A falácia de Trump sobre deportação em massa
Nem se Elon Musk ajudasse com sua incrível Space X, o republicano lograria êxito em mais uma de suas bravatas politiqueiras
Passadas as eleições americanas, com a inquestionável vitória do republicano Donald Trump sobre a democrata Kamala Harris – regra três no antigo jargão do futebol, improvisada na última hora após a desistência forçada pela decrepitude natural do ainda presidente Joe Biden -, inicia-se a temporada de especulações políticas.
Na economia, por exemplo, as promessas trumpistas de apoio às criptomoedas fizeram a mais importante delas, o Bitcoin, saltar para quase 85 mil dólares (cotação deste início de tarde de 11 de novembro), bem como o otimismo com as empresas digitais impulsionou o índice Nasdaq, com especial destaque para a Tesla, de Elon Musk, amigão de Trump.
Uma das questões mais sensíveis durante a campanha, apontada por muitos como decisiva na vitória esmagadora dos republicanos, são os imigrantes ilegais. Trump anunciou seu diretor de imigração do primeiro mandato, Tom Homan, um conhecido “linha dura” e apelidado de “Czar”, novamente o responsável pelas fronteiras americanas.
Endurecer sem perder a ternura
Que a política de fiscalização – inclusive interna – será rígida, como foi na primeira passagem de Trump pela Presidência dos Estados Unidos, ninguém duvida. Mas daí para uma deportação em massa, como reiteradamente prometido, é pouco provável que ocorra, por uma série de motivos (políticos e práticos), e também de ordem econômica e legal.
A sanha persecutória do republicano, em primeiro lugar, será – como no passado – limitada pela independência dos estados. Governadores democratas irão se opor novamente, e não permitirão em seus administrados medidas por eles consideradas desumanas e afrontosas às leis estaduais. E este é só um primeiro detalhe, ainda que muito relevante.
Economicamente falando, temos de separar o assunto em duas partes. Custos: de acordo com o Conselho Americano de Imigração, o valor necessário para a deportação de um milhão de imigrantes ilegais giraria em torno de 90 bilhões de dólares. Trump promete mandar de volta 11 milhões deles, ou seja, quase um trilhão de dólares.
Nem com foguetes de Musk
Ainda sobre a economia, o impacto seria gigantesco na já atual falta de mão de obra em diversos setores, dentre eles agrícola, turismo, comércio e serviços em geral. Os Estados Unidos encontram-se no chamado “pleno emprego” e determinados postos de trabalho são preenchidos exclusivamente por imigrantes ilegais, que ganham menos e trabalham mais.
Questões relativas a Direitos Humanos são outro sério adversário para o plano de Donald Trump – se é que é mesmo um plano e não mera retórica de campanha. Seria necessária a construção de centenas de campos de detenção, assemelhados a campos de refugiados e, no limite da propaganda extremista que viria, “campos de concentração”.
Logisticamente, se tudo fosse adiante, não haveria meio de transporte disponível (ônibus, trem, avião, navio) para deportar – em quatro anos – 11 milhões de imigrantes ilegais, algo como 2.75 milhões de pessoas anualmente. Nem se Elon Musk ajudasse com sua incrível Space X, Trump lograria êxito em mais uma de suas bravatas politiqueiras.
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Comentários (1)
Raul Cesar Gottlieb
11.11.2024 15:27Independente da leitura da retórica do Trump, há que considerar que imigrante ilegal cometeu o crime doloso de ultrapassar ilegal e consciemente uma fronteira nacional. Penso que a deportação é o melhor remédio para este crime. Claro que é um remédio custoso, mas todos os remédios legais o são.