Crusoé antecipou em 8 meses base de decisão do PGR sobre Transparência Internacional Crusoé antecipou em 8 meses base de decisão do PGR sobre Transparência Internacional
O Antagonista

Crusoé antecipou em 8 meses base de decisão do PGR sobre Transparência Internacional

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 16.10.2024 15:52 comentários
Análise

Crusoé antecipou em 8 meses base de decisão do PGR sobre Transparência Internacional

Paulo Gonet usou uma série de elementos presentes na matéria de capa sobre a fake news contra a ONG anticorrupção, ao promover arquivamento de petição encaminhada por Toffoli

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 16.10.2024 15:52 comentários 0
Crusoé antecipou em 8 meses base de decisão do PGR sobre Transparência Internacional
Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Oito meses depois da matéria de capa da Crusoé – assinada por mim, Felipe – com o título “A história da fake news contra a Transparência Internacional”, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, promoveu o arquivamento da Petição número 12.061.

Por meio dela, o ministro Dias Toffoli, indicado por Lula ao Supremo Tribunal Federal, acionou a PGR para “investigar eventual apropriação indevida de recursos públicos pela TI”, no âmbito da cooperação firmada entre a unidade brasileira da Organização Não Governamental sediada em Berlim e o Ministério Público Federal para o combate à corrupção.

Enquanto a rede chapa-branca de emissoras de TV e rádio ecoava narrativas do sistema contra a ONG, Crusoé fez o jornalismo que leitores de WhatsApp e demais porta-vozes disfarçados de “âncoras” e “analistas” se recusam a fazer: aquele que vigia o poder, sobretudo quando ele distorce os fatos para retaliar quem o incomoda.

A referida Petição se baseava em manifestação apresentada ao Superior Tribunal de Justiça pelo deputado federal petista Rui Falcão, ex-presidente do PT, que, por sua vez, tinha como base uma narrativa plantada pelo então PGR Augusto Aras, o coveiro da Lava Jato indicado por Jair Bolsonaro após seu filho Flávio ter virado alvo de investigação por peculato em desdobramento da operação no Rio de Janeiro.

Para embasar a decisão assinada na terça-feira, 15 de outubro de 2024, de promover o arquivamento da Petição, Paulo Gonet usou uma série de elementos mencionados e destrinchados na matéria da Crusoé, publicada em 16 de fevereiro deste mesmo ano, tais como:

  • A posição, perante o STJ, da então PGR interina Elizeta Maria de Paiva Ramos, contrária ao encaminhamento ao STF, onde os envolvidos “não possuem prerrogativa de foro”, e ainda crítica à “manobra” que “não tem cabimento nem admissibilidade”;
  • A argumentação, nas palavras de Gonet, “carente de sustentáculo probatório”, que “não pode ser tida como suficiente para suplantar o sistema de atribuições e as regras de competência, a fim de deslocar a demanda direta e indevidamente para o Supremo”;
  • A resposta da então subprocuradora-geral da República Maria Iraneide Olinda Santoro ao ofício enviado por Aras à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, informando, “em suma, que o Memorando de Entendimento assinado com a Transparência Internacional expirou em 12 de dezembro de 2019 e que não houve repasse de recursos para a entidade”. A rigor, tal resposta se baseou em refutação de 13 páginas, feita pela subprocuradora Samantha Chantal Dobrowolski – como noticiou O Antagonista e explicou Crusoé -, da narrativa plantada por Aras sobre o envolvimento da TI em gestão ou recebimento de valores da J&F, empresa dos irmãos Batista que havia fechado acordo de leniência com o MPF. O acordo previa que, além de 8 bilhões de reais pagos diretamente às entidades lesadas (União, BNDES, Funcef, Petros, CEF e FGTS), 2,3 bilhões fossem gastos em projetos sociais, tendo a TI participado exclusivamente na orientação técnica de boas práticas. Somando Elizeta, Maria e Samantha, portanto, Toffoli desprezou o posicionamento de três mulheres.
  • A cláusula 3ª do Memorando de Entendimento firmado em dezembro de 2017 pelas três partes do acordo (Ministério Público Federal, J&F e TI), segundo a qual “não se prevê nenhum tipo de remuneração, sendo vedada a transferência de recursos para que a TI realize as atividades nele previstas”.

De resto, Gonet atestou que:

  • “a Petição não dispõe de exposição de fatos concretos ou de elementos mínimos a indicar a ocorrência de prática criminosa”;
  • “o requerente não identifica acordo(s) de leniência capitaneado(s) pela Operação Lava Jato em cujo contexto tenha ocorrido apropriação de capital pela TI”;
  • “Em verdade, não logrou sinalizar sequer um ato agenciado pela força-tarefa com semelhante escopo de desvio de recursos nacionais para a ONG”.

Gonet concluiu com uma lição de democracia:

“No Estado Democrático de Direito (art. 1°, caput, da Constituição), em que içado o princípio da presunção de inocência (art. 5°, LVII, da Constituição), a deflagração da persecução penal pressupõe o convencimento do Parquet sobre a(s) hipótese(s) acusatória(s), a partir da presença de elementos mínimos de persuasão (art. 41 do Código de Processo Penal). Impõe-se arrecadação de suficiente standard probatório, o que não se visualiza na espécie.

(…) Ausentes elementos mínimos de convicção que justifiquem a continuidade das investigações pelo Ministério Público Federal e afastada a competência originária do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República promove o arquivamento da Petição.”

Só faltou, claro, Gonet descrever o método de Toffoli, que, como eu, Felipe, expliquei com exemplos na matéria original, consiste em levantar “dúvidas” para, de um lado, anular provas e multas contra empresários que confessaram a prática de suborno e, de outro, investigar quem aponta a impunidade garantida pelo ministro e por vários de seus colegas.

Curiosamente, o mesmo Toffoli disposto a investigar a TI por alegação infundada de recebimento de valores da J&F não só é marido de uma advogada do grupo, Roberta Rangel, como também, dias antes da decisão do PGR, participou ele próprio de evento patrocinado pelos irmãos Batista em Roma, na Itália.

Desde 2019, quando a matéria que revelou o codinome de Toffoli na Odebrecht foi censurada em inquérito aberto por ele e relatado por Alexandre de Moraes (como lembrou o New York Times nesta quarta-feira, 16, citando a revista), as verdades inconvenientes de Crusoé sobre “o amigo do amigo do meu pai” são sempre reforçadas pelo tempo.

Muito obrigado a todos que apoiam o nosso jornalismo independente e vigilante, que apura, analisa e antecipa os fatos, doa a quem doer.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Ex-mulher fala sobre motivações do autor de explosões em Brasília

Visualizar notícia
2

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Visualizar notícia
3

"Querem perdoar sem antes sequer condenar", diz Barroso sobre anistia

Visualizar notícia
4

Crusoé: Trump vai inaugurar os Estados Unidos da Flórida

Visualizar notícia
5

STF mantém pena de Collor na Lava Jato

Visualizar notícia
6

Gleisi apoia protestos antissemitas que ocorrerão no Rio?

Visualizar notícia
7

Iraque prestes a legalizar casamento com meninas de 9 anos

Visualizar notícia
8

Trump anuncia Robert Kennedy Jr. para "restaurar as agências" de saúde

Visualizar notícia
9

Crusoé: Marine Le Pen inelegível? Políticos saem em defesa da deputada francesa

Visualizar notícia
10

Explosões: aloprado dá combustível para STF

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Como o Rio prepara a segurança do G20?

Visualizar notícia
2

Explosões: aloprado dá combustível para STF

Visualizar notícia
3

Castello Branco fala da ingerência de Lula e Bolsonaro na Petrobras

Visualizar notícia
4

Crusoé: Número 2 de Maduro também quer regular redes sociais

Visualizar notícia
5

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Visualizar notícia
6

Carro de ministro de Lula é roubado no Rio

Visualizar notícia
7

Raphinha marca de falta e coloca seleção na frente; veja vídeo

Visualizar notícia
8

Trump anuncia Robert Kennedy Jr. para "restaurar as agências" de saúde

Visualizar notícia
9

"Prejudicial ao trabalhador", diz Campos Neto sobre redução de jornada 6x1

Visualizar notícia
10

STF mantém pena de Collor na Lava Jato

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Crusoé Dias Toffoli Transparência Internacional
< Notícia Anterior

Quais celebridades vão ter filho em 2025?

16.10.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Virginia Fonseca inicia tratamento contra fortes dores

16.10.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Felipe Moura Brasil

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

As narrativas do tiozão de zap que se explodiu

As narrativas do tiozão de zap que se explodiu

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
Tiü França mira em Xandão e afunda Bolsonaro

Tiü França mira em Xandão e afunda Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Explosões lembram mais caso Adélio do que 8 de janeiro

Explosões lembram mais caso Adélio do que 8 de janeiro

Rodolfo Borges Visualizar notícia
Crusoé: Marco Rubio já criticou credenciais democráticas de Lula

Crusoé: Marco Rubio já criticou credenciais democráticas de Lula

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.