A libertação do jornalismo

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Felipe Moura Brasil
4 minutos de leitura 01.08.2024 15:05 comentários
Análise

A libertação do jornalismo

O caso de Vladimir Kara-Murza, agora livre, deveria inspirar jornalistas brasileiros

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Felipe Moura Brasil
4 minutos de leitura 01.08.2024 15:05 comentários 0
A libertação do jornalismo
Foto: Reprodução

Em 26 de abril de 2023, logo após uma das várias ocasiões em que a casta brasileira tentou me desqualificar e calar por trazer à tona verdades inconvenientes, publiquei um artigo sobre o caso de um jornalista russo perseguido pela ditadura de Vladimir Putin.

Seu nome é Vladimir Kara-Murza, de 42 anos, um dos presos agora libertados para viver nos Estados Unidos, em razão do acordo entre o Kremlin e o governo de Joe Biden, comemorado pelo presidente americano em nota divulgada nesta quinta-feira, 1 de agosto de 2024.

Alexei Navalny, opositor também citado em meu texto, acabaria morto, aos 47 anos, em colônia penal do Ártico, em fevereiro de 2024, o que levou uma multidão ao funeral, onde vários de seus apoiadores criticaram o regime e foram presos. Já em relação a Yevgueni Roizman, outro citado, a Procuradoria russa se limitou a pedir uma multa de 260.000 rublos (pouco mais de 3 mil dólares), sem condenação à prisão.

Nesses tempos de ditadores e cleptocratas, bem como de vassalagem no mercado da comunicação, convém lembrar aquele artigo, em defesa do jornalismo independente e da liberdade de vigiar o poder.

Segue abaixo:

A contestação de ficções coletivas
(Felipe Moura Brasil, 26/04/2023)

“Não só não me arrependo de nada, como eu tenho orgulho disso.”

Foi o que disse o jornalista Vladimir Kara-Murza, condenado por um tribunal russo em 17 de abril a uma pena de 25 anos em prisão de alta segurança, sob acusação de “traição”.

Seu “crime” foi criticar a agressão da Rússia à democracia ucraniana. A sentença mais dura já proferida no país comandado por Vladimir Putin contra um crítico de guerra ilustrou a crescente repressão do Kremlin à vigilância.

“Estou preso por minhas visões políticas. Por falar contra a guerra na Ucrânia. Por muitos anos lutando contra a ditadura de Putin”, declarou Kara-Murza durante audiência na semana anterior, quando se disse orgulhoso de seus posicionamentos.

Ele não é o único. Dois dos principais opositores russos, Alexei Navalny e Yevgueni Roizman, começaram a ser julgados hoje, 26/4.

Navalny denunciou como “absurdas” as acusações contra ele por “extremismo” e falou em “paródia cínica” da Justiça, que, a pedido do Ministério Público, pode condená-lo a 35 anos de prisão neste processo. 

Em 2021, quando voltou à Rússia após ter sido tratado na Alemanha por um envenenamento que atribuiu ao Kremlin, ele escreveu nas redes sociais sobre seu retorno: “Fiz isso e não me arrependo nem por um segundo”, “é o nosso país e não temos outro”, “não tenham medo”. Desde então, ele vem cumprindo uma pena de oito anos por outro caso, de alegada “fraude”.

Sua condenação provocou uma onda de repúdio internacional e novas sanções ocidentais contra Moscou. “A voz de Navalny é a voz de muitos russos e deve ser ouvida, não amordaçada. Os EUA não descartam qualquer resposta se algum dano for feito a ele”, chegou a dizer o secretário de Estado americano, Antony Blinken. A defesa agora suspeita que Navalny esteja sendo envenenado na cadeia e pede exames toxicológicos e radiológicos.

Já Roizman, acusado de “desacreditar o exército” russo no contexto da guerra na Ucrânia, repetiu nesta quarta-feira que é inocente. Quando criticou Putin pela invasão, ele disse ter consciência de que poderia ser preso a qualquer momento e chegou a ser detido em agosto de 2022. Mas foi libertado e aguarda o julgamento que pode resultar em uma pena de três anos de prisão.

Contestar ficções coletivas impostas de cima rende punições estatais em regimes autocráticos e retaliações veladas em pretensas democracias, ou cleptocracias. Por isso, relembro trechos do filósofo austríaco Eric Voegelin no livro Hitler e os alemães, citados em 2020 no meu artigo “Dom Bolsonaro del Centrão”:

“Se há bastantes pessoas que acreditam em alguma parvoíce, ela se tornará uma realidade socialmente dominante, e quem quer que a critique coloca-se na posição do bufão que deve, então, ser punido.”

“Se a segunda realidade se torna dominante numa sociedade, (…) quem quer que não esteja alienado da primeira realidade pode apenas cometer alta traição.”

A rigor, nem é preciso que a parvoíce, ou segunda realidade, mais conhecida como realidade paralela, seja dominante no sentido de acreditada por “bastantes pessoas”.

Basta que pessoas poderosas a desejem como tal, para fins de exaltação de seus feitos, demonização de desafetos e controle de narrativas, que qualquer contestação da fantasia com elementos reais é vista como afronta ameaçadora, digna de todo castigo.

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