Crusoé: islamização e putinização

23.03.2025

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O Antagonista

Crusoé: islamização e putinização

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Catarina Rochamonte
6 minutos de leitura 07.03.2025 08:10 comentários
Análise

Crusoé: islamização e putinização

A Alemanha sob dupla ameaça

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Catarina Rochamonte
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Crusoé: islamização e putinização
Alice Weidel, líder da AfD. Divulgação

As eleições federais antecipadas na Alemanha, realizadas em 23 de fevereiro de 2025, comprovaram a percepção de uma significativa mudança de rumo na política do país.

Apesar de ter sido o partido mais votado, a coligação conservadora União Democrata-Cristã (CDU/CSU), de Friedrich Merz, passou longe do seu melhor desempenho histórico ao ficar com 28% dos votos (208 cadeiras).

O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, caiu para a terceira posição, obtendo apenas 16,41 % dos votos (120 cadeiras).

Por outro lado, o partido de direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), alcançou um resultado inédito, posicionando-se como a segunda maior força política no Bundestag, com 20,8% dos votos (152 cadeiras).

Para analisar o contexto de crescimento desse partido convém responder a duas perguntas.

Para além dos rótulos que lhe são comumente atribuídos, o que realmente a AfD tem de problemático?

Qual é o problema social que a AfD confronta seriamente? Ou, dito numa linguagem cafona de marketing, qual é a dor dos alemães que a AfD propõe curar?

Uma reflexão equilibrada sobre esses dois pontos lançará luz não apenas sobre o contexto político alemão, mas também sobre o atual drama político da Europa e sobre a atual tensão política mundial.

A história da AfD

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) defende posições nacionalistas e revisionistas em relação à história alemã.

Fundado em 2013 como um partido crítico à União Europeia, a AfD adota discursos que frequentemente se aproximam de ideias da extrema-direita histórica.

Apesar de não trazerem mensagens claramente nazistas — o que é proibido pela legislação alemã — seus integrantes costumam caminhar em uma zona perigosa.

É comum, por exemplo, que eles digam que os alemães não devem ficar se culpando pelos crimes do passado.

Foi seguindo nessa linha que Alexander Gauland, em 2017, afirmou que tinha orgulho pelo desempenho dos soldados alemãs nas duas guerras mundiais.

Não é mais necessário nos repreender por esses doze anos (de regime nazista)“, disse Gauland. “Se os franceses, e com razão, têm orgulho de seus imperadores, e os britânicos, de Nelson e Churchill, então nós temos o direito de ter orgulho do desempenho de nossos soldados nas duas guerras mundiais.”

No mesmo ano, Bjorn Hocke criticou a existência do Memorial do Holocausto em Berlim.

Somos as únicas pessoas no mundo que colocaram um memorial da vergonha no coração de sua capital“, afirmou.

A sigla rejeita políticas de inclusão e diversidade, argumentando contra direitos LGBTQ+ e políticas de igualdade racial.

Discursos depreciativos contra minorias são comuns entre seus membros.

Todos esses pontos são relevantes e problemáticos, embora muitas vezes exagerados pela mídia.

Tendo em vista, porém, a complexa conjuntura geopolítica atual, o ponto mais problemático do partido parece-me ser a aberta simpatia que seus membros nutrem por Vladimir Putin.

AfD e Rússia

O programa da AfD traz como objetivo explícito estabelecer melhores relações com a Rússia.

A Guerra Fria acabou. Os EUA continuam sendo nossos parceiros. Deveria ser a Rússia. A AfD está, portanto, comprometida com o fim das sanções e com a melhoria das relações com a Rússia”, diz o documento.

A recente eleição alemã sofreu forte interferência externa, tanto americana — por intermédio de Elon Musk, que escreveu o polêmico artigo “Apenas a AfD pode salvar a Alemanha” e participou de uma live com Alice Weidel — quanto russa.

O filósofo, geopolítico e estrategista político russo conhecido por suas ideias ultranacionalistas e eurasianistas, Alexander Dugin, escreveu um panfleto em tom apocalíptico e delirante em apoio ao partido, que dizia:

O voto na AfD é a resposta ao ser ou não ser para a Alemanha. Sem a AfD, não haverá mais Alemanha. Se você, sendo alemão, vota em Merz, você vota na destruição nuclear acelerada da Alemanha, da Europa e talvez do mundo inteiro. Assuma a responsabilidade e esteja atento.

Se você gosta de Trump, Musk e Bannon, vote na AfD. Se você gosta de Putin (por que não?), vote na AfD. Se você gosta da Alemanha, vote na AfD. Se você gosta da Europa, vote na AfD. Se admira Meister Eckhart, Leibniz, Kant, Hegel, Husserl, Nietzsche, Heidegger, vote na AfD. Se você não gosta de nenhum deles, vote na AfD.

Vote na AfD se você é niilista, socialista, nacionalista, cristão, muçulmano, pagão, budista, agnóstico, ateu.

Vote na AfD e verá como a realidade pode ser maravilhosa. Alguns dizem que o Kali-Yuga acabou. Isso depende de nós. Vamos terminar. Agora. Ragnarök está marcado para amanhã.

Vote na AfD. Obrigado pelo lembrete: se você aprecia Bach, Mozart, Wagner, Mendelssohn e Tchaikovsky, ou Emerson, Lake e Palmer, vote na AfD.

Se você tem algum problema psicológico ou fisiológico, vote na AfD e encontrará alívio, mais do que isso, uma cura!

Pare de fingir, saia – AfD é você mesmo, seu inconsciente. Seja você mesmo; vote AfD!”

Sabemos o quão importante para o fim da Segunda Guerra Mundial foi o rompimento do pacto entre Hitler e Stálin.

Agora, imaginem o cenário catastrófico se, daqui a quatro anos, uma Rússia fortalecida contar com o apoio de uma chanceler alemã para anexar a Ucrânia e seguir adiante, sob o olhar cúmplice dos Estados Unidos…

Tragicamente, esse é um cenário bastante provável.

Mas, uma vez elencados os pontos mais problemáticos da AfD e enfatizando a proximidade com a Rússia como o aspecto mais preocupante, devido ao contexto bélico atual, tentemos agora entender por que esse partido tornou-se a segunda maior força política na Alemanha, com grande potencial de crescimento para se tornar a força maior em 2029.

Imigrantes e refugiados

No livro The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam, David Murray, tenta explicar o processo que levou a Europa à beira do suicídio. […]

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Catarina Rochamonte

Professora e escritora, com graduação, mestrado e doutorado em Filosofia, e pós-doutorado na área de Direito.

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