Bolsonaro faz defesa para a torcida
Ex-presidente prometeu "botar um ponto final nisso aí", mas, agora que virou réu por trama golpista, quem vai encerrar o assunto é o STF

Jair Bolsonaro (foto) fez um longo pronunciamento após se tornar réu, junto com sete aliados, sob a acusação de tentar dar um golpe de Estado. Ao falar durante cerca de 50 minutos diante de jornalistas, aos quais não permitiu perguntas, o ex-presidente prometeu “botar um ponto final nisso aí”, e apresentou sua defesa no caso, além de criticar o governo Lula e elogiar o próprio governo.
“Vivemos um momento ainda de intranquilidade no Brasil, por causa especial da criatividade de alguns. Ontem eu fui ao Supremo. A decisão foi na última hora. Vocês [se] surpreenderam. Hoje resolvi não ir. Motivo? Obviamente, eu não sabia o que ia acontecer. Mas vamos lá. Eu espero hoje botar um ponto final nisso aí”, anunciou Bolsonaro, com um sorriso que foi sumindo ao longo do pronunciamento.
“Parece que tem algo pessoal contra mim. E a acusação é muito grave. E são infundadas. E não é da boca para fora. Eu vou demorar um pouco, mas tem muita novidades para vocês. Vou começar no final, quando as eleições se acabaram, 2 de novembro”, disse o ex-presidente, seguindo:
“Ninguém cita o meu nome”
“Alguns de vocês estavam lá, no [Palácio da] Alvorada, e eu fiz um pronunciamento à nação. Coisa rara, né? Fiz um pronunciamento lido à nação. Eu vou ler apenas um parágrafo desse desse pronunciamento, que infelizmente não está no inquérito. do ministro Alexandre Moraes.
Terceiro parágrafo, bem curtinho. ‘As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas. Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população. Como? Invasão de propriedade, destruição de patrimônio, cessamento do direito de ir e vir.”
O ex-presidente disse isso para afastar a acusação de que incentivou os vândalos do 8 de janeiro a depredar as sedes dos Três Poderes. Bolsonaro vai responder por cinco crimes no STF, entre eles dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado, apesar de não estar na Praça dos Três Poderes naquele dia.
“Dois anos de investigação, [e] não descobriram quem porventura seria esse líder. Eu vi, entre ontem e assisti hoje, o senhor Alexandre Moraes falar que 500 pessoas aproximadamente assinaram não persecução penal. Um acordo. E ele disse, o senhor Alexandre Moraes, que no acordo essas pessoas admitiam que estavam indo para um golpe. Quinhentas pessoas se programando para um golpe, e ninguém sabia? Também. Nesses depoimentos, nesse acordo, ninguém cita meu nome. Quinhentas pessoas, ninguém cita o meu nome”, defendeu-se Bolsonaro, em referência aos condenados pelo 8 de janeiro.
Suspeitas sobre as eleições
Além de se defender, Bolsonaro voltou a semear suspeitas sobre a eleição de 2022 e aproveitou para criticar o governo Lula.
“Estou sendo acusado de tentativa de golpe. Algo, as pessoas devem ter percebido, da forma tão incisiva como o ministro Alexandre de Moraes conduz, ou se conduz, é algo esquisito por aí. O que ele quer esconder? Apenas o Inquérito 1361? Eu digo, que é [para esconder o inquérito] 1361, é 99%. Mas vamos lá”, disse o ex-presidente, em referência a investigação sobre um ataque hacker na eleição de 2018.
Esse inquérito não chegou a encontrar indício de fraude naquela eleição, que Bolsonaro chegou a alegar que ganhou no primeiro turno — na verdade, ele venceu Fernando Haddad no segundo turno. Em 2021, o ex-presidente passou a ser investigado por ter vazado trechos do inquérito que ele voltou a mencionar nesta quarta-feira, 26.
Ponto final
“Houve interferência no TSE nas eleições de [20]22 ou não? Não vamos falar em fraude, possível fraude aqui, esqueçam. 100% confiável as urnas? Mas vamos abrir o inquérito 1361. Durante as eleições de [20] 22, o TSE influenciou, jogou pesado contra eu (sic) e a favor do candidato Lula”, seguiu Bolsonaro, antes de iniciar uma série de reclamações sobre o governo Lula e a defesa de seu próprio governo.
Todo esse discurso vale muito menos agora, contudo, porque o ex-presidente terá de prestar contas formalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF), que é de onde virá o ponto final para essa história, pelo menos do ponto de vista judicial.
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Comentários (1)
Edmilson Siqueira
26.03.2025 20:08Assisti a boa parte da entrevista. Bolsonaro falou o que quis e muitas mentiras. Mas os jornalistas, ao contrário do que você escreveu, puderam fazer várias perguntas.