A verdade que liberta é a mesma que prende A verdade que liberta é a mesma que prende
O Antagonista

A verdade que liberta é a mesma que prende

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Alexandre Borges
5 minutos de leitura 08.02.2024 13:59 comentários
Análise

A verdade que liberta é a mesma que prende

Passagens bíblicas citadas por bolsonaristas se voltam contra eles na operação "Tempus Veritatis"

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Alexandre Borges
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A verdade que liberta é a mesma que prende
Foto: Reprodução/YouTube

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8,32), um dos versículos mais conhecidos do Novo Testamento, virou bordão do bolsonarismo, grupo político liderado por um autoproclamado católico com nome de Messias e que, como governante, esteve alinhado com a ala mais radical e pragmática dos movimentos evangélicos neopentecostais.

Nesta quinta, 8, um dos bolsonaristas mais ideológicos e radicais, Filipe G. Martins, um jovem desconhecido, com uma carreira profissional praticamente inexistente que foi incensado a uma posição de influência próxima a exercida por Golbery do Couto e Silva (1911-1987) em diversos governos militares, foi preso.

A diferença entre as duas figuras é que Golbery foi um dos arquitetos da política de distensão que levou ao fim da ditadura, enquanto o sorocabano foi preso por suas atividades que, segundo as investigações, tinham como objetivo subverter o estado de direito e a democracia brasileiras, numa quartelada típica das frágeis repúblicas sul-americanas.

Dentre as idiossincrasias de Martins, o costume herético de fazer citações religiosas descontextualizadas para sugerir que seu governo teria um mandato divino, como de um faraó do Antigo Egito, do qual Moisés conduziu o povo escolhido para bem longe. Como aprendemos com esse grande profeta, melhor vagar quarenta anos em busca da Terra Prometida do que carregar pedras nas costas para um autocrata.

O assessor para assuntos internacionais foi, de fato, o chanceler do Brasil. Ernesto Araújo, colocado no cargo por sua devoção ao olavismo, costumava se curvar para cumprimentar Filipe Martins, a quem tratava como “professor”. É de sua lavra a política de alinhamento automático e unilateral com Donald Trump, o que levou a momentos vergonhosos como quando Bolsonaro disse “I love you” para o ex-presidente americano na frente das câmeras.

Filipe tinha teses golpistas antes mesmo de assumir o poder. Durante a famigerada greve dos caminhoneiros de 2018, durante o governo Michel Temer, ele chegou a comparar o movimento com um “Boston Tea Party” brasileiro, numa referência a um dos eventos mais importantes do processo de independência dos EUA ocorrido em 1773.

Quando Bolsonaro venceu as eleições, Martins foi às redes sociais dizer “Deus vult!” (“Deus quer!”, em latim), expressão associada às Cruzadas e que havia sido transformada em meme pela direita trumpista durante a campanha presidencial americana de 2016.

A partir de 2019, assumiu um lugar cativo na sala do presidente da república, no Palácio do Planalto, o que chegou a gerar constrangimentos até com alguns de seus apoiadores que se sentiam incomodados pelo tamanho da influência de um rapaz quase sem experiência profissional e que tinha como credenciais apenas ser um seguidor fiel de Olavo de Carvalho desde a adolescência.

A partir daí, muitos bolsonaristas adotaram a estratégia de se comunicar em latim ou com versos bíblicos, como a deputada Carla Zambelli que, logo após o falecimento de Gustavo Bebianno, publicou um tweet que dizia “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Isaías 14:24 Todos que se colocarem contra o projeto de Deus serão flechados e voltarão, naturalmente, às suas origens”.

O próprio Filipe voltou a usar o expediente em diversas ocasiões e o tom messiânico de suas postagens era seguido também por pastores neopentecostais como Silas Malafaia, um dos mais ardorosos seguidores de Bolsonaro, e que não tinha qualquer constrangimento em atacar os opositores do governo e o judiciário como se fossem representantes do mal numa guerra santa.

Num arroubo, Malafaia citou, ao lado de um constrangido Bolsonaro em 2018, uma passagem da primeira carta de São Paulo aos Coríntios: “Deus escolheu as coisas loucas, para confundir as sábias. Deus escolheu as coisas fracas, para confundir as fortes. Agora a coisa vai ser mais profunda: Deus escolheu as coisas vis, de pouco valor, as desprezíveis, que podem ser descartadas, as que não são, que ninguém dá importância, para confundir as que são, para que nenhuma carne se glorie diante dele. É por isso que Deus te escolheu.” Somos quase tentados a concordar.

Bolsonaro está no terceiro casamento e tem filhos que muitos teriam dificuldade de associar ao cristianismo, especialmente em temas de costumes que são tão caros aos evangélicos e aos bolsonaristas mais fieis, mas nada disso parece importar quando se reza para pneus ou se usam celulares para chamar a atenção de extraterrestres. Na vida real, como presidente, Bolsonaro recusou o convite do papa Francisco para a canonização da primeira santa brasileira e, no mesmo dia da cerimônia no Vaticano, estava sendo ungido por Edir Macedo.

A grande lição política do bolsonarismo não foi combater o petismo, cujos abusos devem evidentemente ser combatidos, mas a maneira como se combate, que deve ser com inteligência, coragem e integridade. Como diz o meu versículo preferido de toda Bíblia, “não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12,21).

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