“A nossa Polícia” e a dos outros
Por que a crítica de Rogério Marinho ao governo Lula no caso do INSS ilustra o Brasil

Em comissão no Senado nesta quinta-feira, 15, sobre fraudes no INSS, o senador Rogério Marinho (PL-RN) criticou os representantes do governo Lula por tratarem órgãos de Estado como se fossem deles, a fim se apropriarem do crédito da investigação iniciada pela imprensa.
Ele também rebateu a declaração feita pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, em bate-boca com o senador Sergio Moro, de que “foi nosso governo que chamou a Polícia”.
“A preocupação que nós temos aqui nesse momento é mostrar que ou o governo [Lula] prevaricou, ou o governo foi incompetente.
Não dá pra engolir você aumentar de 2 milhões de associados para 9,5 milhões; e o governo fazer determinadas afirmações aqui, que foram repetidas pelos líderes: ‘A nossa Polícia’ (Federal), ‘a nossa AGU’ (Advocacia-Geral da União), ‘a nossa CGU’ (Controladoria-Geral da União).
Senhores, por favor, deixem de confundir o público com o privado. Vocês já fizeram muito mal ao país. A CGU e a AGU são órgãos do Estado brasileiro. Estado, nem de governo. Apesar da indicação ser do presidente da República.
Quem chamou a polícia, nobre ministro, não foi Vossa Excelência, nem o governo de Vossa Excelência. O processo foi instaurado em função da notícia dada pelo site Metrópoles, tá dentro dos autos do processo. Então, eu peço que Vossa Excelência não continue a repetir essa afirmação, que ela não é verdadeira”, disse Marinho na audiência pública da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor, uma preliminar da CPI do roubo dos aposentados.
A essência da fala do senador estava no meu artigo “Entenda fraudes no INSS, narrativas do governo Lula e papel do jornalismo”.
Marinho, que foi ministro do Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro, está coberto de razão sobre o governo Lula.
O único detalhe é que Bolsonaro falava (e eu, Felipe, ao contrário de Marinho, igualmente criticava em público) “minha PF”, “minha Marinha”, “meu Exército”, “minha Aeronáutica”. Só parou quando deixou o governo, ou pouco antes, nos dois últimos casos, já que os então comandantes do Exército e da Aeronáutica recusaram aderir a um golpe de Estado travestido de medida constitucional, quando foram consultados pelo então presidente.
“A minha PF vai pra cima de quem tiver fazendo besteira aí com essa grana, hein”, disse Bolsonaro em 29 de abril de 2020, sobre o uso de verbas federais pelos estados na pandemia.
“Mas o meu Exército jamais irá às ruas para mantê-los dentro de casa. O meu Exército, a minha Marinha e a minha Aeronáutica jogam dentro das quatro linhas da Constituição”, disse Bolsonaro em 7 de maio de 2021, ao atacar o isolamento social.
São só dois exemplos entre outros tantos, compilados em vídeo por O Antagonista.
Bolsonaro usava essa retórica para posar de capitão em defesa do povo e da liberdade.
O governo Lula usa essa retórica, de modo mais dissimulado, para conter o desgaste em razão dos crimes ocorridos no próprio governo, tentando levar o crédito pelo combate deles.
Que todos os políticos, em todos os governos, deixassem de “confundir o público com o privado”, retoricamente, já seria alguma coisa.
Mas o maior problema – talvez o maior do Brasil – é a “confusão” prática permanente: o uso do Estado para enriquecer a patota, abafar escândalos, intimidar críticos, perseguir adversários e/ou perpetuar-se no poder.
Leia também: Entenda fraudes no INSS, narrativas do governo Lula e papel do jornalismo
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Comentários (2)
FRANCISCO JUNIOR
15.05.2025 23:04Perfeito Felipe. Enquanto eu lia o começo do texto, eu pensava exatamente o que você falou em seguida: tudo o que ele fala é correto, porém quando era o Bozo que falava meu exército ele não reclamava.
Wilde Vargas de Castro
15.05.2025 20:55A cada dia o sentimento de frustração cresce. Até onde nosso país poderá sustentar esse descalabro no. Isso vem desde o primeiro mandato de Lula, passando por Dilma e Bolsonaro, agora com Lula de novo. Quem será o próximo ?