerramentos de conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia também ajudam a acalmar os ânimos e melhoram o fluxo de dinheiro para países emergentes.
No Brasil, a comunicação política com o mercado ainda tem ruído
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segue fazendo pronunciamentos desastrados e cheios de rodeios e, junto com o Planalto, vem enviando ao mercado sinais claros de que o governo Lula não está disposto a reduzir gastos como gostaríamos.
Entretanto, o efeito Nikolas Ferreira e a recente mobilização da Câmara dos Deputados para derrubar o veto presidencial de Lula, que acrescentaria tributos extras para Fundos Imobiliários e Fundos Agro, deram ao mercado uma sensação de que há luz no fim do túnel, aumentando a pressão para uma agilidade maior da política-econômica.
Ótima notícia para o Brasil.
Opinião de operador
O dólar continua sendo negociado com muito fator de histeria, desconsiderando que a taxa de juros brasileira segue com mais de 11% ao ano de diferencial. Ou seja, se você preferir trocar seus reais por dólares hoje, precisa ter claro que, para compensar, o dólar precisa subir mais de 11% ao ano, nos próximos 5 anos, por exemplo.
Atenção: se você aposta em um dólar valendo menos de 10 reais em 2030, traga seu dinheiro para o Brasil e compre pré-fixados de 5 anos.
Independentemente da sua ideologia política, a matemática é soberana.
Leia mais: O futuro de Azul e Gol, após memorando para eventual fusão
Pedro Kazan é profissional do mercado financeiro desde 1999, empreendedor e palestrante, formado em Engenharia de Produção com ênfase em Engenharia Econômica pela UFRJ. De 2002 a 2004, fez parte do Controle Operacional da Mesa Proprietária do Banco BBM, de onde saíram os fundadores das mais renomadas Assets do Brasil, como SPX, Kapitalo e Navi. Desde 2004 dedica-se à Gestão de Recursos e Assessoria de Investimentos Private. Fundador do canal de educação financeira KZN Investimentos. Nascido no Rio de Janeiro. Vivendo em Lisboa.
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Comentários (1)
Luis Eduardo Rezende Caracik
24.01.2025 06:55Havia muita gente achando que Trump tornaria a economia americana e portanto o dólar, muito mais fortes. Porém em poucos dias a realidade se impõe: a economia americana está em decadência há décadas e chegou num ponto tal de fragilidade que para se tornar grande e forte como Trump quer, e acha possível, será necessário expandir o território americano à força, arrancar dinheiro de outras economias do mundo, parar de investir em descarbonização e por aí afora. Ora isto apenas evidencia a fraqueza real da economia americana. Acho que a tendência do dólar é cair mais, e o mundo se voltara mais e mais para o ouro e outros ativos reais. Não é um fenômeno local. É global.