Brasil virou o vale-tudo do sindicalismo fake
Muita coisa demora demais no Brasil. Cobrança não. Os sindicatos já começaram a descontar contribuição de trabalhadores não filiados. Obviamente, começam a surgir as denúncias de exageros...
Muita coisa demora demais no Brasil. Cobrança não. Os sindicatos já começaram a descontar contribuição de trabalhadores não filiados. Obviamente, começam a surgir as denúncias de exageros. Há 15 dias, meu espírito de Mãe Dináh previu que a gambiarra do STF não daria certo. Só está começando.
A primeira gambiarra foi feita na reforma trabalhista, que não trouxe uma reforma sindical. Só se tirou a contribuição obrigatória, sem colocar no lugar um sistema sindical mais adequado aos novos tempos.
O resultado foi a queda de 98% na arrecadação. Foi corrigido com outra gambiarra, poder cobrar mesmo de quem não é filiado. E o pessoal está indo ao pote com uma sede impressionante.
A Folha de S.Paulo traz a denúncia de um sindicato em Sorocaba que resolveu cobrar contribuição de 12% de toda a categoria, inclusive dos não filiados. Claro que, como decidiu o STF, o trabalhador pode se opor.
Aí são criados todos os tipos de dificuldades para essa oposição. Precisa ser em papel manuscrito, ser levada pessoalmente, o prazo é exíguo, chega lá e tem uma fila imensa, tudo aquilo que você já sabe. Mas aqui tinha a cereja do bolo: uma taxa de R$ 150 para não ter de pagar a taxa do sindicato.
O sindicato argumenta que houve a oportunidade de votar contra a taxa em maio, na assembleia. A data teria sido divulgada nos principais jornais. Sabemos como funciona. Marca numa quarta à tarde, quando ninguém pode, não avisa a categoria, publica num jornal escondido para dizer que era público e só os mesmos de sempre decidem tudo.
Alguns estão dizendo que é um vale-tudo do sindicalismo no Brasil. Eu discordo. Nem tem mais sindicalismo no Brasil. Pode haver uma ou outra exceção que justifique a regra.
O sindicalismo acabou a partir do momento em que se tornou um mero trampolim para a carreira política. Para o sindicalista, pouco importa se ele representa ou não a categoria, importa se viabilizar para o mundo político.
Há um descolamento entre os interesses dos trabalhadores e o dos sindicalistas. É assustador o número de sindicalistas profissionais aboletados em cargos no governo, na presidência de partidos e em todas as áreas da política. Não chegam lá porque conseguiram grandes conquistas para suas categorias, mas porque se aproximaram do universo político.
Políticos e empresários andam de mãos dadas. Se quer ascender politicamente, não pode ter problema real com empresário; no máximo, pode essa demagogia à la Lula, da boca para fora. É um conflito de interesses claro em que a corda arrebenta do lado mais fraco.
Os trabalhadores não se sentem representados pelos sindicatos e, desconfio, têm até raiva. É por isso que aproveitam qualquer possibilidade de não contribuir e tomar o máximo possível de distância. Os sindicalistas, por outro lado, não parecem preocupados com o que os trabalhadores querem ou deixam de querer.
Começou a festa da arrecadação. Não é um vale-tudo de sindicalistas, já que boa parte se intitula assim, mas não age na defesa dos interesses da categoria que representa. O que criamos é um paraíso do sindicalismo fake.
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