Lula (foto) resolveu abrir o time e mandar todo mundo para o ataque. Rifou os volantes Fernando Haddad, da Fazenda, e Gabriel Galípolo, do Banco Central, que atuavam com muita dificuldade na contenção, e escalou Gleisi Hoffmann no meio de campo, para fazer a articulação política com o Congresso Nacional. Lembra a seleção de Felipão na semifinal da Copa de 2014 (foi 7×1 para a Alemanha).

O presidente começou a cogitar uma reforma ministerial no fim do ano passado, para tentar reorganizar os apoios e melhorar o trânsito com o Congresso, onde Alexandre Padilha (PT) se notabilizou pelos desentendimentos com Arthur Lira (PP-AL), agora substituído por Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara dos Deputados.

Lira namorava o Ministério da Saúde, cuja condução sempre incomodou o Centrão, pela alegada dificuldade de Nísia Trindade para liberar recursos. Mas, no meio do caminho, a reforma virou um rearranjo de petistas.

O animado Padilha vai, com seus vídeos de redes sociais, para a Saúde da discreta Nísia, que não agregava politicamente para o governo. Pode ser que Padilha chame mais atenção para a pauta de saúde do Palácio do Planalto, mas não se espera muito de Gleisi na articulação — e a oposição ao governo celebrou a escolha de Lula.

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Sem defesa

Quando se imaginava que poderia aparecer alguém do Centrão para o lugar de Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, como o ministro de Portos e Aeroporto, Silvio Costa Filho (Republicanos), surgiu o anúncio de Gleisi, que se notabilizou nos últimos anos pela defesa mais radical das pautas do PT, um partido cuja falta de disposição para dividir o poder dificulta o entendimento com aliados desde o primeiro governo Lula, quando surgiu o esquema do mensalão.

Optar por Gleisi a esta altura é como escalar Bernard, popularizado pela expressão “alegria nas pernas” pelo treinador Luiz Felipe Scolari, diante do clássico apelo de “Coragem, Felipão!”, feito pelo apresentador André Rizek em 2014, que seguia assim: “O meio-campo da Alemanha não marca muito. Escala o Willian. Deixa os 3 volantes para depois. Joga sem medo. Como Brasil…”.

Lula teria escolhido Gleisi por constatar que o Centrão está abandonando seu governo, diante da queda progressiva de sua popularidade. O cálculo, que põe a liberação de emendas na mão da petista, pode até fazer sentido, mas não justifica a decisão de lançar o time ao ataque tão cedo, de olho na eleição de 2026, e depois de já estar perdendo a partida por 5 a 0 no início do segundo tempo.

E os contra-ataques?

Como mostra a reportagem de capa de Crusoé desta semana, os truques populistas de que o petista lançou mão durante a primeira metade do governo não contribuíram par melhorar sua aprovação popular — e ainda empurraram o aumento da inflação, que agora o desgasta ainda mais. Em vez de mudar o rumo, o presidente decidiu dobrar a aposta com Gleisi.

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Enfim, Lula resolveu jogar sem medo, como Brasil… Mesmo em um time com craques, a estratégia já seria arriscada demais. É possível que alguns gols sejam marcados, mas, com a atual escalação do governo, entregar a Gleisi a articulação política é abrir o time para contra-ataques dos adversários.

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