Crusoé: Dólar indomável desmoraliza Haddad
Em vez de aumentar a confiança no compromisso do governo com a responsabilidade fiscal, o pacote de corte de gastos conseguiu o exato oposto
Após mais um fechamento em patamar recorde, o dólar abriu em alta nesta quarta-feira, 18, e seguiu subindo ao longo do dia, horas após a Câmara dos Deputados começar a aprovar o pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A alta da moeda americana também é afetada pela expectativa em relação à decisão sobre a taxa de juros do FED, o Banco Central americano, mas foi a desconfiança em relação à responsabilidade fiscal do governo Lula que fez o dólar disparar desde o fim de novembro rumo aos 6,20 reais atingidos na terça-feira, 17 — o novo recorde, de 6,22 reais, foi atingido por volta das 15h50 desta quarta.
O incômodo dos governistas é tanto que eles se abraçaram nesta quarta à alegação de que a alta recorde do dólar foi atingida ontem como consequência de uma fake news com declarações falsas de Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central.
Haddad embarcou
Até Haddad, de quem alguns analistas e agentes econômicos esperam um pouco mais em relação aos outros membros do governo Lula, resolveu entrar na onda.
“Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo”, comentou Haddad.
“Não estou querendo fazer juízo sobre isso, porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do Tesouro e do Banco Central”, completou o ministro.
Outro pacote?
Mas o pior, neste momento, foi ouvir o ministro admitir que é inócuo o esforço hercúleo do governo para aprovar o pacote fiscal no Congresso Nacional — um esforço turbinado por emendas parlamentares que contrariam as diretrizes do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino.
“Eu nunca falei que isso [cortes de gastos] é um trabalho que se encerra. Não se encerra. Nós vamos acompanhá-lo. Vamos fazer uma avaliação do que foi aprovado…
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Comentários (1)
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
18.12.2024 18:23Mais uma desmoralização na coleção do ministro. A primeira foi a não reeleição para a prefeitura de São Paulo em 2016, quando perdeu para "brancos e nulos"; a segunda foi a derrota para Bolsonaro em 2018; a terceira (e mais humilhante do que a de 2018) foi a derrota para Tarcísio de Freitas em 2022 para o governo do estado de São Paulo; outra foi logo no início de 2023 quando confundiu as funções da CVM com as do CMN durante entrevista; mais várias pequenas humilhações impostas por Lula ao longo de 2023/2024, quando o ministro diz uma coisa e o presidente logo em seguida diz o contrário, e agora mais essa. Acho que está acostumado.